A elucidação do assassinato do bebê de um ano e dois meses Emanuel Alessandro Costa dos Santos, morto após levar dois tiros em 2 de fevereiro na Vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, levou a Polícia Civil a elucidar uma série de outros crimes que vinham sendo praticados pela associação criminosa envolvida na execução da criança.
Responsável pelas investigações, o titular da 1ª Delegacia Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Guilherme Gerhardt, afirma que a ordem do ataque, que deixou outras quatro pessoas feriadas, partiu de dentro do sistema penitenciário gaúcho. O objetivo dos criminosos era vingar a morte do traficante João Carlos da Silva Trindade, conhecido como Colete, ocorrida em 2018 e que atuava na vila.
Dez pessoas foram indiciadas por homicídio no inquérito que investiga a morte de Emanuel. Destas, cinco são mandantes, que deram ordem de dentro das cadeias. Um sexto é elo entre presidiários e executores, responsável por organizar o grupo. Os outros quatro são os que executaram o bebê. Dos 10 criminosos, oito estão presos e dois seguem foragidos: Anderson da Luz Liscano, 27 anos, o Alemão, e Gilberto Roldão Bueno, 43 anos, o Foguinho. Ambos são apontados pela polícia por estarem entre os quatro executores.
— Ao aprofundarmos a investigação, nos deparamos com uma associação criminosa voltada ao tráfico. Foram diversos crimes conexos que começaram a aparecer. É um grupo que se reúne há longa data para praticar ilícitos. Uma associação criminosa duradoura, que se prolonga ao longo do tempo. Com indícios que tem hierarquia e funcionalidades bem definidas. Praticam tráfico de armas, tráfico de drogas, roubos, receptação de veículos, estelionato e homicídios. Fazem um passeio pelo Código Penal e lucram com a prática de ilícito — detalha Gerhardt.
Segundo o delegado, os criminosos usavam a vingança como justificativa para retornar ao local, roubar os traficantes rivais, matar e retomar o rentável ponto de tráfico na vila. No final da tarde do dia 2 de fevereiro, um grupo de moradores conversava na calçada no acesso a um dos becos da Vila Maria da Conceição quando foi surpreendido. Um criminoso desembarcou do banco traseiro de um veículo, com o rosto coberto por uma camiseta, e atirou na direção deles. Cinco pessoas acabaram baleadas, entre elas Emanuel, que estava no colo da mãe. O menino morreu na hora.
— Eles tinham alvos preferenciais, que era sequestrar os traficantes locais pra que os levassem aos esconderijos de drogas e conseguissem efetuar roubo de drogas, armas e dinheiro. Mas a ordem era para não perder a viagem. Se eles não estivessem nos locais, morreria quem estivesse ali de forma aleatória — afirma o delegado.
A investigação revelou que criminosos ingressaram na vila a bordo de um automóvel roubado. Dois dos indiciados foram removidos para presídios federais durante a Operação Império da Lei, no começo de março, justamente por serem os líderes mais importantes e perigosos, segundo o delegado.
De acordo com Gerhardt, além dos 10 indivíduos que tiveram ligação direta com a morte de Emanuel, outros três homens, que realizaram o apoio logístico para a facção mas não tiveram relação com o homicídio, também foram identificados como associados ao grupo. Dois deles já estão presos, por outros crimes, e terão solicitação de prisão preventiva. O terceiro é Hurinythan dos Santos Aparício, 24 anos, o Iuri. Ele teve prisão temporária decretada, mas não foi localizado. A sua prisão preventiva também será solicitada.