Vingar a morte de comparsas é a principal linha de investigação da Polícia Civil para prender os responsáveis pelo ataque brutal que matou um bebê de um ano e dois meses na zona leste de Porto Alegre na tarde de domingo (2). Os atiradores seriam de uma facção que atua no bairro Jardim Carvalho, onde dois homens foram executados na véspera. Emanuel Alessandro Costa dos Santos, que nada tem a ver com essa disputa pelo tráfico de drogas, estava no colo da mãe, na entrada de um beco da Vila Maria da Conceição em meio a amigos, quando um carro ainda não identificado se aproximou por volta das 17h30min.
Desceu do banco traseiro um homem com o rosto coberto por uma camiseta. Sem aviso prévio, atirou em quem estivesse pela frente, sem distinguir crianças e adultos. Matou Emanuel e baleou outras quatro pessoas, dois homens e duas mulheres com idades entre 19 e 39 anos, todos sem antecedentes criminais.
— A gente estava parado na calçada conversando, uns sentados, outros em pé, dando risada. Somos todos amigos. Esse é nosso lazer. Ali rola até churrasco. Nenhum dos que estavam trafica nada — conta uma moradora de 42 anos, prima de Emanuel.
Ela lembra que a mãe do bebê chegou a estender, na direção do atirador, os braços que carregavam o filho, pedindo clemência, mas não foi ouvida. Pelo menos dois tiros acertaram a criança, que acabou morrendo no hospital.
— A mãe dele é muito cuidadosa. Quando alguém comprava pirulito para o Emanuel, ela mastigava bem antes de dar com medo de ele se engasgar. Eu brincava dizendo que só sobrava baba para o menino. Agora, ela perde o filho desse jeito, em um ataque desses — lamenta a prima.
Emanuel foi enterrado às 11h desta segunda-feira (3) no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.
O delegado Guilherme Gerhardt, titular da 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa, disse que dois veículos foram apreendidos depois do ataque e serão periciados para saber se algum foi utilizado no crime. Imagens de câmeras de segurança estão sendo buscadas para identificar o veículo, inicialmente descrito como um HB20 branco ou prata. Ainda não há suspeitos.
— A principal hipótese é retaliação ao duplo homicídio no Jardim Carvalho, porque o grupo já chegou no beco atirando sem alvo definido. Como se quisesse dar uma resposta — pontuou o delegado.
Mulheres receberam alta
Atingidas pelo atirador, as duas mulher de 22 anos e 31 anos tiveram alta nesta segunda-feira (3). Quem viu a investida dos criminosos, conta que a mais nova delas tentou proteger seus filhos de dois, quatro e cinco anos que estavam no grupo. Abraçou os pequenos e correu para dentro do beco, mas foi atingida no pé e na perna antes de cair. O trio conseguiu escapar ileso. Os dois homens seguem internados. Um deles sem gravidade. O outro, conforme a casa de saúde, apresentou melhora do quadro clínico. Ele é tio do bebê.
Dois policiais foram mortos na vila em 2019
A poucos metros da entrada do beco, em outra viela, dois policiais militares e um criminoso morreram em 26 de junho do ano passado em um tiroteio. Na época, quatro policiais teriam entrado na vila para uma abordagem de rotina quando foram recebidos a tiros por dois homens que estavam em cima do telhado de uma casa. Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, chegaram a ser encaminhados ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde o clima era de comoção, com presença de pelo menos 15 policiais fardados na casa de saúde, mas não resistiram. Eles faziam parte do 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM).