A Polícia Civil finalizou na manhã desta terça-feira (19) mais uma etapa de uma investigação de dois anos sobre lavagem de dinheiro realizada por uma facção que tem base no Vale do Sinos e é responsável pelo ingresso de 10 toneladas de cocaína por ano no Rio Grande do Sul. A ação foi em parceria com o Ministério Público (MP). Foram cumpridas mais de 300 ordens judiciais com apreensão de bens no Estado e em Santa Catarina avaliados em R$ 16,1 milhões, além de 10 suspeitos detidos. Dois são líderes do esquema criminoso que conta com uma fazenda — alvo de apuração paralela — no Mato Grosso com quase três vezes o tamanho da área de Porto Alegre.
Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), a propriedade rural fica em um município próximo à fronteira com a Bolívia, tem pista de pouso para aeronave e foi avaliada em R$ 42 milhões. O local, que está em nome de um laranja ligado a um dos responsáveis pela facção, tem cerca de 140 mil hectares — Porto Alegre tem 49,6 mil hectares.
— Este é mais um tipo de lavagem de dinheiro desta organização criminosa que também adquire veículos de luxo e até empresas para lavar o dinheiro do tráfico de drogas e armas. Por enquanto, não vamos divulgar nomes e locais, como a região desta fazenda, por questões de segurança e porque a investigação continua — explica.
Nonnenmacher, que também usa a Lei de Abuso de Autoridade como justificativa para não repassar mais detalhes, investigou o grupo junto com o delegado Filipe Bringhenti, do Gabinete de Inteligência e Estatística (GIE).
Lavagem de dinheiro
Além da fazenda que está sendo investigada, foram apreendidos outros imóveis, bem como veículos. Foram bloqueadas contas bancárias, determinada quebra de sigilo fiscal e identificada uma rede de operadores financeiros com 69 pessoas físicas e jurídicas. Para lavar dinheiro do tráfico de armas e de drogas, o esquema tem várias etapas e usa várias pessoas — laranjas — para movimentação financeira e, com isso, dificultar o rastreamento das autoridades. Por isso, a investigação se dividiu em duas partes para seguir os passos de duas células criminosas comandadas por três líderes.
Nonnenmacher apurou as movimentações financeiras da primeira célula, com dois líderes. No ano passado, em outras duas operações contra o mesmo grupo, em junho e dezembro, conseguiu apreender bens avaliados em R$ 15 milhões. Na ocasião, os líderes eram de outra célula do esquema. Os dois alvos de agora do Denarc são dois homens de 51 e 50 anos com antecedentes criminais por tráfico e homicídio.
Um deles foi detido para averiguações nesta terça-feira em uma mansão na cidade de Novo Hamburgo. Ele estaria descumprindo prisão domiciliar, que deveria ser em Santa Catarina. O outro havia sido detido recentemente no Mato Grosso do Sul com cerca de 1,6 tonelada de maconha.
Os dois alvos são considerados de alta periculosidade, são da segunda geração de fundadores da facção gaúcha e mantêm contato com líderes de grupos da Região Sudeste e de outros países, inclusive agiam desde os anos 1990 com o cartel de Cali, na Colômbia. Foram presos em flagrante quatro integrantes desta parte do grupo.
A outra célula foi investigada por Bringhenti e conta com um líder, de 36 anos. Ele e mais cinco suspeitos foram presos presos preventivamente. Conforme a polícia apurou, o investigado tem um grande patrimônio em nome de laranjas e foi localizado em uma residência em condomínio de luxo em Porto Alegre. O imóvel foi avaliado em cerca de R$ 3 milhões. A localização não foi divulgada.
Imóveis e veículos
Uma das formas de lavagem de dinheiro é a aquisição de bens. O grupo mantém a fazenda no Mato Grosso, um dos líderes de uma célula foi preso em mansão em Novo Hamburgo e o outro possui residência de luxo na Capital. Ao todo, foram apreendidos judicialmente 29 imóveis. Nesta nova fase da investigação de dois anos, que culminou com a Operação Magna Ópera deflagrada nesta terça-feira, também foram apreendidos 23 veículos. Alguns dos carros são de luxo. Todos foram confiscados e serão periciados. Nas outras duas ações do ano passado, foram apreendidos mais de 10 automóveis e sete imóveis.
Empresas
A facção montou ou adquiriu cerca de 20 empresas de fachada com o dinheiro do tráfico, todas investigadas. Além de lavar dinheiro do crime, parte do lucro dos empreendimentos era usada para financiar a compra de drogas e armas. Assim como as empresas, 41 contas bancárias foram abertas em nome de laranjas. Todas elas foram bloqueadas pela Justiça e ainda não se sabe o valor depositado nelas. Ao todo, foram 60 mandados de busca, mas também houve 138 quebras de sigilo bancário, fiscal e bursátil (investimentos dos traficantes em bolsas de valores).
A investigação contou com participação do MP, através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado e do Núcleo de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro. O subprocurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, ressalta que o resultado se dá em consequência da relevante integração operacional do órgão com a Polícia Civil, especialmente no combate ao crime organizado, atuando juntos desde o início, passo a passo.