Com táticas de antecipação à ação criminosa, a Brigada Militar (BM) acrescentou uma estratégia no combate aos bandos que atacaram duas agências na madrugada desta sexta-feira (6), em Paraí, na Serra: o efeito surpresa. De acordo com relato de quem foi acordado em meio ao intenso tiroteio, os policiais se posicionaram estrategicamente em área desocupada ao lado de um restaurante, tendo como proteção arbustos que fazem espécie de cerca viva com o terreno vizinho.
— Trabalhei até a 1h, fui pra casa e logo depois vi a movimentação. Quando olhei para o meu restaurante, vi que havia uns policiais do lado. Achei que eram ladrões. Forcei o olhar e notei que tinha alguns de fardas (da BM) e outros não — relata um comerciante, que pediu para ter seu nome preservado por segurança.
Vizinho ao estabelecimento comercial, um funcionário público de 42 anos saiu de casa ao ouvir barulhos que, segundo ele, pareciam de um transformador de luz em curto-circuito.
— Sai e vi policiais armados e abaixados ali, alguns deitados — relembra o morador de Paraí, apontando para o local já citado, onde a brita amanheceu misturada a estojos de balas.
No Banco do Brasil, na Avenida Castelo Branco, os assaltantes foram surpreendidos pelos policiais e reagiram. Eles morreram dentro da agência. Cerca de cinco minutos depois, houve novo confronto no Sicredi, na Rua Sete de Setembro.
Na agência do Sicredi, haviam policiais monitorando a movimentação. Ao notar a presença dos brigadianos, dois tentaram fugir pelos fundos do prédio, que abriga imóveis comerciais e residenciais. Eles teriam atirado contra os policiais. Houve a tentativa de invadir uma oficina, conforme contou um mecânico que vive no mesmo imóvel onde trabalha.
— Ainda bem que não entraram, imagina o que ia ser — exclama, em um misto de alívio e apreensão pelo fato incomum na cidade.
Os outros dois não chegaram ao estacionamento. Na escadaria de acesso a uma clínica dentária foram encurralados e mortos. Um deles vestia roupas da Polícia Civil.
O titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado João Paulo de Abreu, afirma que o relato dos moradores a GaúchaZH coincide com o que foi colhido nos depoimentos na DP.
— É bem possível que a dinâmica tenha sido essa. Com certeza, eles (policiais militares) atiraram de lá pra cá — diz, apontando para o lado oposto ao banco onde três criminosos foram mortos.
12 cidades
Na calçada, ao lado do terreno onde estariam os policiais, inúmeras cápsulas foram recolhidas pela perícia. Os tiros provocaram falhas na pintura branca.
— Os policiais recebem o treinamento para saber como usar melhor o efeito surpresa: como abordar, como chegar e atuar da maneira mais efetiva possível — reitera o subcomandante-geral da BM, coronel Vanius Cesar Santarosa.
Os PMs que participam de tiroteios como o de Paraí são encaminhados para avaliação psicológica, na tentativa de evitar um possível trauma.
Em um trabalho feito desde o ano passado, o setor de inteligência da Brigada Militar identificou 12 cidades — entre a Serra e a Campanha — onde grupo criminoso planejava novo ataque. Os municípios listados passaram a contar com efetivo extra. Na tarde de quinta-feira (5), veio a confirmação de que haveria incursão dos criminosos na Serra, fator determinante para a chegada do reforço.
— A viatura circula próximo aos bancos. E não foi diferente ontem, nas cidades em que tivemos essa informação privilegiada. Aí imagina, o policial vê três pessoas dentro do banco. Ele aciona o reforço e em minutos os bandidos estão cercados — finaliza o coronel Santarosa.
Em situações de confronto com morte, a Polícia Civil abre investigação para analisar a atuação dos agentes de segurança. No caso desta sexta-feira, João Paulo de Abreu reforça que a presença do efetivo no local evitou a possibilidade de os moradores sofrerem maiores consequências:
— Certamente o emprego rápido dos policiais evitou aquilo que já vimos em outras ocasiões, de cordão humano feito com quem passasse pelo local.