Nas rodas de conversa de quem observa o movimento atípico das ruas ladrilhadas, não há lembrança de um dia tão violento. Os moradores de Paraí, município com cerca de 7,5 mil habitantes na Serra, tiveram a tranquilidade interrompida de forma abrupta na madrugada desta sexta-feira (6), quando mais uma centena de disparos começou a ser disparada poucos minutos antes das 2h.
— Foi tiro, tiro e tiro. Olhei para o Banco do Brasil e vi a Brigada escondida nos arbustos. Atiraram, e os caras revidaram. Deu cinco minutos, começou no Sicredi — lembra um empresário que, de casa, assistiu à ação que terminou com sete criminosos mortos em confronto com a polícia, na área central da cidade.
Durante o ataque, quatro dos assaltantes tentaram fugir, invadindo o estacionamento de uma loja de móveis, nos fundos de uma das agências bancárias. Cercados, correram em direção a uma oficina mecânica.
— Antes de entrar a polícia falou para eles se renderem, gritando "perdeu, perdeu", e eles atiraram de volta — conta o dono do estabelecimento.
No entorno dos bancos atacados, inúmeros carros apresentavam marcas de tiros e pneus furados pelas balas trocadas entre as forças de segurança e os bandidos. Uma senhora de 71 anos, que vive em um apartamento em cima de uma das agências, conta que se escondeu no banheiro durante a ação.
— Meu filho é sargento e sempre me diz: "Mãe, tu mora em cima de um banco. Se ouvir algum tiro, te esconde no banheiro". E eu fiquei lá, esperando — relata, da sacada do imóvel, enquanto observava o trabalho da perícia.
Na calçada, um pote de vidro repleto de miguelitos comprova a organização do bando para uma possível perseguição, que não ocorreu pela antecipação da operação da polícia — que possuía informações sobre um possível ataque na região.
Durante a manhã, ao menos cinco quadras do centro da cidade estavam isoladas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Brigada Militar. Próximo das 10h, um robô foi utilizado pela Polícia Civil para retirar as mochilas que permaneciam dentro do Banco do Brasil. Como as bolsas poderiam conter explosivos, elas foram recolhidas e levadas a uma área segura.
Uma sequência de lojas ficou com buracos de bala nas fachadas. Em outras, os disparos estilhaçaram as portas de vidro. Desacostumada com ocorrências como a desta sexta-feira, uma estudante pensou tratar-se de uma briga.
— Só me dei conta quando ouvi a polícia gritando “levanta as mãos”, e os tiros logo depois. Foi tudo muito rápido.
A tranquilidade de Paraí pode ser exemplificada no caso de um dos empresários da cidade: dono de um restaurante aberto há três décadas e morador da mesma quadra onde aconteceu o confronto, afirma nunca ter sido assaltado.
— Foi aterrorizante. A gente não é acostumado. Cidade pequena, às dez da noite não se ouve mais nada. Eu estou bem assustado.
Conforme o delegado João Paulo de Abreu, titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), pistolas, submetralhadora e espingardas foram encontradas nas agências. Também havia material explosivo nos dois bancos, que não chegaram a ser detonados.
— Eles entram com marretas, quebram as vidraças e depois forçam os caixas com pés-de-cabra. Pelo que vimos inicialmente não deu tempo de acessar nenhum terminal para retirar o dinheiro — explica.
Comandante-geral da BM, Rodrigo Mohr Picon informou que 32 agentes participaram da ação, prestando apoio a partir dos municípios de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Foi utilizado ainda efetivo de Passo Fundo.
— Temos condições hoje de dar uma pronta resposta aos criminosos — afirma.