Foi-se o tempo em que o próprio secretário de Segurança Pública determinava: a polícia deve avisar que vai atirar e só disparar em último caso. De preferência com um primeiro tiro para cima, como na orientação de um político gaúcho que ficou famoso por isso.
A morte de sete criminosos atingidos pela Brigada Militar (BM) numa tentativa de duplo assalto a banco na cidade de Paraí, na madrugada desta sexta-feira (6), mostra que, diante de suspeitos armados, as polícias decidiram partir para o confronto.
Fiz uma rápida pesquisa e identifiquei pelo menos oito episódios, em um ano e meio, em que três ou mais criminosos foram mortos pela BM. Foram cinco mortes de assaltantes em Trindade do Sul, quatro em Arroio dos Ratos, três em Caxias do Sul, seis em Ibiraiaras, três em Jaquirana, três em Estrela, três em Sério e, agora, sete em Paraí. Total: 34 envolvidos nos crimes, mortos.
Do lado dos que respeitam a lei teve um refém morto (em Ibiraiaras) e uma soldado da BM, atropelada por bandidos em fuga. Some-se a isso ainda um caso com três mortes numa barreira da Polícia Federal.
Duas constatações são evidentes. A primeira é a de que as polícias têm se antecipado à movimentação dos bandidos. Com uso de informantes e grampos telefônicos, esperam que os criminosos se aproximem do alvo (os bancos) e então os interceptam. Ao contrário do que um apressado poderia supor, isso é difícil: um jogo de xadrez, no qual o crime utiliza gírias, não fala de forma explícita e muitas vezes cancela planos de última hora.
A outra conclusão: a população adora o resultado.
Como jornalista, é necessário ressaltar que existem riscos nessa abordagem. O maior deles é a morte de inocentes no tiroteio. Em Ibiraiaras morreu um refém dos bandidos e o inquérito policial concluiu que o tiro partiu de um PM. Em outro episódio, envolvendo policiais federais, dois carros em fuga foram interceptados pelos policiais. Um bandido saiu ferido, mas morreram duas mulheres que o acompanhavam e uma criança, que nada tinha a ver com a fuga.
O fato é que pacotes de mortos, como os de Paraí, viraram rotina país afora. Nos últimos meses episódios iguais ocorreram em Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pernambuco. É um retrato do Brasil atual, pouco inclinado a tolerar nuances. A política de "atirar na cabecinha" saiu da boca do povão para virar frase orgulhosa de um governador, (Wilson Witzel, do Rio de Janeiro). Rende aplausos. Pelo menos enquanto nenhum inocente ilustre morre, obviamente.