Morador de Taquara, Paulo Luiz de Paula, 66 anos, tomou uma medida que desperta a atenção no município de 57 mil habitantes, no Vale do Paranhana. O empresário instalou junto à residência, no bairro Sagrada Família, duas placas, com alertas para o risco de deixar veículos estacionados naquela quadra. Cansado de ver outras pessoas terem os carros arrombados ou furtados, decidiu pela iniciativa quando a filha teve o automóvel atacado por criminosos, ao meio-dia.
— Foi a gota d'água. Ouvimos um barulho, eu disse: "Devem ser as crianças". No fim, era o sujeito que tinha quebrado o vidro do carro dela. Entraram pelo vidro lateral e levaram o estepe — recorda o empresário, sobre o fato que aconteceu em fevereiro de 2018.
Naquele período, Paulinho, como é conhecido na cidade, já havia se acostumado a encontrar no pátio objetos descartados pelos ladrões. A moradia está localizada na esquina das ruas Nelson Renck e Emílio Lúcio Esteves. Fica, por exemplo, a 200 metros da prefeitura, na área central. Como naquele ponto o estacionamento não é pago, os motoristas costumavam deixar veículos ali. Os ladrões aproveitavam o período em que havia pouca movimentação, próximo ao meio-dia, quebravam os vidros dos carros e arremessavam no jardim da família o que não pretendiam levar.
— Cansei de juntar bolsa de mulher vazia. Virou uma epidemia. Aconteciam dois a três casos por semana. Aquilo foi assustando a gente. Meus netos moram até hoje no outro lado da rua. Ficava preocupado quando eles vinham aqui — conta.
Nas proximidades da casa, há consultórios, laboratórios e o hospital da cidade. Mais um motivo pelo qual as pessoas costumavam deixar os automóveis ali. Um dos casos graves presenciado pela família envolveu uma idosa. A mulher aguardava dentro do carro pelo marido que havia ido a uma consulta. Um ladrão entrou no veículo e deu partida. A mulher apavorada começou a pedir ajuda e foi obrigada a descer logo depois.
— Foi aquela gritaria na rua. Empurraram ela para fora. E o marido chegou bem na hora, não encontrou o carro e nem a senhora. Houve outro caso em que o ladrão empurrou a mulher que estava com um nenê no colo, na chuva. Ela caiu com a criança, ele pegou a chave e foi embora — relata o morador.
Indignado com a série de casos, três dias após a filha ser vítima do furto, o empresário teve a ideia de instalar as duas placas vermelhas, com letras garrafais. A iniciativa repercutiu na cidade, gerou curiosidade — até hoje pessoas param para tirar fotos — , rendeu elogios, mas também críticas. Dois anos depois, garante que não está arrependido da medida que tomou. Com o alerta, segundo Paulinho, os casos reduziram nas proximidades da casa, embora sigam acontecendo no município.
— Fiz porque estava apavorado. Pensava que se isso continuasse, uma hora podia chegar alguém armado e dar um tiroteio. E nossa casa ali do lado. Uns apoiaram, outros criticaram. Mas no meu trechinho de rua consegui resolver. Acredito que é um direito nosso. Resolvi agir por minha conta — conclui o morador.
Crimes
De maneira geral, o número de casos de furtos de veículos vem reduzindo no município. Em 2017, ano que antecedeu a instalação das placas, foram 118 casos na cidade. No ano seguinte, houve redução de 31% (81 registros) e em 2019 caiu para 70 furtos. Já os roubos de veículos reduziram 31% entre 2018 e 2017 — de 76 para 52 casos —, mas aumentaram 30% no ano passado.
— Quando se fala em índices de criminalidade há duas perspectivas: a da comunidade que gostaria de ter índice zero, e a gente compreende, e a segunda é o comparativo. Em 2018, houve decréscimo no número de registros de furtos de veículos. No comparativo do mês de janeiro, os números estão praticamente iguais. Do ponto de vista comparativo, não há um alarme — afirma o delegado Vladimir Medeiros, interino da Delegacia de Polícia de Taquara.
Por outro lado, o policial admite que em relação aos roubos de veículos há preocupação. Em 2019, o município ocupou a 15ª posição no Estado no número de delitos desse tipo, com 68 casos. Crimes com emprego de violência ocupam as prioridades nas investigações. A polícia identificou em apurações recentes que ladrões de outras regiões migraram para o local para cometer assaltos.
— Isso inclui os roubos de veículos. Os números nos mostram que há necessidade de enfrentamento com prioridade desses crimes. E tem sido prioridade. Algumas prisões nos últimos meses tiveram justamente foco na investigação desses criminosos. Geralmente, o que identificamos é que esses grupos não são da cidade, mas de outras áreas como a Região Metropolitana — explica o policial.
O delegado alerta ainda para que as pessoas não deixem de comunicar os fatos à polícia, para que se possa identificar os grupos envolvidos e traçar estratégias de combate a esse tipo de delito.
Comandante da BM de Taquara, o capitão Juliano Cardoso Arali afirma que atualmente os casos de furtos e roubos de veículo no município se concentram principalmente nas rodovias. Pelo município passam três estradas: a RS 115, RS-020 e RS-239. Ainda assim, diz que a Brigada Militar tenta monitorar os horários e pontos de maior incidência para evitar novos crimes.
— O furto e roubo de veículo é um crime que afeta a comunidade. Temos buscado combater a ação desses criminosos, agindo conforme os horários e dias da semana com maior fluxo de ocorrência. Buscamos reforçar o efetivo nesses momentos para tentar inibir a criminalidade — afirma.
Conforme a prefeitura, as placas foram instaladas em área privada e, portanto, não houve necessidade de autorização do município. Sobre os crimes, o chefe do Executivo, Tito Livio Jaeger Filho explica que Taquara firmou parcerias e busca a ampliação do número de câmeras de vigilância a fim de reduzir delitos em geral.
— Felizmente, em nossa cidade estamos muito abaixo das estatísticas e os índices vêm diminuindo — argumenta.