Em junho de 2019, operação envolvendo 170 policiais e helicópteros tirou das ruas um homem que seria o responsável por dezenas de assaltos a ônibus em Porto Alegre. O suspeito lideraria quadrilha que atacava coletivos na zona sul da Capital e refugiava-se no Condomínio Princesa Isabel, no bairro Azenha.
Chamada de House of Pain, a ofensiva foi uma das ações da Delegacia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC) para tentar reduzir roubos a transportes públicos. Em 2019, houve queda de 34% nestes crimes em relação a 2018.
O líder desta quadrilha é um dos 85 suspeitos de cometer roubos em coletivos presos em 2019. No ano anterior, 79 haviam sido capturados, conforme o titular da DRTC, delegado Daniel Mendelski. As prisões são uma das causas apontadas pela polícia para a diminuição destes crimes de 1.416, em 2018, para 938, em 2019 – o menor número de casos dos últimos cinco anos.
Em média, foram cinco ataques a ônibus a cada dois dias na Capital em 2019. No ano anterior, eram quase quatro por dia. O pico foi em 2016, quando foi registrada média de oito crimes a cada 24 horas – total de 3.084 assaltos (veja abaixo).
Foi devido ao aumento expressivo naquele ano – houve crescimento de 44% em comparação a 2015 – que criou-se força-tarefa para investigar e tentar coibir os crimes, transformada em delegacia especializada em março de 2019. O esforço fez com que houvesse arrefecimento dos ataques em 2017 e, desde então, vem sendo verificada redução ano após ano.
– Entendo que o trabalho da força-tarefa, transformada em delegacia, e as ações constantes da Brigada Militar fizeram com que conseguíssemos reprimir crimes – diz o delegado.
Antes de haver a delegacia especializada, cada DP investigava crimes em sua área de atuação. Com isso, o ladrão acabava sendo indiciado apenas pelos casos naquele ponto da Capital. Com a DRTC, os casos passaram a ficar centralizados em uma só equipe, facilitando a responsabilização.
O delegado Daniel Mendelski explica que maior parte dos crimes não é cometida por quadrilhas como a desarticulada na operação House of Pain. Embora mais raro, os ataques realizados por grupos costumam ser mais organizados, com uso de armas e carros na fuga. Outro perfil de criminoso que age em coletivos é o do viciado, que assalta para conseguir dinheiro e comprar drogas.
— Geralmente, usa uma faca. Pega o dinheiro com o cobrador e desce do ônibus – afirma.
O outro tipo de ladrão de ônibus costuma ser usuário de entorpecente e assaltar em duplas ou trios – com frequência, é um casal – utiliza arma branca ou simulacro e leva, além do dinheiro do cobrador, pertences dos passageiros.
Para evitar crimes, a Brigada Militar, com apoio da Guarda Municipal e Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), realiza ações nos terminais e em coletivos. Suspeitos são revistados em busca de armas, facas e drogas. Conforme o tenente-coronel José Carlos Pacheco Ferreira, do Comando de Policiamento da Capital, as operações são planejadas a partir de dados da inteligência da BM. Ele destaca ainda o compartilhamento de informações entre as forças de segurança como fundamental para a redução dos índices.
Menor circulação de valores nos coletivos
O engenheiro de Transporte da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), Antônio Augusto Lovatto, diz que a criação da força-tarefa foi fundamental para a queda nos ataques:
— Alavancou os resultados. Antes, havia dificuldade de comunicação entre as delegacias. E a perspectiva é de que caia ainda mais o número de assaltos.
A implantação da bilhetagem eletrônica foi em 2008, mas o engenheiro da ATP entende que interferiu na queda nos crimes. A diminuição na circulação de dinheiro tornou os coletivos menos atraentes para os ladrões, no entendimento de Antônio. E novas medidas adotadas deverão colaborar para que haja redução de valores nos coletivos. A primeira, que segundo ele já está funcionando, é a recarga online. Dessa forma, a compra de créditos para o cartão TRI é feita pela internet e, em poucos minutos, está disponível. Antes, eram necessárias 48 horas para que a recarga fosse computada, obrigando pessoas a pagarem suas passagens com dinheiro.
— As pessoas estão se sentindo mais seguras dentro dos ônibus e ficam mais tranquilas para usar o celular. A queda é sistêmica e atinge todas as regiões da cidade — garante.
O delegado Daniel Mendelski concorda com o engenheiro da ATP ao afirmar que não há uma linha que desponte como a mais visada pelos criminosos. A polícia garante que os ataques acontecem em diversos pontos, variando conforme a localização dos criminosos que passam a agir nos coletivos.
Crimes em paradas preocupam usuários
Em dezembro de 2019, enquanto aguardava ônibus em parada do Jardim Leopoldina, na Zona Norte, Maria Souza, 60 anos, foi assaltada por dois homens armados. Como estava sem celular, entregou aos ladrões uma quantia em dinheiro que carregava na bolsa. O caso da mulher é uma amostra de que o receio dos passageiros não é em vão. Usuários ouvidos por GaúchaZH na Estação Parobé, no Centro, dizem ter mais medo da violência enquanto aguardam os ônibus do que quando estão dentro dele.
A professora Aline Nunes, 38 anos, havia acabado de entrar no ônibus que a levaria ao bairro Sarandi quando teve o celular levado por um ladrão há cerca de um ano. Ela embarcou no coletivo no Centro Histórico, sentou-se e pegou o telefone. Do lado de fora, o criminoso conseguiu colocar a mão pela janela e puxar o aparelho. Ela conta que chegou a sair do ônibus, mas não viu mais o homem.
— Agora evito usar o celular na rua e nas paradas. Só pego quando o ônibus já está andando — conta.
Cinco motivos para queda
- Criação da força-tarefa em 2016, transformada em Delegacia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC) em março de 2019
- Prisões de suspeitos por ataques a ônibus
- Parceria entre as forças de segurança
- Ações da Brigada Militar, chamadas de operação Transporte Seguro
- Bilhetagem eletrônica e recarga online