Moeda de fácil circulação, com a qual se pode adquirir dinheiro, drogas e até mesmo armas, o celular é o item mais visado quando ladrões atacam pedestres em Porto Alegre. Muitas vezes, segundo a polícia, os criminosos nem tentam levar outros pertences. Abordam a vítima, tomam o aparelho e fogem na sequência.
Celulares possuem, em geral, três destinos identificados pelas investigações. Um deles é a revenda a preços abaixo do mercado. Os aparelhos são repassados para a mão de pessoas, que fazem a venda de forma clandestina. É uma prática identificada frequentemente no Centro. Um celular que custa R$ 1 mil pode ser adquirido por R$ 200 ou R$ 250. Quem compra, motivado pelo baixo custo, fomenta a rede que se inicia com o assalto.
Quando o aparelho não pode ser vendido, por estar bloqueado por exemplo, o caminho é a destruição. O celular é desmontado e as peças são vendidas separadamente. São adquiridas por pessoas que fazem consertos. Outro caminho bastante comum é roubar para trocar em pontos de tráfico por drogas e até mesmo armas.
— Celular é moeda de troca para tudo — garante o tenente-coronel José Carlos Pacheco Ferreira, chefe interino do Comando de Policiamento da Capital (CPC).
Para obter o aparelho, ladrões se aproveitam dos horários de movimentação, como o fim de tarde, onde muitas vezes as vítimas estão cansadas e desatentas. Atacam tanto quando as pessoas caminham pela rua, como enquanto aguardam em paradas de ônibus.
— Lamentavelmente, temos um exército de criminosos na rua. Ficam circulando e aproveitam a oportunidade de desatenção da vítima — afirma o delegado Fernando Soares, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre.
Modo de agir dos criminosos
Em duplas ou trios, os assaltantes agem de maneira rápida e planejada. Enquanto um aborda a vítima, outros se aproximam e levam os pertences. Cercam a vítima, que é empurrada ou agredida. No Centro Histórico, a maioria utiliza facas para intimidar. Em uma abordagem policial, a arma de fogo pode resultar numa prisão em flagrante. A faca também pode ser escondida mais facilmente.
É frequente ainda que ladrões contumazes usem pontos de apoio. Estabelecimentos já foram inclusive alvo de operações policiais no Centro. O criminoso, em geral jovem e com antecedentes, comete o roubo, corre para o local, troca de roupa e retorna para as ruas pronto para novos assaltos. Para mudar de aparência e evitar a identificação por parte da vítima, usam bonés, capuz e outras roupas que possam trocar de forma ágil.
— O videomonitoramento tem nos ajudando bastante a identificar esses ladrões e a forma de ação deles. Se para as vítimas, a tecnologia pode atrapalhar, por deixa-las mais expostas, para o combate ao crime ela é aliada — afirma o tenente-coronel Pacheco.
Além de gerar prejuízo e trauma à vítima, o assalto a pedestre é um crime que preocupa as forças policiais por poder desencadear outro delito mais grave: o latrocínio. É quando o assalto resulta na morte da vítima. Para tentar minimizar essa possibilidade, o indicado, de maneira geral, é não reagir a abordagem.
— Quem está armado, a fim de levar até o fim, vai apertar o gatilho. Não tenha dúvida. Latrocínios acontecem de forma banal, sempre. Muitas vezes até mesmo sem a vítima reagir. Só o ato de a pessoa se assustar, pode levar um tiro ou uma facada. Então, não reajam — alerta o delegado Soares.
Como se proteger
- Ao sair de casa, não leve todos os documentos e cartões. Reúna os que serão necessários. Isso reduz o volume de itens transportados e, em caso de assalto, o transtorno será menor.
- Esteja atento ao seu redor. Uma pessoa distraída é um alvo mais fácil e pode inclusive fazer algum movimento interpretado como reação, se for abordada por ladrões.
- Evite andar sozinho, especialmente à noite, em locais pouco movimentados ou que considera arriscados.
- Se utilizar fones, mantenha o aparelho somente em um ouvido para conseguir perceber os outros sons no seu entorno.
- Bolsas e mochilas devem ser levadas em frente ao corpo e não nas costas. Isso pode inibir a ação do criminoso. Mantenha celulares e outros objetos de valor guardados.
- Se estiver na rua, em local que considera de risco, para utilizar o celular entre em algum estabelecimento como uma loja.
- A saída de agências bancárias pode ser um momento perigoso. Opte, quando possível, por usar terminais dentro de locais fechados: como galerias e shoppings.
- Se perceber que está sendo seguido, altere o caminho. Tente pedir ajuda e se abrigar em algum local que esteja aberto, como estabelecimento comercial.
- Se for vítima de assalto, não reaja. Além do criminoso poder estar armado, em geral assaltantes agem acompanhados.