Após deixar o programa de proteção a testemunhas, em janeiro deste ano, Douglas Gonçalves Romano dos Santos, 23 anos, marcou sua localização em uma publicação no Facebook. Nela, indicava que estava em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina. Assim como foi acompanhada pela polícia, a confirmação também foi descoberta por seus rivais. Na noite deste domingo (23), Douglas, autor da delação que abalou uma facção criminosa do Rio Grande do Sul três anos antes, foi executado a tiros no bairro Pioneiros.
Antes disso, menos de um mês após deixar o programa de proteção a testemunhas do qual fazia parte, em 2 de fevereiro, foi alvo de uma tentativa de homicídio na saída de uma festa, em Camboriú. A polícia descobriu, segundo o delegado Eibert Moreira, diretor de Investigações do Departamento de Homicídios do RS, que o veículo usado no ataque havia sido roubado no bairro Jardim Itu Sabará, em Porto Alegre, em 23 de janeiro. No Kia Soul, criminosos gaúchos seguiram até Santa Catarina, onde rastrearam o paradeiro do delator. Ele estava em um clube, onde era realizada uma festa.
— Esses criminosos migraram daqui para lá atrás dele. Provocaram uma confusão nessa casa noturna, uma briga generalizada, para que ele saísse para a rua. Ele saiu e foi alvejado, mas não veio a óbito. Ele era uma pessoa que corria risco de vida. Por isso, acompanhávamos a movimentação dele. Da mesma forma, os criminosos também sabiam onde ele estava — explica o policial.
Na confissão em 2017, o delator apontou mandantes e executores de homicídios, relatou a existência de um cemitério clandestino, indicou pontos de armazenamento de drogas e bens que pertenciam à facção Bala na Cara, nascida no bairro Bom Jesus. Também detalhou a forma de atuação do grupo criminoso, inclusive o destino do dinheiro arrecadado com o tráfico. Isso gerou uma série de operações de combate ao crime, com mandados de busca e apreensão, e mais de 150 prisões preventivas.
A delação gerou pelo menos 60 processos contra o grupo criminoso. Parte das investigações, envolvendo homicídios e lavagem de dinheiro, recaiu sobre José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, considerado um dos principais líderes da facção. Dada a importância do testemunho do delator, desde que se desligou do programa de proteção em janeiro, a Polícia Civil gaúcha passou a manter intensa troca de informações com os policiais catarinenses. Os agentes investigam informações de que ele havia se envolvido com uma facção catarinense.
— O fato de ele deixar o programa gerou uma balbúrdia muito grande, tanto no meio policial, como no mundo do crime. Ele sabia do risco que estava correndo deixando o programa, mas optou por isso — diz o delegado Eibert.
Na noite deste domingo (23), o delator chegava na casa onde estava residindo há cerca de uma semana, no bairro Pioneiros, quando foi executado a tiros. Uma das suspeitas é que ele tenha sido vítima de um novo atentado por parte do mesmo grupo. Mas isso ainda está sendo apurado pelos investigadores catarinenses. A polícia gaúcha continua em contato com os agentes do Estado vizinho, acompanhando os desdobramentos do caso e colaborando com informações.
— Embora tenha ocorrido lá, o resultado é relevante para o nosso trabalho. Tudo vai repercutir nos processos em que ele foi delator. O esclarecimento é de extrema importância — afirma o delegado.