Três meses após a Polícia Federal deflagrar operação que revelou esquema milionário, com características similares à pirâmide financeira, liderado pela Unick Forex, clientes da empresa com base no Vale do Sinos reúnem-se em associação para tentar reaver os valores investidos. Com 210 associados, a entidade pretende unir forças entre as vítimas para acelerar o ressarcimentos via processo judicial. Desde 2017, a empresa atraiu milhares de clientes prometendo lucros de até 100% sobre o valor investido em até seis meses.
Quinze pessoas, entre eles sócios da companhia, são rés na Justiça Federal. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou os 15 pelos crimes de organização criminosa, funcionamento de instituição financeira sem autorização legal, emissão, oferecimento e negociação de títulos ou valores mobiliários sem autorização legal e lavagem de dinheiro.
Fundada há um ano, a Associação de Defesa dos Direitos dos Investidores da Unick Forex foi criada quando os pagamentos dos valores investidos aos clientes começaram a atrasar, mas só ganhou corpo a partir da operação da PF, em 17 de outubro do ano passado. A maioria dos membros da associação é gaúcha, mas há integrantes de São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Acre.
A entidade é liderada por uma cliente da Unick de 39 anos, que vive na Região Metropolitana, que prefere não ser identificada. O advogado Demetrius Barreto, de Porto Alegre, é um dos representantes da associação. Barreto é especializado em regulamentação econômica no mercado de criptomoedas e argumenta sobre a vantagem jurídica de as vítimas se reunirem.
— O processo criminal tem prazo para acontecer. Se você começa a ter várias pessoas pedindo habilitação no processo, isso causa tumulto processual. Posterga o tempo. Acaba produzindo a prescrição da ação penal. O tempo corre a favor dos réus. Nós (da associação) vamos entrar como assistente de acusação e por isso é interessante que o processo seja célere. Se todo mundo for entrar em ações separadas, será um transtorno para o processo — explica.
Como fazer parte
Para ingressar na associação, é necessário pagar taxa de R$ 50. Não há cobrança de mensalidade. Segundo a presidente, o valor é usado para locação de espaços para reuniões. No dia 31 de janeiro, haverá assembleia no Canoas Parque Hotel (Avenida Getúlio Vargas, 7.421), às 20h. No encontro, novos associados serão aceitos. Também serão discutidas alterações no estatuto e feitos esclarecimentos sobre o andamento do processo.
Pessoas de fora do Estado podem entrar em contato com os advogados e efetuar a inscrição por e-mail com envio de documentos digitalizados.
— Tenho convicção de que vamos reaver este dinheiro. Estamos bem assessorados. Meu sentimento é ter de aguardar isso, por tempo ainda indeterminado, por enquanto. Porque dinheiro para pagar eles têm — afirma a presidente.
Moradora da Região Metropolitana, a líder da associação diz que investiu R$ 170 mil na Unick e convenceu outros familiares a aplicarem mais R$ 70 mil.
— Assim como fui induzida ao erro, também levei pessoas próximas — lamenta.
Ela passou a aplicar valores em janeiro de 2019. Nos primeiros três meses — fevereiro, março e abril —, recebia retorno com valores entre R$ 45 mil e R$ 50 mil. A partir de junho, passou a ganhar apenas metade da quantia prometida, até que os repasses foram interrompidos. Conforme Barreto, essa é uma característica do esquema de pirâmide: no começo se cumpre os depósitos para que o cliente fidelize e siga investindo.
— O discurso que eles tinham para o atraso era convincente. Faziam reuniões, mandavam áudios explicando. Tu te sentes ingênuo a ponto de acreditar. Todo mundo que investiu tinha um sonho. Eles têm de pagar pelo sofrimento e desespero que causaram nas pessoas. Teve gente que abandonou emprego e fechou empresa para trabalhar para eles. Nos sentimos roubados. É o sonho que tu tinhas e se desfaz — explica a líder da associação.
A advogada Cristiane Menegussi, de Sapucaia do Sul, explica que a associação pretende reunir o máximo de clientes da Unick possível. Ela explica que a maior dificuldade é encontrar mais vítimas ocorre porque muitos investidores nem sequer admitem às famílias que perderam dinheiro:
— A depressão é comum em muitos casos. Tem gente que não disse nem para o seu cônjuge que perdeu este dinheiro. Segundo ela, os nomes dos integrantes da associação serão mantidos em sigilo.
— Nesse grupo não tem só pessoas muito ambiciosas, existem pessoas que tinham sonhos e esperança de vida melhor — argumenta a defensora.
Na Justiça, o processo está a cargo da juíza Karine da Silva Cordeiro. Entre os acusados, seis estão presos e dois com medidas restritivas. O caso encontra-se no final da fase de citação — quando dos denunciados apresentam suas defesas e apontam testemunhas. Após isso, começa a fase de audiências.
Como entrar na associação
Próxima assembleia
Dia 31 de janeiro, sexta-feira, às 20h
Canoas Parque Hotel (Avenida Getúlio Vargas, 7.421)