Logo que começaram a ser divulgadas as primeiras notícias da operação da Polícia Federal contra a empresa Unick, clientes que fizeram investimento com a promessa de retorno financeiro começaram a chegar em frente à sede da empresa, localizada no edifício Platinum Executive Center, na área central de São Leopoldo. O objetivo: saber o desfecho da história e o destino do dinheiro investido.
A operação, batizada de Lamanai, investiga um esquema de pirâmide financeira envolvendo o mercado de moedas virtuais. São cumpridos 65 mandados de busca e apreensão e 10 de prisão em São Leopoldo, Porto Alegre, Canoas e Caxias do Sul, além de outros Estados brasileiros. O nome dos presos não foi divulgado pela PF.
A Unick prometia lucro de 100% sobre o valor investido em até seis meses. Segundo a Polícia Federal, a empresa tinha cerca de 1 milhão de clientes e operava em 14 países. As captações chegavam a R$ 40 milhões por dia.
Entre os clientes que se encontram em frente à sede da empresa, o sentimento é único: o de revolta e o de impotência. A maioria diz ter sido atraída pela ideia de lucro rápido e fácil. Os nomes das pessoas que conversaram com a reportagem de GaúchaZH não estão sendo divulgados a pedido delas, para evitar exposição.
Infarto e R$ 300 mil perdidos
Por volta das 8h30min, um homem de boné parou em frente à sede da empresa, do outro lado da rua, para gravar imagens da viatura da Polícia Federal em frente ao prédio. O empresário da área de confecção de roupas diz ter perdido R$ 300 mil.
Sofri um infarto dentro da empresa. Me tiraram daqui de ambulância. Faz 120 dias que eu não durmo.
EMPRESÁRIO
cliente da Unick
Ele conta que investiu cerca de R$ 450 mil em março deste ano, após receber a indicação de um amigo que estava tendo lucro.
— Fui atraído pela promessa de lucro, de 1,5% a 3% ao dia. No início eu recebia os valores, mas depois começaram os problemas.
No último encontro que teve com representantes da empresa, em setembro deste ano, o empresário sofreu um infarto:
— Perdi R$ 300 mil e sofri um infarto. Sofri um infarto dentro da empresa. Me tiraram daqui de ambulância. Faz 120 dias que eu não durmo — relata.
Pressão psicológica
Um advogado que conversou com a reportagem de GaúchaZH investiu, junto com a esposa, cerca de R$ 66 mil. O lucro, de mais de R$ 120 mil, seria usado para construir um consultório para a mulher. No entanto, pouco menos de R$ 2 mil foi recebido. A família diz já ter perdido as esperanças:
— É uma pressão psicológica muito grande, a perda de um valor tão expressivo, ainda mais no momento em que estamos montando um consultório. Esse dinheiro está fazendo falta. A gente já está pensando em se desfazer de carro, moto, para poder arcar com esse valor. Não tenho mais esperança de ter esse dinheiro de volta. É um dinheiro perdido.
Não tenho mais esperança de ter esse dinheiro de volta. É um dinheiro perdido.
ADVOGADO
cliente da Unick
Para a maior parte dos clientes com quem GaúchaZH conversou, a empresa afirmou, nos últimos meses, que passaria por atualização de sistema e que, por isso, o lucro não chegaria. Quando passaram a suspeitar da versão da empresa, os clientes foram solicitar o cancelamento e receberam a promessa de que o valor investido — sem o lucro — seria devolvido. No entanto, isso não aconteceu.
— Quem cancelasse os valores, que era o meu caso, receberia o dinheiro em 30 de setembro, mas isso não aconteceu. Não sei mais o que é verdade nessa história — conta um gerente de farmácia que aguarda a devolução de R$ 7,3 mil.
— Não adianta mais vir aqui. Agora estou em contato com advogados — diz um motorista de aplicativos e representante comercial que perdeu R$ 14 mil.
Contraponto
Em nota, o escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que defende a Unick, afirma que a empresa mantém o compromisso de "colaborar com as autoridades competentes" para esclarecer "quaisquer eventuais fatos que tenham ocorrido em relação a suas operações".
Confira a nota na íntegra:
"O escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que representa juridicamente a UNICK Academy, vem reafirmar o compromisso da empresa em colaborar com as autoridades competentes, prestando as informações necessárias para apuração de quaisquer eventuais fatos que tenham ocorrido em relação a suas operações. A empresa reafirma seu compromisso com seus clientes e acredita na Justiça e nos esclarecimentos dos fatos.
NWADV -Nelson Wilians e Advogados Associados"