A 1ª Vara da Justiça Criminal de São Borja condenou 29 integrantes de uma facção que atua na fronteira pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico de drogas. Dos sentenciados, cinco também foram condenados por tráfico de armas e/ou munições. A sentença é do magistrado Marco Antônio Preis.
A maioria dos réus já está presa e foi capturada em duas etapas da Operação Velho Oeste, desencadeadas pela Polícia Federal em 2017 e 2018 na Fronteira Oeste. Os acusados foram sentenciados a penas que variam de cinco anos a 20 anos de reclusão.
Os condenados nesse processo foram retratados em série de reportagens "O Poder das Facções", do Grupo de Investigação da RBS (GDI). Uma das matérias mostrava a expansão do crime organizado da Capital em direção ao Interior.
No caso de São Borja, Uruguaiana e Itaqui, duas facções travaram nos últimos anos guerra pelo controle de tráfico de armas e drogas. Uma delas é ligada a um grupo originário da zona leste da Capital. A outra é o Primeiro Comando do Interior (PCI), nascido na Fronteira Oeste e associado a criminosos do Vale do Sinos e que se ramificaram por todo o Estado.
A maioria dos presos nas duas etapas da Operação Velho Oeste é ligada ao PCI. Essa organização encurralou e expulsou grande parte dos rivais na região fronteiriça, segundo as investigações. Nesse processo, mais de 15 homicídios foram registrados de lado a lado, inclusive em outras regiões do RS, todos ligados às batalhas pelo controle do tráfico entre São Borja e Itaqui.
Um dos episódios, longe da região da fronteira, foi o assassinato de Bruno Dornelles Ribeiro, na Capital, em 8 de novembro de 2016. O crime foi cometido à luz do dia na estação rodoviária. A vítima acabava de desembarcar de um ônibus vindo de São Borja quando foi atingida a tiros, pelas costas, disparados pelo passageiro de um veículo.
Maioria dos presos está confinada em Uruguaiana
Bruno Ribeiro era dissidente do PCI e foi morto, segundo as investigações, por Tarcis Fernando da Silva Gavião, ligado à facção e que responde por três homicídios. Ele foi preso em Canoas, com base em testemunhas que o reconheceram como autor do assassinato — no qual nega envolvimento. Esse crime ainda não foi julgado, mas é um dos mencionados nos inquéritos da Operação Velho Oeste.
O homem que ordenou o assassinato de Ribeiro, segundo as investigações, é Marcos Martins Antunes, réu por homicídio. Ele é também o principal condenado dentre os 29 sentenciados esta semana pela Operação Velho Oeste. Antunes, conhecido como Marquinhos, é apontado como líder do PCI e dos demais condenados no processo. Ele está recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), assim outros sentenciados. A maioria está confinada em prisão de Uruguaiana.
Em aparelhos celulares apreendidos com os criminosos foram encontradas dezenas de fotos de armas e mensagens nas quais o arsenal era oferecido a comparsas. Há também retratos de drogas sendo embaladas. As negociações eram feitas, inclusive de dentro dos presídios, por meio de WhatsApp.
O julgamento foi realizado pela Justiça Criminal Estadual porque não foi configurada a parte internacional do tráfico de armas e drogas — o que resultaria em conotação federal —, embora tenham sido condenados pelo contrabando de maconha e de fuzis.
Contraponto
O que diz Marcos Martins Antunes
Durante o processo judicial, ele e os demais réus alegaram nulidade dos interrogatórios (porque foram feitos por videoconferência) e das interceptações telefônicas (por terem sido adotadas como primeira e não última medida na investigação). Eles ainda negaram qualquer envolvimento em homicídios.