Um soldado da Brigada Militar, de 27 anos, tinha acabado de estacionar o seu Gol na Avenida Professor Oscar Pereira, no bairro Glória, em Porto Alegre, quando foi abordado por um jovem nervoso. Era noite de 1º de julho de 2014, fria, e o PM (cujo nome a reportagem omite, a pedido dele) se preparava para entrar em casa.
O rapaz lhe apontou pistola prateada e anunciou assalto. Não sabia que atacava um policial, porque a vítima estava à paisana.
— Vi a inexperiência dele e na hora saquei que poderia reagir. Entreguei as chaves do carro com uma mão e, com a outra, saquei o revólver que tinha atrás das costas. Ele não imaginava que eu estivesse armado — recorda o PM.
O policial disparou duas vezes contra o assaltante, que tentou correr, mas caiu e se rendeu. Foi imobilizado pelo próprio PM, que chamou ajuda até ele ser preso.
O rapaz foi recolhido de ambulância e levado ao HPS para atendimento, onde ficou internado. Foi identificado como Anderson Batista Wicziniewsk. A pistola que portava foi apreendida: uma Bersa argentina, calibre 9 mm.
Assim que se recuperou dos ferimentos, Wicziniewsk foi levado ao Presídio Central, onde ficou preso em flagrante por 113 dias. Pegou pena leve. A sentença poderia ter ficado em cinco anos e quatro meses de prisão se o assalto tivesse se consumado, mas o Judiciário interpretou que o roubo não chegou a acontecer. Como foi tentativa, a pena ficou em um ano e nove meses.
O pior é saber que o dono da arma que usaram para tentar me roubar é outro policial. Suja o nome da nossa profissão.
SOLDADO DA BM
O ladrão saiu direto da audiência para o regime aberto. Mas Wicziniewsk não era debutante em crimes. Em 2012, havia sido preso por receptação de moto roubada – crime que lhe renderia outra condenação de um ano e quatro meses, em regime aberto, em 2015.
O PM já estava contrariado porque o assaltante pegou pena pequena. A decepção aumentou quando soube, por meio da reportagem, que a Bersa 9 mm usada pelo assaltante foi vendida por outro policial. A pistola, com número de série A38818, estava registrada no Uruguai em nome de Juan José Arocena Fernandez, um dos policiais do país vizinho presos por tráfico de armas:
— Fui assaltado duas vezes. Mas o pior é saber que o dono da arma que usaram para tentar me roubar é outro policial. Suja o nome da nossa profissão.