Em outubro de 2015, criminosos aguardavam um traficante rival no estacionamento de um hipermercado da zona sul de Porto Alegre. O alvo chegaria num carro branco, mesma cor do veículo em que o empresário Marcelo Dias Oliveira estava com a filha.
Por engano, os criminosos atiraram várias vezes, matando Oliveira na hora e deixando a menina de quatro anos ferida.
O mandante do crime, segundo a Polícia Civil, é Bruno Fernando Sanhudo Teixeira, o Biboy, um dos gerentes em Porto Alegre dos Bala na Cara, violenta facção com atuação dentro e fora dos presídios. A investigação indicou que Biboy deu a ordem de dentro da cadeia, onde cumpre pena por matar dois desafetos em 2014 numa emboscada.
O Grupo de Investigação da RBS (GDI) apurou que as duas armas usadas nesse duplo homicídio de 2014 vieram de policiais uruguaios. Em 2 de julho daquele ano, Biboy e dois parceiros teriam simulado blitz policial e, disfarçados, assassinaram Rodrigo Machado Coelho e Emerson Luís Neto Alves. Os dois seriam de uma facção rival, que tem presença no Beco dos Cafunchos, zona leste de Porto Alegre.
Biboy já respondia a três processos por homicídio. Dois dias depois do duplo assassinato, Biboy e outro parceiro foram presos. Esse parceiro, de nome Wesley, portava duas pistolas: uma Taurus calibre.380 e uma pistola Glock calibre 9 mm municiada com pente estendido, carregado com 30 projéteis. A apreensão das armas aconteceu na Rua Argemiro Ogando Correa, na Vila dos Sargentos, no bairro Serraria (Zona Sul), área dominada pelos Bala na Cara.
A prisão foi feita pelo delegado Juliano Ferreira, da Polícia Civil, durante cerco a quadrilha de receptação de carro roubado. A arma, com número de série UZK872, foi comprada pelo policial uruguaio Juan José Arocena Fernandez e não se sabe como ela chegou à quadrilha de Biboy – há suspeita que foi via contatos de contrabandistas com o núcleo da facção no Presídio Central.
O exame balístico comprovou que os disparos fatais contra os dois rapazes do Beco dos Cafunchos partiram da Glock com que Biboy foi preso. A perícia ajudou a condenar Biboy, em agosto de 2017, a 30 anos de reclusão pelo duplo assassinato. Ele é suspeito de outros sete homicídios. Entre as mortes, duas de líderes comunitários, um deles com tortura.