Foi julgado e condenado a 30 anos, nesta segunda-feira (7), na 2ª Vara do Júri de Porto Alegre, o homem apontado pela polícia como um dos mais violentos líderes de facção criminosa da Região Metropolitana.
Bruno Fernando Sanhudo Teixeira, o Biboy, 27 anos, apontado pela polícia como uma das lideranças do crime na Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, foi acusado pelas mortes de Rodrigo Machado Coelho e Emerson Luis Netto Alves, em 2 de julho de 2014, no Beco dos Cafunchos, bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre. A pena é de 15 anos para cada crime, totalizando os 30 anos.
– A condenação desse tipo de criminoso é sempre muito complicada. É muito difícil conseguirmos uma prova contundente, e as testemunhas muitas vezes se calam por medo. E ainda assim, este criminoso tem nove assassinatos a serem julgados. Condená-lo neste primeiro era essencial – avalia o promotor Eugênio Paes Amorim.
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A favor da acusação havia uma prova técnica rara em casos de homicídios relacionados aos crimes de facções criminosas. Dias depois do duplo homicídio, Bruno Teixeira foi preso com uma pistola 9mm. O exame balístico comprovou que os disparos fatais partiram da arma.
Conforme a denúncia, as mortes foram um "recado" de criminosos da Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, contra seus rivais da zona leste da Capital. Biboy, acompanhado de dois comparsas não identificados, teria se apresentado como policial e executou a dupla na rua.
As duas vítimas teriam sido escolhidas aleatoriamente. Não tinham relação com as disputas do tráfico. Durante todo o processo, Bruno Teixeira negou a autoria do crime e alegou que sequer conhecia o Beco dos Cafunchos.
A sua defesa, durante o júri ainda alegou que ele sequer é o Biboy referido na investigação. Apontaram o seu apelido como Playboy. Segundo a polícia, Bruno é conhecido pelos dois apelidos.
A defesa ainda questionou a informação de que ele seria uma liderança de facção, uma vez que, mesmo preso no Presídio Central, não foi incluído na lista dos condenados transferidos para penitenciárias federais.
Suspeito de ordenar morte em supermercado da Zona Sul
Além do crime julgado ontem, Biboy responde na Justiça a outros oito assassinatos. O mais recente deles, pelo qual está preso preventivamente, vitimou o empresário Marcelo de Oliveira Dias, 44 anos, no estacionamento de um supermercado no bairro Cavalhada, na zona sul de Porto Alegre, em outubro do ano passado.
Nesta terça-feira, seria realizada uma audiência sobre esse caso, na 2ª Vara do Júri da Capital. Biboy foi denunciado como mandante do crime que teve o alvo errado. A ordem para o grupo armado já identificado pela polícia era para que executassem um traficante rival, atuante no Beco do Adelar, também na zona sul da Capital.
– Tudo o que a quadrilha faz na rua hoje em dia é reportado ao Biboy. Mesmo em execuções, os comparsas se comunicam com ele e seguem as ordens de como cometer os crimes – explica o delegado Eibert Moreira, titular da 4ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre (DHPP).
Essa situação ficou clara para a polícia na morte de Vilmar Adão Goulart Fraga, 54 anos, que era morador da Vila dos Sargentos e foi torturado até a morte, antes de ter o corpo exposto em praça pública na vila em julho de 2016.
O poder da quadrilha na vila é tamanho que o posto de saúde que funcionava na localidade foi fechado permanentemente como resultado da violência.
A suspeita da polícia é de que a influência do criminoso nas ruas aumente depois de desencadeada a Operação Pulso Firme, que transferiu lideranças de facções para penitenciárias federais. Entre os condenados transferidos está Fábio Fogassa, que é apontado como patrão deste braço da facção criminosa.
A lista de mortes:
– 15 de junho de 2011 – Foi denunciado e pronunciado pelo assassinato da líder comunitária da Vila dos Sargentos, Glecy Godoy Alvarenga, 56 anos, executada dentro de casa, diante da neta. A Justiça não pronunciou Biboy.
– 21 de novembro de 2011 – O líder evangélico Luís André da Rocha, 30 anos, foi morto com tiros na cabeça por não colaborar com a facção criminosa na Vila dos Sargentos. Biboy aguarda o júri do caso.
– 15 de dezembro de 2011 – Renato Boleslau Campos, 49 anos, dono de uma farmácia na Vila dos Sargentos, foi morto a tiros por homens que invadiram o local. Criminosos acreditavam que ele os havia delatado. O caso vai a júri.
– 14 de junho de 2014 – Maximiliano da Costa Rech, 25 anos, foi morto a tiros por homens encapuzados dentro de um bar na zona sul de Porto Alegre. Biboy foi indiciado pela Polícia Civil.
– 8 de fevereiro de 2016 – Foi morto Jonatas César Silva Acosta, na Estrada Campo Novo. No crime diversas crianças foram baleadas. Biboy foi indiciado como mandante.
– 9 de fevereiro de 2016 – Alessandro Oliveira da Silva foi morto a tiros na Estrada Campo Novo. Biboy foi indiciado como mandante.
– 27 de julho de 2016 – Vilmar Adão Goulart Fraga, 54 anos, foi baleado, torturado, enforcado e agredido até a morte, tendo o corpo exposto em praça pública na Vila dos Sargentos. Criminosos suspeitavam que ele passava informações à Brigada Militar. Da cadeia, demonstrou a investigação policial, Biboy teria monitorado o assassinato. Indiciado pela Polícia Civil, Biboy já foi denunciado pelo Ministério Público como mentor do crime.
– 20 de outubro de 2016 – O empresário Marcelo de Oliveira Dias, 44 anos, foi morto por engano e teve a filha pequena ferida em um ataque de criminosos em pleno estacionamento de um supermercado no bairro Cavalhada, na zona sul de Porto Alegre. A ordem para o crime, concluiu a polícia, partiu de Biboy. O alvo era um traficante rival, no Beco do Adelar. Os criminosos erraram o alvo. Indiciado pela Polícia Civil, Biboy segue preso preventivamente por este crime.