Um mega-assalto a um carregamento de dinheiro no aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (SP), nesta quinta-feira (17), terminou com três criminosos mortos e cinco pessoas feridas — quatro delas vigilantes e policiais atingidos durante os confrontos que duraram horas.
Entre os feridos também está uma mulher, feita refém com a filha de nove meses em uma casa da periferia de Campinas. Ela teria sido atingida nas nádegas por um estilhaço de projétil quando um criminoso foi morto por um atirador de elite da Polícia Militar (PM).
De acordo com informações da PM, o roubo teve início pouco antes das 10h, quando seguranças da empresa de transporte de valores Brinks transferiam dinheiro em espécie de um carro-forte para um avião cargueiro. O valor envolvido não foi informado pela empresa ou pela polícia.
Ao menos 10 criminosos chegaram em carros clonados da Polícia Federal (PF) e da Aeronáutica e, quando anunciaram o assalto, iniciou-se a troca de tiros. Um vigilante foi baleado na perna e outro, na orelha. Um vídeo gravado por um passageiro mostra o socorro feito a um desses feridos, ainda ao lado do carro-forte.
Na fuga, os criminosos fizeram refém um sargento da PM que trabalha no aeroporto. O policial foi amarrado ao capô de um dos veículos usados pela quadrilha na fuga, como uma espécie de escudo humano. Na sequência, os bandidos bloquearam os dois sentidos da rodovia que liga Campinas ao aeroporto, a Santos Dumont. Eles atearam fogo a dois caminhões, após cruzar as carretas nas faixas da rodovia.
Além do policiamento da região, equipes da Polícia Civil e Militar foram enviadas à região para tentativa de captura dos criminosos. Entre as forças enviadas para lá estão policiais da Rota e do Gate, pela PM, e, pela Civil, policiais do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Ainda segundo a polícia, um dos momentos mais tensos da ação ocorreu na área urbana de Campinas quando três criminosos fugiam em um caminhão de lixo e foram cercados por equipes da PM local e guardas municipais.
Houve confronto, os assaltantes abandonaram o caminhão e seguiram a fuga em um carro da Guarda Municipal de Campinas. No veículo abandonado foram encontradas armas, entre elas duas metralhadoras com calibre capaz de derrubar aeronaves: uma .30 e outra .50. Também foi recuperado nesse veículo parte do dinheiro roubado, mas o valor ainda não foi informado.
Os criminosos que pegaram o veículo da guarda foram seguidos até uma rua do bairro Campina Verde, onde deixaram o carro e invadiram casas. Dois deles fizeram um morador refém, mas foram mortos momentos depois por PMs do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) de Campinas. Outro criminoso fez uma moradora e a filha dela de nove meses reféns. Após horas de negociação, um atirador de elite da PM atirou e matou o sequestrador, em um momento em que o criminoso dava sinais de que poderia matar a refém.
Outro confronto, que terminou com um PM ferido, ocorreu nas ruas de Campinas. Segundo a polícia, o major passa por cirurgia e o estado dele é considerado estável.
Durante o roubo, foram interrompidos os pousos e decolagens, no período das 10h às 10h20min. Em seguida, a operação foi normalizada.
Mesmo não tendo ocorrido nenhuma ação no terminal de passageiros, quem estava embarcando precisou fazer uma segunda inspeção no raio-X, por questões de segurança, segundo o próprio aeroporto. De acordo com passageiros, houve correria e pânico.
No fim da manhã, o sistema de avisos sonoros do aeroporto informava que os passageiros embarcariam em breve, após a normalização das atividades no local.
Segundo site que monitora voos, Viracopos teve uma partida cancelada nesta quinta, de um avião que ia para Brasília, às 11h45min. Ao longo do dia, houve ao menos 22 pousos atrasados. Mas foram as decolagens as mais afetadas, ao menos 33 até 17h, com atrasados de entre 30 minutos e 2 horas.
A Brinks informou que está colaborando com as investigações.
A Federação Nacional das Empresas de Transporte de Valores (Fenaval) emitiu uma nota nesta quinta sobre o ocorrido.
"A Fenaval vai dialogar com as autoridades competentes para que sejam analisadas medidas que ampliem a segurança e vigilância do transporte de cargas em ambientes controlados, como é o caso de aeroportos. A entidade destaca a eficiente resposta das polícias federal, civil e militar à ação criminosa, composta por integrantes portando armas de grosso calibre como fuzis e metralhadora ponto 50."
Questionado sobre o caso por jornalistas na tarde desta quinta-feira, o governador de São Paulo João Doria se esquivou do assunto, a princípio, e depois disse que quem tem de responder é o governo federal.
— Quem tem que responder por isso não sou eu. Quero lembrar que os aeroportos de Viracopos, Congonhas e Guarulhos são de administração federal — disse Doria.
— A invasão feita às áreas restritas do aeroporto foi com equipamentos e veículos logotipados com a marca da Polícia Federal, e com acesso feito, a meu ver, de maneira bastante facilitada, vamos dizer assim, e que precisa ser investigado. O que não pode é os aeroportos de administração federal terem essa vulnerabilidade, sobretudo no momento em que transportam cargas de valor. Então cabe também perguntar ao governo federal quais a medidas que, no âmbito dos aeroportos, fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentadores e também àqueles que o utilizam para transporte de cargas — acrescentou.
Em julho deste ano, outro assalto ocorreu no aeroporto internacional de Guarulhos. Em uma ação inédita, um grupo de criminosos roubou cerca 720 kg de ouro — cujo valor estimado supera R$ 120 milhões — de uma empresa de transporte de valores. Na ação, criminosos usaram uma viatura clonada da Polícia Federal. A avaliação da polícia é de que muito dificilmente o ouro roubado será recuperado.
Em 2018, a mesma empresa de transporte de valores foi assaltada em Viracopos. Ao menos cinco homens armados com fuzis invadiram a pista do aeroporto na noite de um domingo e roubaram US$ 5 milhões em espécie.