Uma casa simples, na área rural do município de Amaral Ferrador, no sul do Rio Grande do Sul. Esse era o lugar onde vivia um dos assaltantes de banco mais procurados do Estado. Ivo Francisco dos Santos Assis, 43 anos, conhecido como Ganso Baio, foi preso por volta das 8h desta quarta-feira (4). Foragido desde 2012, com 39 anos de condenações, investigado em diversos inquéritos por ataques a banco com uso de explosivos e cordão humano, ele não reagiu à prisão. Foi surpreendido em uma ação integrada da Polícia Federal (PF), Polícia Civil (PC) e Brigada Militar (BM), que reuniu cerca de 40 policiais.
Acostumado a trocar tiros durante suas investidas contra agências bancárias, o homem, tido como um ermitão pelos investigadores, não teve como reagir e não falou uma palavra sequer durante a abordagem. O comboio com viaturas discretas das polícias chegou por volta das 16h na Superintendência da Polícia Federal, em Porto Alegre.
Ganso Baio vivia em um lugar sem sinal de celular. No local, estavam a companheira dele e duas crianças. De acordo com os policiais, todos pareciam ter uma cartilha de como agir, se, por acaso, fossem pegos pela polícia.
— A gente prendeu o integrante de uma organização criminosa voltada para a prática de crimes violentos. Importante o trabalho integrado, porque essa é a maneira de combater a violência no Rio Grande do Sul — destacou o delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF, Alessandro Maciel Lopes.
O delegado regional executivo da PF, José Antônio Dornelles de Oliveira, conta que existia uma suspeita de mudança da fisionomia do criminoso, que acabou não se confirmando.
— Fica a nossa sensação de dever cumprido. Ele era um cara considerado um fantasma. Nós tínhamos até uma suspeita de que ele tivesse feito uma cirurgia, alguma coisa no rosto para ter alterado o seu visual, porque realmente não se tinha notícias dele. Agora com a prisão, nós poderemos comprovar a participação dele em mais episódios — observa Dornelles.
Conforme o delegado Robson Robin, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio, a investigação constatou há cerca de um mês que Ganso Baio estava naquela propriedade rural. O monitoramento da rotina dele no terreno durou cerca de uma semana.
— Ele se comporta como um caçador. Ele domina o território, tem habilidade com armas. No sítio, com cerca de 11 hectares, fizemos uma exaustiva varredura, achamos colete à prova de balas e telefones celular — destaca o delegado, ao ponderar que armas não foram encontradas.
Segundo Robin, o criminoso mancava e tinha um ferimento de arma de fogo no pé esquerdo já em processo de cicatrização. O delegado acredita que o machucado é resultado da troca de tiros com policiais após ataque a banco em Dom Feliciano, em julho deste ano.
Para o delegado João Paulo de Abreu, da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, a prisão do criminoso é um duro golpe nas quadrilhas que atacam agências bancárias.
— É uma prisão extremamente importante, porque é uma pessoa considerada um dos principais articuladores desses eventos criminosos. Ele fora de circulação, a organização criminosa acaba perdendo a capacidade de executar ações mais contundentes, mais violentas — sustenta o delegado.
Para Abreu, a prisão vai ajudar na conclusão de outros inquéritos que investigam ataques a banco. O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da BM, tenente-coronel Douglas Soares, também destacou a importância da integração de forças para chegar ao bandido e prendê-lo sem qualquer possibilidade de reação.
— Na abordagem àquela propriedade, levamos em conta elementos da investigação que indicavam a existência de uma mulher e duas crianças lá dentro. A situação de refém poderia acontecer. Através dos dados da rotina dele, esperamos ele sair de dentro da residência para que só então a gente pudesse se aproximar e efetuar a prisão com toda a segurança possível — conta o comandante.
Entre as ações criminosos investigadas, Ganso Baio é suspeito de participar do ataque a banco em Dom Feliciano, em julho deste ano. O criminoso seria resgatado de uma área de mata, para onde teria fugido, por um grupo que furou barreira policial em Cristal, também em julho, quando houve tiroteio e duas mulheres e uma criança morreram.
O que diz a defesa
— Amanhã (5) foi agendado interrogatório dele em dois inquéritos. A defesa fará acompanhamento do depoimento. Porém, qualquer análise neste momento é prematura, já que ainda não tivemos acesso aos inquéritos — diz o advogado do preso, Leonardo Martiniano de Vasconcelos.