O Rio Grande do Sul registrou 1.904 ataques a bancos nos últimos 10 anos, segundo um levantamento realizado por GaúchaZH. Foram roubos, furtos e arrombamentos, incluindo casos em que pequenas cidades foram praticamente sitiadas por quadrilhas que explodiram agências ou fizeram reféns e os usaram como escudo humano.
Ao todo, 70,6% dos municípios gaúchos tiveram bancos atacados neste período. Destes, em apenas 23 cidades ocorreram quase metade de todos os ataques registrados. Estes fatos levaram medo principalmente a pequenas localidades, com pouco policiamento. Os fatos levaram as autoridades de segurança a mudar algumas estratégias para combater este tipo de crime.
Os dados compreendem ataques entre os anos de 2009 e 2018, mostrando que 351 cidades tiveram instituições bancárias como alvo de bandidos. O ano de 2015 foi o que mais registrou ocorrências. Foram 351 casos, representando 18,4% do total do período de 10 anos. Em 2010 houve o menor número de registros, 113.
O levantamento revela ainda que desde 2016 ocorre redução gradativa do número de ataques. Atualmente, eles têm se concentrado em determinadas regiões, como Norte, Noroeste e Serra, além de envolver grupos criminosos que agem praticamente no final e no início de cada mês, em época de pagamento.
Este período é considerado perigoso para bancários e moradores de cidades pequenas como Ibiraiaras, no Norte, com 7,3 mil habitantes, que já registrou oito ataques com bancos explodidos e pessoas reféns. Uma delas morreu quando foi levada por bandidos que entraram em confronto com a polícia após assalto no fim do ano passado.
O vice-governador do Rio Grande do Sul e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, observa que os grupos criminosos levam em conta aspectos geográficos. Além de cidades pequenas e mais distantes, priorizam regiões com inúmeras rotas de fugas e estradas vicinais para que o deslocamento seja o mais discreto possível após os ataques. Os bandos contam com apoio logístico e com informações de pessoas das regiões que são alvo das ações.
Segundo o levantamento de GaúchaZH, o Norte e o Noroeste são o maior exemplo do modus operandi dos grupos. Ao todo, 120 cidades tiveram bancos atacados em 10 anos — representa 34,1% do total de municípios que tiveram ocorrências deste tipo no mesmo período, ou seja, 351.
Essas duas regiões tiveram aumento gradativo no número de casos desde 2016. Este foi o primeiro ano após o boom dos ataques a banco em 2015, quando houve o maior número de casos, e quando o governo retomou as atenções com mais investimentos e ações contra a criminalidade em todo o Estado.
23 cidades concentram quase metade dos casos
Apenas 23 cidades concentram quase metade dos ataques a bancos registrados no Estado em 10 anos. Entre 2009 e 2018, houve 1.904 ocorrências deste tipo no Estado, sendo 932 nestes municípios, ou seja, 48,9%. Cada município teve 10 ou mais furtos, roubos e arrombamentos durante este período.
Em Porto Alegre, onde há mais agências bancárias, os ataques tiveram menor poder ofensivo. Foram 491 desde 2009, sendo um grande número de arrombamentos (sem a presença de vítimas) e considerável quantidade de furtos com uso de maçaricos em terminais. Os casos na Capital correspondem a 25,7% do total ou, em média, um a cada sete dias. É o município com maior número de registros, seguido de Caxias do Sul com 68 (3,5%) e Canoas com 55 (2,8%).
Mas são as pequenas cidades de Nova Pádua, que fica na Serra e tem 2,5 mil habitantes, e Barão, que fica no Vale do Caí e tem 5,4 mil habitantes, que mais preocupam moradores e autoridades. Cada uma destes cidades teve, respectivamente, 12 e 11 ataques em 10 anos.
Situação é preocupante também em Flores da Cunha, na Serra (12 registros e população de 26,6 mil habitantes), em Tapes, no Sul (11 ocorrências e 17,2 mil habitantes), em Palmares do Sul, no Litoral Norte (10 casos e 11,9 mil pessoas), e em Santana da Boavista, na Campanha (10 fatos e população de 8,8 mil habitantes).
Conforme levantamento de GaúchaZH, 351 cidades gaúchas registraram ataques a banco nos últimos 10 anos, sendo que 17,3% delas tiveram mais de cinco ocorrências. Por outro lado, 146 municípios não tiveram nenhuma agência como alvo entre 2009 e 2018, o que corresponde a 29,3% do total do Estado. A maioria das cidades atacadas, 120, tem menos de 10 mil habitantes.
Na lista dos municípios que passaram longe do radar dos ladrões de bancos desde 2009 está Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Com 67,6 mil moradores, fica próximo de cidades que foram alvo dos criminosos no período. Mesma situação de São Borja, na Fronteira Oeste, com 64 mil habitantes.
Primeiro objetivo é a prevenção, segundo a Brigada Militar
O comandante geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, salienta que as cidades menores estão dentro do plano estratégico que envolve a Operação Diamante, uma ação contínua que teve início no ano passado para reforçar a segurança em locais com pouco policiamento em períodos que mais ocorrem ataques.
O primeiro objetivo é a prevenção. Caso não se consiga evitar um assalto a banco por meio de informações do setor de inteligência, busca-se a repressão para uma resposta rápida com mais policiais e uso do helicóptero.
— Já temos notado uma diminuição dos casos mais graves envolvendo ataques a banco desde o fim do ano passado e estamos mostrando, tanto para a população, quanto para os nosso PMs nessas regiões, que, na medida do possível, vamos combater esse crime com prevenção e repressão — diz Ikeda.
Com novos 2 mil PMs para agosto, ele tentará, por meio de estudo realizado, ter cinco brigadianos para cada uma das 497 cidades gaúchas. Haverá deslocamentos estratégicos e por períodos entre uma cidade e outra. O novo efetivo também será empregado na Operação Diamante.