Em júri que durou quase 21 horas, João Guatimozin Moojen Neto, 28 anos, foi considerado inocente pela morte do vizinho Mário Ênio Pagliarini, 79 anos. O idoso tentou salvar os dois filhos do réu com a ex-companheira, Bárbara Penna de Moraes e Souza, 25 anos, mas foi asfixiado pela fumaça e não resistiu. Além dele, Isadora, de dois anos, e João Henrique, de três meses, também morreram no incêndio a que Moojen Neto deu início.
Após o julgamento, Bárbara comentou a sentença dada ao ex-companheiro — ele recebe pena de 28 anos e quatro meses pela morte dos filhos e pela tentativa de homicídio contra ela. A jovem, hoje com 25 anos, teve mais de 40% do corpo queimado, passou quase quatro meses hospitalizada e realizou mais de 230 cirurgias reparadoras após o crime.
Para ela, a justiça foi parcialmente feita:
— Estou um pouco mais leve, a justiça em parte está sendo feita — disse.
— Independente do que falaram lá dentro (no plenário), ele (Ênio) foi, sim, ajudar meus filhos. Ele deu a vida dele para salvar os meus filhos. Enquanto eu estiver viva, vou levar o nome dos meu filhos e do seu Ênio. Para mim, ele foi um herói — completou.
Ao longo do júri, a Defensoria Pública, que representou Moojen Neto, defendeu que o acusado era usuário de entorpecentes, possuía transtorno de personalidade e não tinha total capacidade de controle sobre as ações. A defesa também argumentou que o réu não sabia que os filhos estavam no apartamento — afirmação contestada pela ex-companheira, que afirma que, horas antes, havia colocado os filhos para dormir e que o homem sabia disso.
Ao final do processo, Bárbara voltou a se emocionar ao falar dos filhos, que, segundo ela, foram "assassinados por quem deveria cuidar".
— Gostaria de sair daqui segurando os meus filhos. Sabendo que vou poder cuidar deles. Nada traz eles de volta, mas pelo menos eu tentei lutar por justiça. Eu trouxe toda a verdade e dei o melhor de mim, muitas coisas foram invertidas. Minha página não vai ser virada — disse, em resposta a uma fala do juiz quando proferiu a sentença.
Para ela, o mais difícil dos dois dias de julgamento foi ver o ex-companheiro e o que considerou sua "simulação".
— A defesa desmerece a minha lembrança, a minha vivência. Ter que ver a simulação dele, as controvérsias da defesa. É muito difícil ver que as pessoas estavam falando mentiras e tentando contornar uma situação, e ter de ficar quieta.
Bárbara se refere a defensora pública Tatiana Kosby Boeira que, em sua explanação, criticou a mídia pelo que classificou como uma cobertura "sensacionalista" do caso. Tatiana apresentou um audiovisual com a frase: “Que a verdade nunca estrague uma boa notícia”. Nos primeiros minutos, dirigiu-se à Bárbara, que acompanhava o julgamento.
— Não deixe que manipulem a tua dor, que é uma dor extremamente legítima, que só a mãe sente. Tem todo direito e toda legitimidade de lutar, de bradar. Mas não permita que te manipulem.