Seis homens e três mulheres foram indiciados pela 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, por aplicar três tipos crimes na cidade: o golpe do bilhete premiado, do cartão trocado e o do cartão trancado. O prejuízo estimado para sete vítimas entre o novembro do ano passado e abril deste ano é superior a R$ 40 mil.
Conforme a Polícia Civil, os suspeitos saíam de Passo Fundo até a cidade para cometer os crimes. Na manhã desta terça-feira (9), nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados ao investigados na cidade do Norte gaúcho. Foram apreendidos documentos, computadores e pendrives.
Em um dos casos investigados, uma mulher de 42 anos foi a vítima. O cartão dela ficou trancado em um caixa eletrônico do Banco do Brasil quando pretendia pagar contas. Ela ligou para o telefone de um estelionatário pensando estar entrando em contato com o banco. Neste momento, passou a senha. Como o problema não foi resolvido, decidiu ir embora e voltar no dia seguinte. Ao retornar, percebeu que o objeto havia sumido e R$ 250 foram sacados da sua conta.
Em outro crime investigado, um idoso de 78 anos perdeu R$ 8 mil. Ele foi vítima do golpe mais tradicional aplicado pelo grupo: o do bilhete premiado. O idoso contou que caminhava próximo do mesmo banco quando um homem o abordou dizendo ter um bilhete premiado da loteria, mas que não possuía conta para retirá-lo. O golpista também disse que daria R$ 50 mil do prêmio para a vítima, mas precisava de parte do dinheiro como garantia. Após o idoso entregar o montante, o bandido mentiu que iria até o carro buscar um documento e nunca mais voltou.
Conforme o delegado Leonel Baldasso, a quadrilha costuma escolher como vítimas pessoas idosas e nas proximidades de agências bancárias. O policial afirma que os nove investigados fazem parte de uma grande organização criminosa que age também em Santa Catarina.
— São indivíduos especializados. O estelionato é revestido em um verdadeiro teatro. Não são criminosos que estão começando, são pessoas que formam uma organização criminosa. Eles ainda conseguem laranjas para lavar o dinheiro e maquiar o fruto desses crimes — explicou Baldasso.
O número de vítimas do crime tende a ser ainda maior, já que segundo o delegado muitas pessoas sentem-se envergonhadas de registrar casos como do golpe do bilhete. A polícia de Cachoeirinha chegou a pedir a prisão dos investigados, mas foi negado pelo Judiciário. A investigação vai trabalhar agora para identificar como o dinheiro das vítimas foi lavado para sequestrar valores do grupo.
Ainda conforme Baldasso, há uma dificuldade em manter presos criminosos ligados a estelionatos por causa da baixa periculosidade e pena do crime.
Operação identificou 10 mil vítimas
Um levantamento realizado pela Polícia Civil revela que, desde o final da década de 1990, mais de 160 investigados na região de Passo Fundo aplicaram o golpe do bilhete premiado em, pelo menos, 10 mil vítimas, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O resultado foi obtido por meio de quatro inquéritos da Operação Pólis, que monitorou desde a metade de 2018 cerca de 50 quadrilhas. A movimentação financeira do grupo é de aproximadamente R$ 55 milhões.
Em junho de 2018, em uma das fases da operação, a polícia apreendeu um Camaro, jet ski e outros itens de luxo ligados ao grupo. Foram cumpridos mais de 120 mandados. O Camaro apreendido foi depois repassado pela Justiça para a Polícia Civil, que a transformou em viatura.
Evite ser a próxima vítima
— Evite conversar com estranhos na rua e na frente de caixas eletrônicos.
— Mantenha bem guardados quantias em dinheiro e cartões de débito e crédito, bem como outros pertences pessoais.
— Preste atenção, pois, em geral, mais de uma pessoa participa dos golpes, como alguém supostamente acima de qualquer suspeita.
— Jamais forneça seus dados bancários, cartões e senhas para qualquer pessoa desconhecida.
— Em caso de cartão trancado, ligue para o telefone do banco e peça o cancelamento.
— Se alguém realmente possuir um bilhete premiado, não irá dividir o prêmio com outra pessoa, ainda mais um desconhecido, por nenhum motivo. O ganhador também não irá vender esse prêmio em troca de dinheiro vivo, pois em algum momento o premiado obterá a quantia.
— Caso seja mais uma vítima de um dos crimes, não deixe de registrar ocorrência na Polícia Civil.