A guerra entre facções fez mais quatro vítimas nesta terça-feira (23), na zona leste da Capital. Um dos alvos dos criminosos chegou a ser sequestrado e torturado para indicar onde moraria um desafeto dos atiradores. Depois, foi executado, assim como o homem procurado, a esposa dele e outro jovem. A chacina aconteceu nos bairros Jardim Carvalho e Jardim Botânico, e engrossa o número de homicídios do último mês: de 23 de junho ao mesmo dia de julho foram pelo menos 29 assassinatos em Porto Alegre, Alvorada e Gravataí. O dado destoa da tendência de queda nas mortes que vinha sendo verificada no primeiro semestre.
A sequência de assassinatos desta terça começou pouco depois da meia-noite, em um casebre na Rua Comendador Eduardo Secco, no bairro Jardim Carvalho. No local, segundo a Polícia Civil, Diego Pedro Cavittione Rodrigues, 21 anos, foi morto. Próximo dali, Pablo Nunes Almeida, 22, foi sequestrado.
Um catador de materiais recicláveis e um vizinho foram baleados nas pernas. Ambos foram atendidos em um hospital e, em seguida, liberados. Para a polícia, eles não tinham envolvimento com o crime e foram atacados por estarem na rua.
O grupo de atiradores seria composto por quatro homens. Segundo testemunhas, eles estavam com os rostos cobertos e chegaram em um carro de cor clara. A polícia ainda estava no local da primeira morte quando o telefone tocou.
— Assim que terminou o trabalho de investigação preliminar do primeiro crime, fomos novamente chamados, com o indiciativo de que um crime grave havia sido cometido: um triplo homicídio. Nos deslocamos até lá e as informações começaram a coincidir. O mesmo número de pessoas envolvidas, modus operandi, mesmos calibres de armas — explicou o delegado Gabriel Bicca.
A investigação chegou ao que seria o elo entre os dois casos: o homem sequestrado. Ele teria sido torturado e chegou a ter um dedo arrancado pelos criminosos, que queriam descobrir onde morava Paulo Ricardo Lima de Oliveira, 32 anos. Após conseguir a informação, o grupo foi até o bairro Jardim Botânico, também na Zona Leste.
Em uma casa na Rua Secundária, na comunidade Juliano Moreira, Paulo Ricardo e a esposa, Karyne Oliveira Silva, 32 anos, foram mortos. Depois, Pablo também foi assassinado no local. Um fio de luz que teria sido usado para amarrar seus pulsos foi encontrado na residência.
— A gente sabe que o alvo foi o Paulo Ricardo, era a vítima que desejavam. Acabaram executando a esposa, Karyne, que estava na residência. A outra vítima do triplo homicídio foi torturada para contar onde Paulo estava — resumiu o delegado Eibert Moreira Neto, diretor de investigações do Departamento de Homicídios.
Para a polícia, as mortes teriam relação com o tráfico de drogas, apesar de nenhuma das vítimas ter antecedentes criminais. Os assassinos seriam ligados ao grupo rival ao que tem base no bairro Bom Jesus.
O vice-governador e secretário estadual da Segurança Pública, delegado Ranolfo Vieira Junior, considera que os recentes casos de homicídio registrados em Porto Alegre e Região Metropolitana são pontuais e não comprometem o quadro geral de redução da criminalidade.
— Os episódios recentes são frutos de conflitos restritos a determinados grupos, e destoam do cenário geral de franca redução da criminalidade, como os índices criminais divulgados pela SSP dos primeiros seis meses do ano comprovam. Depois de nove anos, voltamos a encerrar o primeiro semestre com menos de mil homicídios. Acompanho diariamente os indicadores de criminalidade, e os dados do mês de julho, comparativamente ao mesmo período do ano passado, refletem essa tendência de queda, já observada nos meses anteriores — avalia o secretário.
Uma das razões que vinha sendo apontada para a diminuição nos indicadores é o isolamento de líderes de grupos criminosos em penitenciárias federais, o que ocorreu há dois anos. No entanto, o período de permanência destes apenados fora do Estado terminou e as Varas de Execuções Criminais não autorizaram que o período fosse estendido.
— Qualquer tipo de avaliação ou tentativa de relação com episódios criminais recentes é prematura. Primeiro, porque a decisão que autorizou o retorno da maioria é extremamente recente. Segundo, porque a remoção deles do Estado se deu há dois anos atrás, e em nenhum lugar do mundo um vácuo de liderança permanece vazio por esse período — explicou.
Ranolfo ainda afirmou que preferia que os transferidos fossem mantidos afastados do RS, assim como foi solicitado pelo Ministério Público do Estado.
— Isso não significa que a atuação da Segurança Pública vai modificar a determinação em continuar combatendo e reduzindo o crime no Estado, caso se confirme decisão em contrário.
Mortes ligadas ao tráfico
São, pelo menos, 29 mortes cujas investigações da Polícia Civil apontam que teria ligação com o tráfico de drogas em três municípios da Região Metropolitana: Porto Alegre, Alvorada e Gravataí. Mais da metade — 15 vítimas — foram assassinadas na Capital.
23 de julho - Porto Alegre - 4
Diego Pedro Rodrigues foi encontrado morto no bairro Jardim Carvalho. Duas horas depois, Karyne Oliveira Silva, 32 anos, Paulo Ricardo Lima de Oliveira, 32, e Pablo Nunes Almeida, 22, foram mortos no bairro Jardim Botânico.
21 de julho - Porto Alegre - 2
Wesley Sampaio, 19 anos, e a namorada Sara Moreira de Oliveira, 16, foram executados em um carro na Avenida Doutor Carlos Barbosa. O jovem era jogador da base do São José. O motorista, que seria o verdadeiro alvo, foi baleado no tórax.
21 de julho - Gravataí - 2
Um ataque a tiros no bairro Santa Cruz deixou oito baleados e dois mortos. Maiara Emili Silveira da Silva, 20 anos, e Adélio Junior Souza Antunes, 28 anos, não resistiram.
21 de julho - Porto Alegre - 2
Dois homens morreram em confronto com a BM no bairro Cascata, Zona Leste. Eles seriam líderes do tráfico de drogas na região. Pneus foram queimados na Avenida Oscar Pereira, horas depois.
15 de julho - Porto Alegre - 1
Um homem foi morto a tiros na Avenida Orleans, no bairro Serraria, na Zona Sul. A suspeita é que a morte possa ter relação com o consumo e a venda de drogas na região.
14 de julho - Porto Alegre - 1
Um homem foi assassinado na Rua Edgar Pires de Castro, no bairro Restinga, na Zona Sul. Ele foi atingido por dois tiros dentro do carro e morreu ao lado do veículo.
12 de julho - Porto Alegre - 1
Um homem de 28 anos morreu após ser atingido por disparos. O crime ocorreu na Rua Silvestre Félix Rodrigues, entre os bairros Sarandi e Rubem Berta, na Zona Norte.
12 de julho - Alvorada - 1
Anderson Boaventura de Oliveira, 28 anos, foi encontrado morto a tiros na Rua Almirante Barroso, no bairro Formoza.
11 de julho - Alvorada - 3
Douglas Moreira da Silva, 27 anos, João Pedro Henrique da Silva Pereira, 18, e Matheus Camargo de Oliveira, 20, foram mortos a tiros na Rua Rio Grande, no bairro Maria Regina.
11 de julho - Alvorada - 2
Dois homens foram encontrados mortos a tiros na Avenida Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Tijuca.
30 de junho - Alvorada - 1
Jocimar da Silva de Moura Carvalho, 27 anos, foi morto a tiros. Cinco criminosos invadiram a residência no bairro Umbu e efetuaram os disparos.
30 de junho - Alvorada - 1
Marcelo Oliveira, 39 anos, foi morto na Rua Coronel Genuíno, bairro Formoza. A rivalidade entre facções estaria por trás dessa morte e de uma garota.
29 de junho - Alvorada - 1
Uma adolescente de 14 anos foi morta a tiros na Rua Alcides da Silva Malta, no bairro Formoza por volta das 20h30min.
28 de junho - Porto Alegre - 1
Cláudio Luiz da Silva Lucas Neto, 23 anos, passageiro de um veículo, foi morto a tiros durante corrida, no bairro Nonoai, Zona Sul. O caso é investigado como execução ligada ao tráfico.
26 de junho - Porto Alegre - 3
Os PMs Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30, e um criminoso morreram durante confronto no bairro Partenon, na Zona Leste. O atirador morto é apontado como segurança do tráfico.
25 de junho - Gravataí - 2
Dois homens foram mortos a tiros na Rua Aluízio de Azevedo, no bairro Morada do Vale. A Polícia Civil suspeita que o caso seja uma retaliação ao assassinato de um garoto dois dias antes.
23 de junho - Gravataí - 1
Um adolescente de 13 anos morreu após ser baleado na cabeça, na Rua Santo Antônio, no bairro Santa Cruz. O assassinato teria sido motivado pela rixa entre facções que disputam o tráfico.