Após dois anos isolados, 17 criminosos apontados como líderes de facções têm chances de retornar ao Rio Grande do Sul na segunda quinzena de julho. Para tentar evitar o regresso dos presos, transferidos em julho de 2017 durante a Operação Pulso Firme, o Ministério Público (MP) encaminhou à Justiça pedido para que a permanência em penitenciárias federais seja renovada por mais 360 dias. O grupo isolado soma 387 anos de pena a cumprir por crimes como homicídio, tráfico de drogas e ataques a bancos.
Entre os alvos dessas solicitações do MP, estão criminosos identificados como chefes de seis organizações criminosas. Desses, sete seriam responsáveis pela liderança dos Bala na Cara, facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital. O pedido atinge ainda dois membros da facção Os Manos, com base no Vale do Sinos, e mais oito de outras quatro quadrilhas — Os Primeira, Os Tauras, Os Abertos e V7.
Desses presos, nove estão mantidos na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, sete estão em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e um está em Mossoró, no Rio Grande do Norte. O pedido não atinge todos os 33 presos do RS que atualmente estão mantidos isolados fora do Estado. A solicitação é voltada para os criminosos transferidos a partir da Pulso Firme, que estão próximos do término do prazo de confinamento. Dos 27 enviados durante a ofensiva há quase dois anos, oito regressaram para o RS.
Nesse grupo de 17, pelo menos, ao longo do período em que estão isolados, 16 foram indiciados, denunciados ou condenados por novos crimes. Para o procurador-geral de Justiça do MP, Fabiano Dallazen, o isolamento das lideranças é uma forma de desestabilizar essas organizações criminosas, impactando na redução da criminalidade, como nos índices de homicídios, que estão em queda no Rio Grande do Sul.
— É um isolamento pontual, num universo de 40 mil presos. Mas são eles que mantêm o controle da criminalidade. A transferência, em conjunto com uma série de medidas, foi ponto de partida para a redução dos índices. Em caso de retorno, o risco de um retrocesso seria muito grande. Temos que retirar essas lideranças e continuar investindo para descapitalizar esses grupos e não permitir que outros líderes tomem seus lugares.
O pedido foi encaminhado às Varas de Execuções Criminais (VECs) de Porto Alegre, Novo Hamburgo e Canoas. Se o pedido for aceito pelo judiciário, ainda precisa ser encaminhado à Justiça Federal, que precisa confirmar a permanência dos presos fora do Estado. No ano passado, como a solicitação não foi aceita na VEC da Capital, o MP recorreu com uma ação cautelar ao Tribunal de Justiça do Estado para suspender o retorno dos presos.
Quem são os presos
1. Adriano Pacheco Espíndola, o Baiano, 31 anos
- Pena a cumprir: 19 anos e 5 meses
Possui condenações por três homicídios, fraude processual e disparo de arma de fogo. Em junho, foi pronunciado por homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. É apontado como líder de uma quadrilha, no bairro Restinga, zona sul de Porto Alegre, esteve envolvido nos conflitos entre grupos rivais pelo controle de pontos de tráfico na região.
2. Anderson Bueno Martins, o Fofo, 43 anos
- Pena a cumprir: 45 anos e 8 meses
Possui 10 condenações, por roubo, homicídio, latrocínio, posse e porte de arma de fogo, receptação e uso de documento falso. Responde a outros sete processos. Após a transferência ao presídio federal, foi condenado por roubo. Seria uma liderança de quadrilha especializada em ataques a carros-fortes e caixas eletrônicos.
3. Cássio Alexandre Ribeiro, o Vida Loka, 39 anos
- Pena a cumprir: 11 anos e 7 meses
Uma das lideranças da facção com origem no Vale do Sinos, possui condenações por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, tráfico de drogas e tentativa de latrocínio (roubo com morte). Responde ainda por associação para o tráfico, organização criminosa, tráfico de drogas, homicídio e corrupção de menores.
4. Caio Cezar Pereira da Silva, o Caio Loco, 33 anos
- Pena a cumprir: 3 anos
Considerado o líder de quadrilha com atuação na Vila Cruzeiro, no bairro Santa Tereza. É condenado por tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e receptação. Responde por homicídio e roubo.
5. Daniel Araújo Antunes, o Patinho, 37 anos
- Pena a cumprir: 18 anos
É apontado pela Polícia Civil como um dos líderes de uma das quadrilhas mais violentas da Capital, com atuação no Loteamento Timbaúva, no bairro Mario Quintana, que forma o grupo Anti-Bala. Com origem no bairro Rubem Berta, foi preso em 2011, mas, segundo a polícia, não deixou de comandar o grupo responsável por casos de decapitação ocorridos desde 2016 na zona norte de Porto Alegre. Possui condenações por roubo e homicídio, entre outros crimes. Responde por outros cinco processos por homicídio.
6. Dezimar de Moura Camargo, o Tita, 38 anos
- Pena a cumprir: 12 anos e 10 meses
Tem origem no bairro Passo das Pedras e, até o começo da década, fazia parte de quadrilha com atuação na zona norte de Porto Alegre. Possui condenações por homicídio, associação criminosa, roubo, fuga, porte de arma e receptação. Responde a três processos por homicídio, dois por associação criminosa e dois por tráfico de drogas.
7. Diego Moacir Jung, o Dieguinho, 36 anos
- Pena a cumprir: 42 anos e 2 meses
É apontado pela polícia como um dos principais especialistas em ataques a bancos com explosivos, em 2006 chegou a ser preso com Oséas Cardoso, o Português, considerado um dos membros do PCC. Foi condenado por roubos, associação criminosa e extorsão mediante sequestro, entre outros crimes. Responde por latrocínio, roubo majorado, associação criminosa, sequestro e cárcere privado.
8. Fábio Fogassa, o Alemão Lico. 41 anos
- Pena a cumprir: 38 anos e 7 meses
Um dos principais líderes da facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital. É considerado pela polícia um dos principais articuladores da facção. A partir da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) comandaria o tráfico de drogas, sobretudo, da Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, zona sul de Porto Alegre. É condenado por roubos, dois homicídios e porte ilegal de arma de fogo. Responde por homicídios, corrupção de menores e extorsão.
9. Jonatha Rosa da Cruz, o Vick, 37 anos
- Pena a cumprir: 46 anos e 3 meses
É considerado um dos criminosos envolvidos em ações de explosões a banco e ataques estilo cangaço pequenas cidades no Estado. Fugiu da cadeia em 2016 e voltou a ser preso. Integrante da gangue da Ladeira, um dos braços fortes da facção do Vale do Sinos, com atuação em Gravataí. Foi alvo da Operação Clivium, em 2015. É condenado por roubo, receptação e porte de armas de fogo de uso restrito (fuzis), entre outros.
10. Juliano Biron da Silva, o Biron, 36 anos
- Em prisão preventiva
Apontado pela polícia como um dos líderes e financiadores de facção com origem no Vale do Sinos, responde pela morte do fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni, 23 anos, em Canoas, por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fuga de preso. Cumpre pena preventiva desde janeiro de 2016, por homicídio e ocultação de cadáver. Foi condenado por roubo a banco, porte de arma de fogo e formação de quadrilha e tráfico de entorpecentes, crimes pelos quais já cumpriu a pena. Foi alvo das operações Túnel Santo, Harpia e Roedor.
11. Leonardo Ramos de Souza, o Peixe, 37 anos
- Pena a cumprir: 13 anos e 3 meses
É apontado pela polícia como líder no Morro da Embratel, em Porto Alegre. Estaria por trás de ataques a ônibus na Capital em 2015. É condenado por tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Responde por sete homicídios, tráfico de drogas, associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e corrupção de menores.
12. Letier Ademir Silva Lopes, o Letier, 37 anos
- Pena a cumprir: 31 anos e 1 mês
Natural de Santo Cristo, tem atuação criminosa especialmente em Canoas, entre os bairros Estância Velha e Guajuviras. Segundo o MP, é vinculado à facção que domina o tráfico no bairro Bom Jesus. É condenado por homicídios, roubo e tráfico de drogas. Responde a processos por homicídio qualificado e corrupção de menores. No ano passado, foi denunciado por lavagem de dinheiro a partir da Operação Canal Aberto.
13. Márcio Oliveira Chultz, o Alemão Chultz ou Alemão Márcio, 38 anos
- Pena a cumprir: 19 anos e 10 meses
Ocupava posição de principal gerente de facção nascida no bairro Bom Jesus, na Capital, coordenando todas as ações da facção. É condenado por homicídios, receptação, sequestro e cárcere privado, e tráfico ilícito de entorpecentes, entre outros crimes. Responde a sete processos por homicídio qualificado. É um dos indiciados e denunciados pela morte de um homem, que foi julgado pelo tráfico e queimado vivo no bairro Bom Jesus em janeiro, período no qual estava em penitenciária federal.
14. Milton de Melo Ferraz, o Milton, 47 anos
- Pena a cumprir: 57 anos e 8 meses
É apontado pela polícia como um dos líderes do tráfico no bairro Restinga. Comandaria gangue aliada à facção do bairro Bom Jesus, que também atua no bairro da zona sul de Porto Alegre. É condenado por tráfico de drogas e homicídio.
15. Risclei Bueno Martins, o Pelico, 48 anos
- Pena a cumprir: 42 anos e 5 meses
Possui sete condenações por roubo e duas por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, entre outros crimes. Responde a processo por homicídio qualificado. Enquanto estava em penitenciária federal, foi condenado por cinco crimes. É apontado como integrante de quadrilha de roubos a bancos, caixas eletrônicos e ataques a carros-fortes na Região Metropolitana.
16. Vanderlei Luciano Machado, o Lelei, 41 anos
- Pena a cumprir: 86 anos e 7 meses
Criminoso com atuação na região de Santa Maria, tem origem nos roubos a banco e, depois de preso na Pasc, teria estreitado laços com uma facção. Coordenaria uma rede de tráfico de drogas da Região Metropolitana para a Região Central. Possui condenações por dois homicídios, furto e constrangimento ilegal, cinco roubos, receptação e resistência. No ano passado, na operação "AntiBala", foi denunciado por lavagem de dinheiro.
17. Wagner Nunes Rodrigues, o Minhoquinha, 34 anos
- Pena a cumprir: 43 anos e 3 meses
Irmão do traficante José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, já transferido para penitenciária federal no início de 2017, é considerado um dos herdeiros do poder no tráfico de drogas da Vila Safira, no bairro Mario Quintana, zona norte de Porto Alegre, e articulador da facção com origem no bairro Bom Jesus. É condenado por homicídio, latrocínio, tráfico de drogas, associação criminosa e roubo. Responde a nove outros processo, quatro deles por homicídio.