O Tribunal de Justiça (TJ) aceitou, nesta quarta-feira(29), pedido da defesa e determinou que o júri do ex-PM Alexandre Camargo Abe, 38 anos, acusado de matar o boxeador Tairone da Silva, 17 anos, em março de 2011, seja realizado em Porto Alegre.
Os advogados solicitaram o desaforamento do júri — ou seja, julgamento em outra comarca — alegando falta de segurança no fórum de Osório. Uma sessão chegou a ser iniciada em abril, mas foi suspensa após os advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé afirmarem que foram ameaçados e intimidados dentro do fórum e que não estariam em condições de garantir "a plenitude da defesa do acusado".
A juíza Anna Alice da Rosa Schuh, que presidia a sessão, discordou da alegação, mas como a defesa manteve a posição de abandonar o pleito, ela dissolveu o conselho de sentença. Além de determinar pagamento de multa pelos advogados, ainda decretou a prisão preventiva de Abe.
O réu foi preso dentro do fórum, mas acabou sendo beneficiado com um habeas corpus neste mês e vai aguardar o julgamento em liberdade. Com a decisão de transferir o local do júri, a nova sessão prevista para o dia 6 de junho também deve ser alterada.
Relembre o caso
Com apenas 17 anos, o campeão brasileiro e sul-americano de boxe Tairone Silva foi assassinado no dia 11 de março de 2011. Na época, a investigação apurou que Alexandre Camargo Abe tinha uma rixa com jovens que frequentavam uma casa abandonada, perto da sua, em Osório. O policial afirma que era provocado pelo boxeador, depois que advertiu o grupo de amigos.
Segundo a denúncia do Ministério Público, oferecida pelo promotor de Justiça Márcio Roberto Silva de Carvalho, que foi designado para atuação conjunta no júri, "o crime teria sido motivado por intolerância do denunciado com o grupo de jovens, bem como em face do sentimento de inveja e frustração de não impor a sua condição de policial à vítima."
A promotoria também afirma que "tais sentimentos teriam aflorado com o fato de a vítima não ter atendido seu chamado e, em represália, sentindo-se ultrajado e desprezado, efetuou os disparos fatais, impedindo qualquer espécie de reação". A investigação apurou que o policial já havia feito ameaças à vítima.
Procurada em dezembro do ano passado, a defesa do réu enviou nota na qual afirmou que só se manifestaria "nos autos do processo, preservando a ética e o respeito ao Juízo". Abe ficou cerca de dois anos preso e depois foi expulso da Brigada Militar. Durante o período de liberdade, ele se formou no curso de Direito e obteve inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil.