Laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) descreveu, na conclusão, que os policiais envolvidos na operação em Pareci Novo, no Vale do Caí, em maio do ano passado, dispararam entre 117 e 123 vezes, sendo que entre 82 e 85 tiros teriam sido feitos com fuzis.
A soma foi feita com base nos relatos dos policiais envolvidos na ação que resultou na morte do inspetor Leandro de Oliveira Lopes, 30 anos. O policial foi morto por um tiro de fuzil que o atingiu pelas costas.
Os relatos dos policiais foram coletados pelo IGP para a Reprodução Simulada dos Fatos (RSF), conhecida como reconstituição. Por meio de fotografias, o exame reproduz em cenas o que está sendo contado pelas testemunhas. E nestes relatos cada policial indicou a quantidade de disparos que fez na manhã de 2 de maio. O IGP trabalhou durante três dias no local do fato.
Depois de feita a reprodução, o material foi organizado e analisado a partir de comparação com outros laudos periciais e documentos que sejam úteis na apuração. O resultado deste trabalho foi um laudo pericial de 168 páginas com 409 fotografias das cenas reproduzidas. Na conclusão do IGP foi explicada a impossibilidade de apontar quem atirou em Lopes, já que houve "incongruência" nos relatos. Trecho do laudo diz:
"Percebe-se incongruência no conjunto de relatos entre os itens "momento de início de disparos realizados por policiais" e "momento em que Leandro foi ferido", uma vez que os participantes que portavam fuzis e estavam posicionados (conforme suas versões) posteriormente a Leandro referem ter realizado disparos somente após tomar conhecimento de que o mesmo havia sido atingido. Já o único policial que portava fuzil e que afirma ter efetuado disparos anteriormente ao aviso de que a vítima teria sido atingida afirma que estaria progredido em relação à mesma (ou seja, mais à frente). Tais colocações são incompatíveis com a dinâmica da ocorrência , considerando um disparo de fuzil atingindo a vítima pelas costas".
Perícias balísticas
foram inconclusivas
Sem poder estabelecer com precisão a posição de cada policial e também do inspetor morto, a perícia foi inconclusiva no que se refere ao autor do disparo.
"Não foi possível tecer considerações adicionais sobre posição da vítima e atirador devido à falta de elementos que pudessem indicar/comprovar a localização e o posicionamento de Leandro no momento em que foi atingido pelo projétil de arma de fogo", diz trecho da perícia.
Também foram inconclusivas as perícias balísticas, ou seja, os exames que buscavam identificar de que arma partiu o tiro que matou Lopes. A comparação não pode ser feita devido aos estragos existentes no projétil extraído do corpo de Lopes. Mas não há dúvida de que o tiro que o matou partiu de um fuzil.
Para investigar as circunstâncias da morte do inspetor o delegado regional de Montenegro, Marcelo Farias Pereira, solicitou 14 perícias. O material serviu para embasar as conclusões do inquérito que tem três volumes e 500 páginas. Foram ouvidas 26 testemunhas, entre elas, 24 policiais que participaram da operação, além de uma vítima de roubo e um dos suspeitos, Paulo Ademir de Moura. Ele estaria na casa no dia da operação e foi preso dias depois, mas se manteve em silêncio durante o depoimento.