Quando ouviu gritos vindos da Escola Estadual Professor Raul Brasil, na manhã desta quarta-feira (13), em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, a aposentada Ivone Taboada, 66 anos, pensou se tratar de mais uma competição esportiva. Acostumada à corriqueira algazarra dos estudantes, a vizinha de fundos da instituição escolar levou 10 segundos para perceber que estava enganada: naquele momento, ela se tornava testemunha de um massacre.
Em uma cena que lembraria a tragédia de Columbine, emblema da violência nos Estados Unidos do fim da década de 1990, dois atiradores – ex-alunos da instituição – entraram no colégio disparando. Mataram cinco alunos, duas funcionárias, deixaram 11 feridos e espalharam pânico pelas salas, corredores e refeitório. Antes, ainda tiraram a vida de um empresário - tio de um dos atiradores. Acabaram eles próprios mortos — a polícia investiga a possibilidade de um deles ter atirado no outro e se suicidado.
— Foi assustador. Primeiro achei que tinha um campeonato. Ouvi o que parecia uma bombinha e uma torcida. Mas aí vieram mais estampidos e mais gritos. Subi no terraço e vi todo mundo correndo. O pessoal começou a pular o muro aqui na frente. Senti muito medo. Aqui sempre foi um lugar tão tranquilo — lamenta Ivone.
O drama de Suzano começou pouco depois das 9h, quando Guilherme Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, pararam na locadora e lava-rápido Jorginho Veículos, de Jorge Antônio Moraes, tio do adolescente. O proprietário acabou baleado e não resistiu ao ferimento.
Os dois deixaram o local, próximo à escola, em um Onix branco. Armados com um revólver calibre 38, munidos de quatro carregadores, uma besta (arma que dispara flechas), machados e artefatos que pareciam ser explosivos, chegaram no intervalo das aulas.
Uma câmera de segurança da escola flagrou o início do ataque. O vídeo tem pouco mais de um minuto. Um deles entra pela porta do saguão, onde está um grupo de estudantes e funcionários. Saca o revólver e começa a atirar. Uma aluna e a coordenadora pedagógica desabam no chão. Em seguida, o algoz parte em direção ao pátio.
Segundos depois, o outro atirador entra na escola. Traz nas mãos a besta e uma mochila, de onde retira a machadinha. Desfere golpes contra as vítimas. Dezenas de alunos correm em direção à porta, tentando fugir. Ele tenta impedi-los e depois segue atrás do comparsa.
Os policiais chegaram ao local oito minutos após os primeiros chamados. Entraram na escola e encontraram os atiradores em um corredor. Eles tentavam entrar em uma sala de aula. Segundo o comandante-geral da PM, Marcelo Vieira Salles, ao que tudo indica, quando viram a Força Tática, “entraram para dentro de um corredor e um deles atirou na cabeça do outro. Depois, esse se suicidou.”
Os investigadores buscam agora descobrir as causas que levaram os dois jovens a realizarem um massacre na escola na qual estudaram. Nesta quinta-feira (14), os colegas e os funcionários da Raul Brasil, vítimas do ataque, estarão juntos pela última vez. Serão velados lado a lado em um ginásio de Suzano.