O que se sabe até agora sobre os dois jovens que mataram cinco adolescentes e três adultos antes de combinarem suas mortes em Suzano, na Região Metropolitana de São Paulo, aponta para personalidades tranquilas e cordatas com os vizinhos do bairro. Paralelamente, nos porões da internet, formava-se a dupla de monstros responsável pela barbárie desta quarta.
Em meio a um país chocado, uma comunidade estava especialmente perplexa com a chacina. Trata-se do entorno da Avenida Mogi das Cruzes, no bairro Jardim Imperador, onde o comércio de rua funciona como em cidades pequenas: com estabelecimentos acotovelados um ao outro e os respectivos proprietários conhecidos entre si.
Ali funcionava a JVV Veículos, concessionária e lava-rápido de Jorge Antonio de Moraes, tio de um dos assassinos, o adolescente Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e primeira vítima da manhã. Ambos eram rostos conhecidos na região.
— O Jorginho era uma pessoa ótima. Trabalhava há décadas aqui. O garoto, nós conhecíamos de vista. Conhecíamos melhor os avós, que criaram ele. A avó faleceu recentemente. Sabíamos que ele era meio "fumeta", mas acreditávamos que era inofensivo — declara uma funcionária da Padaria Nova Imperador.
No local, por volta das 9h, Jorge tomou café da manhã, como fazia todos os dias. Segundo os vizinhos, ele caminhou em companhia de um amigo para comprar uma folha de papel sulfite em um bazar do outro lado da rua e em seguida entrou no lava-rápido para abri-lo. Esse amigo chegou a ouvir um rapaz se aproximar e perguntar:
— É você que é o Jorge?
Embora a polícia tenha divulgado preliminarmente que Guilherme matou o tio, essa cena leva os vizinhos a crer que o autor dos disparos foi o segundo assassino, Luiz Henrique de Castro, de 25 anos. A motivação pode ser uma rusga antiga entre tio e sobrinho: há cerca de dois anos, Jorge teria contratado e, logo depois, demitido Guilherme do lava-rápido.
Depois de um dos atiradores alvejarem Jorge com três tiros, a dupla seguiu em um carro alugado até a Escola Professor Raul Brasil, a 700 metros dali, onde ambos haviam estudado. Lá, antes dos adolescentes, eles mataram outra personagem conhecida e querida no bairro, a coordenadora pedagógica Marilena Ferreira Vieira Umezo.
Sobre Luiz Henrique, o mais velho dos atiradores, pouco se sabe. Sua família também seria de idosos, surpresos com o crime. Também se comenta que os dois rapazes eram vizinhos na Rua Sete de Setembro, a cinco quadras dali. Quem melhor se recorda dele é a responsável pela Drogaria Indaiá, há 39 anos na região, que pede para não ter o nome divulgado.
— Desde criança a mãe trazia ele aqui para tomar injeção, então ele me chamava pelo nome. Depois de adulto, vinha sempre fazer recarga de celular. Me chamava a atenção que ele fazia recarga com trocados para me ajudar no caixa. Era uma garoto educado, gentil até. Agora, você imagina como eu fiquei quando soube que esses rapazes machucaram o filho de uma cliente minha, aqui, com uma machadinha — conta a microempresária.
Indícios apontam que pela internet, todavia, Luiz Henrique tinha uma personalidade paralela com traços de fascínio por armas e fanatismo religioso. Na tarde desta quarta, uma reportagem do Portal R7 apontou que Luiz Henrique e Guilherme seriam frequentadores de um fórum clandestino na rede onde pegaram dicas para comprar armamentos.
Na quinta-feira, um dos membros da dupla teria postado uma mensagem agradecendo os "conselhos e orientações". No texto, o autor se diz espantado com a qualidade "digna de filmes de Hollywood" do que recebera de um contato, possivelmente as armas. Segundo o texto, a postagem de uma música seria a senha para que, em no máximo três dias, eles estivessem "diante de Deus, com nossas sete virgens". "Nascemos falhos, mas partiremos como heróis", diz a postagem.
Antes da matança, Guilherme publicou em redes sociais fotos mostrando as armas e os trajes que vestiria. Os perfis da dupla foram bloqueados pelas autoridades para investigação. A barbárie terminaria horas depois, com o adolescente alvejando Luiz Henrique e a si mesmo em seguida. Já as incógnitas sobre as motivações, seguem.