A força-tarefa do Ministério Público (MP) de Goiás que apura as denúncias de crimes sexuais que teriam sido cometidos pelo médium João de Deus recebeu 40 relatos em apenas um dia. As informações foram divulgadas pelo próprio MP, nesta segunda-feira (10).
De acordo com os promotores, 35 dos casos foram denunciados através do e-mail denuncias@mpgo.mp.br. A instituição pretende colher depoimentos de todas as pessoas que acusam o médium nos próximos dias.
O grupo é composto por promotores, coordenadores de centros de direitos humanos e psicólogas. Um procedimento específico para o fechamento da casa onde o médium atende ao público foi iniciado.
Luciano Meireles, coordenador do centro de apoio operacional criminal do Ministério Público de Goiás, afirmou que vítimas de outros Estados podem buscar também o MP mais próximo para prestar depoimentos. As investigações ficarão concentradas em Goiás.
De acordo com as investigações, não está descartada a determinação da prisão preventiva do médium e do fechamento da casa onde ele presta atendimento.
— Testemunhas que saibam de qualquer atendimento podem entrar em contato com o Ministério Público, incluindo as que vivem no Exterior — afirmou a coordenadora do centro de apoio operacional de Direitos Humanos, Patrícia Otoni. — É importante que todas prestem depoimentos, para que possamos somar o que ocorreu no local — disse a coordenadora.
Além dos depoimentos, a força-tarefa deverá realizar uma avaliação de processos arquivados contra o líder religioso por falta de provas.
— Identificamos alguns processos. Conforme depoimentos forem coletados, poderemos reabrir os casos.
Investigação
A promotora Gabriela Manssur, de São Paulo, informou que, desde que as suspeitas foram reveladas no programa Conversa com Bial, da TV Globo, foi procurada por mais de 200 mulheres que também fazem relatos semelhantes – ela participou da entrevista exibida na madrugada de sábado. Há casos que teriam ocorrido com adolescentes.
Segundo o Ministério Público, outras denúncias foram encaminhadas à Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) ainda no primeiro semestre deste ano para que fossem investigadas. Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou que existe um inquérito em curso na Delegacia Estadual de Investigações Criminais há cerca de três meses. O caso está sob sigilo. Ainda de acordo com a Polícia Civil, mais mulheres procuraram delegacias no fim de semana alegando terem sido vítimas de João de Deus.
Reconhecido por atuar há 42 anos em seu "hospital espiritual", João de Deus, de 76 anos, é acusado pelas supostas vítimas de abusos praticados dentro da Casa Dom Inácio de Loyola, fundada em 1976, em Abadiânia. Nos relatos, as mulheres dizem que visitaram o local como pacientes, em busca de tratamento espiritual, mas foram surpreendidas pelo comportamento do médium.
No domingo, uma gaúcha de 36 anos, que não teve o nome divulgado, afirmou ter sofrido abuso do médium. Antes dela, outra mulher do Rio Grande do Sul também o acusou ao jornal O Globo.
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou ao Fantástico, da TV Globo, que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos. Além disso, declarou que os atendimentos são realizados, por padrão, em grupo, e não individualmente.