A bancária assassinada a tiros na noite de terça-feira (11), na zona sul de Porto Alegre, esteve na Delegacia da Mulher horas antes do crime. Mas, segundo a Polícia Civil, apesar das ameaças que vinha sofrendo, preferiu não representar contra o ex-companheiro. Michele Pires, 35 anos, foi morta no apartamento onde residia, no bairro Ipanema. Alisson Frizon, 31 anos, policial militar que estava afastado das funções, foi preso em flagrante após o crime.
Segundo a delegada Tatiana Bastos, a mulher foi chamada até a Delegacia da Mulher. A polícia havia recebido denúncia da mãe da vítima sobre as ameaças que a bancária estaria sofrendo. Ela esteve na delegacia na tarde desta terça-feira (11), menos de 12 horas antes de ser morta.
— Intimamos essa vítima para vir à delegacia. Conversamos com ela, orientamos que estava em situação de risco. A mãe havia feito a ocorrência e não ela. Por isso, não houve solicitação de medida protetiva — explica Tatiana.
Embora a vítima não tenha decidido representar contra o ex por conta das ameaças, conforme a delegada, foi aberto procedimento pela perturbação. Neste caso, não há necessidade de representação por parte da vítima.
— Ontem à tarde (terça-feira) estávamos iniciando a investigação, por conta do histórico dele, por ter arma. Orientamos, mas ela não quis nenhum tipo de encaminhamento para rede de proteção. Talvez isso pudesse ter salvado a vida dela — diz Tatiana.
Ontem à tarde estávamos iniciando a investigação, por conta do histórico dele, por ter arma. Orientamos, mas ela não quis nenhum tipo de encaminhamento para rede de proteção. Talvez isso pudesse ter salvado a vida dela.
TATIANA BASTOS
Delegada de Polícia
A delegada disse que Michele parecia bastante feliz, por estar no novo endereço. A bancária fazia uma confraternização, com amigos, que presenciaram o crime. Frizon teria pulado o muro do condomínio para ingressar no local.
Ao chegar ao apartamento, o policial teria mostrado as mãos machucadas e alegado precisar de ajuda. Testemunhas disseram que uma discussão entre os dois começou. Em seguida, ele teria sacado a arma. Segundo a delegada Tatiana, o autor descarregou a pistola calibre 380 dentro do local e três tiros atingiram a vítima. Ninguém mais ficou ferido. O filho da vítima, de 12 anos, estava no apartamento.
— Ontem à tarde ela não parecia preocupada, acreditava que estava conseguindo contornar a situação. Mas ele estava há dias a ameaçando. Não disse que iria matá-la, mas dizia que ela teria uma surpresa em breve — conta Tatiana.
Rompimento há seis meses
Michele, que trabalhava em agência do Bradesco na Zona Sul, e Frizon mantiveram relacionamento por cerca de quatro anos, mas estavam separados havia seis meses. O rompimento teria ocorrido justamente porque o policial militar foi preso em operação da Corregedoria e do Ministério Público (MP). Por isso, estava afastado das funções desde junho.
— Ela não aceitou aquela situação, dele ser apontado por crimes graves. Mas ele não aceitava o fim, o término do relacionamento. Estava incomodando ela há um certo tempo, segundo relatos dos familiares — afirma Tatiana.
Conforme a delegada, Michele estava há pouco tempo nesse novo endereço, mas Frizon já havia tentado invadir o condomínio. A mulher inclusive havia avisado ao condomínio, segundo a delegada, para que impedisse o acesso do ex-companheiro, caso ele tentasse chegar ao apartamento dela.
— Isso era em relação ao condomínio, mas não tínhamos nenhuma ocorrência dela contra ele. Estava iniciando a reconstrução da vida dela, depois desse rompimento _ afirma a delegada.
O suspeito foi contido e preso por um policial civil, que reside no mesmo condomínio, logo após o crime. Ele foi autuado em flagrante. Os amigos de Michele e o policial civil que fez a prisão foram ouvidos. Frizon decidiu permanecer em silêncio. Ele está recolhido no Presídio Policial Militar. O corpo de Michele será velado a partir das 16h, no Cemitério São Miguel e Almas, e o sepultamento está previsto para as 19h.
Afastado
O comandante do Comando de Policiamento da Capital, tenente-coronel André Córdova, afirmou que o soldado estava afastado das funções devido à operação da Corregedoria e do Ministério Público, que investigou a ligação de um grupo de policiais com facção da Capital.
— Ele não exercia nenhuma função. Estava afastado totalmente da atividade policial desde junho desse ano — disse.
Quatro casos no RS em dois dias:
Porto Alegre - 23h30min
Terça-feira, 12 de dezembro - Michele Pires, 35 anos
O caso - A mulher foi morta a tiros dentro de um apartamento na Avenida Juca Batista, bairro Ipanema, na Zona Sul. Ela foi atingida por três disparos. O ex-companheiro dela, Alisson Frizon, 31 anos, soldado da Brigada Militar, afastado das funções desde junho, foi preso em flagrante. O filho da vítima, de 12 anos, presenciou o crime.
São Nicolau - 14h40min
Terça-feira, 12 de dezembro - Natiele de Ávila Aleixo Siqueira, 28 anos
O caso - Morreu após ser esfaqueada no município da Região das Missões. Teria sido atacada na Rua Ernesto Balduíno Hofman, chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. O suspeito - que não teve o nome divulgado - não teria aceitado o fim do relacionamento. Ele foi localizado horas depois do crime e preso pela BM. A vítima deixa dois filhos, um adolescente de 12 anos e um bebê de dois anos, frutos do relacionamento com o ex.
Canela - 19h40min
Segunda-feira, 11 de dezembro - Lucrécia da Silva, 34 anos
O caso - Foi morta com dois tiros no município da Serra. O crime ocorreu na Rua Caxias, no bairro Santa Teresinha. Segundo a Brigada Militar, um homem de 47 anos, suspeito de ser o autor dos disparos, foi encontrado morto a duas quadras do local. A suspeita é de que Gilmar Pires Pereira tenha se suicidado após matar a vítima. Conforme a polícia, eles eram ex-companheiros.
Cachoeirinha - 5 horas
Segunda-feira, 11 de dezembro - Noemi Camargo Pereira, 48 anos
O caso - Foi morta a facadas dentro da própria casa em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. O corpo da vítima foi encontrado por familiares na cozinha da casa, na Rua Luís Borges Dimers, no bairro Moradas do Bosque. O crime só foi descoberto à noite, após familiares não conseguirem contato com o casal e irem até a residência. A suspeita é que o crime tenha sido cometido pelo companheiro Marco Antonio Piecha Pereira, 50 anos. Ele foi encontrado enforcado nos fundos da casa. O casal, que deixa duas filhas, estava em processo de separação.