Quando uma jovem de 19 anos ouviu os gritos da irmã na esquina de casa, em São Jerônimo, na Região Carbonífera, não havia mais tempo para socorrê-la. Correu para a rua e deparou com Giulia Faleiro Nascimento, 16 anos, golpeada por 12 facadas.
Poucos meses antes, a vida das irmãs era muito diferente. As três jovens, de 15, 16 e 19 anos, viviam com a mãe, Liziane Faleiro Oliveira, 34. A casa estava sempre agitada, perfumada e colorida. Um cenário que começaria a mudar quando a mãe adoeceu. Por dois meses, as filhas iam e vinham do hospital. Uma complicação causada por uma meningite levaria a mulher à morte em pouco tempo. Em 2 de junho, um sábado, Liziane não resistiu.
Na segunda-feira, dois dias depois, as irmãs receberam uma visita: o primeiro namorado de Giulia, Gabriel Borba Rigotti, 18 anos, com quem ela terminara o relacionamento seis meses antes. A mãe havia proibido a relação, que tinha se estendido por dois anos. O rapaz havia se mudado para outra cidade, mas retornou após constatar a ausência de Liziane.
Giulia não queria mais namorar com ele. Respondeu negativamente às sistemáticas insistências do rapaz, que a procurou em casa e na escola naqueles dias. Na quinta-feira à tardinha, cinco dias após a morte de Liziane, Giulia contou à irmã que estava incomodada com a presença do ex. As duas decidiram que, no dia seguinte, iriam à polícia.
Naquela mesma noite, Giulia saiu para jantar com o garoto que estava começando a namorar. A residência dele ficava a quatro quarteirões de sua casa. Por volta das 23h, Giulia decidiu voltar caminhando, acompanhada do novo namorado. No trajeto, depararam com Gabriel.
— A Giulia não conseguiu correr. Ele a pegou pelo braço. Quando saí correndo, ela estava no chão, não falava mais. Gritei, fiz o que pude. Ela deu os últimos suspiros abraçada em mim — conta a primogênita, que prefere não ser identificada.
Era uma família grande e feliz. Agora somos só duas. Está sendo bem difícil. A gente ficou desestabilizada, sem entender. Não durmo. Não tenho mais vontade de sair, de fazer nada. Fico imaginando a dor que ela sentiu. Tudo isso vem à minha cabeça.
IRMÃ DE GIULIA
19 anos
O suspeito foi preso na manhã seguinte. Gabriel é réu por homicídio qualificado por motivo torpe, com recurso que dificultou defesa da vítima e feminicídio.
Uma semana após o velório da mãe, as irmãs se viram outra vez na mesma capela. Dessa vez, para velar Giulia. O local estava lotado de adolescentes. A garota fazia amizades com facilidade. Sua escola decretou luto e cancelou as aulas.
— Sempre fomos apegadas. Era uma família grande e feliz. Agora somos só duas. Está sendo bem difícil. A gente ficou desestabilizada, sem entender. Não durmo. Não tenho mais vontade de sair, de fazer nada. Fico imaginando a dor que ela sentiu. Tudo isso vem à minha cabeça. E, querendo ou não, a gente sabe que ela não vai ser a última — lamenta a jovem.
Segundo a Polícia Civil, Gabriel se reservou ao direito de permanecer em silêncio sobre o caso.
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