Em pouco mais de um mês, Porto Alegre registrou cinco mortes de pessoas suspeitas de assaltos. Nos quatro casos, ocorridos entre 24 de agosto e 27 de setembro, os autores dos disparos teriam sido as próprias vítimas do roubo ou testemunhas. Em todas as ocorrências, o atirador não ficou no local do crime. Em dois casos, a polícia ainda tentar chegar à autoria.
Em duas situações, em que a investigação conseguiu identificar suspeitos, a Polícia Civil não pretende indiciar essas pessoas. Os episódios serão considerados legítima defesa em nome próprio ou de terceiros, o que os isenta, em um primeiro momento, criminalmente.
O primeiro caso se deu após uma tentativa de roubo de veículo em que um dos três assaltantes, um adolescente de 17 anos morreu atingido por um disparo em 24 de agosto, no bairro Jardim Europa, em frente a um shopping. O atirador fugiu e não se apresentou até hoje à 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Por meio de câmeras, a polícia identificou um homem, de 57 anos, que portava um revólver. Para a delegada Luciana Smith, ele agiu em legítima defesa, mas errou ao não se apresentar. A policial ainda não finalizou o inquérito e vai definir se ele será indiciado por porte ilegal de arma de fogo.
— Agiu em legítima defesa de terceiro. Incorreto foi o fato de não se apresentar e ainda dispensar a arma utilizada — afirma.
Apenas um dia depois, em 25 de agosto, o segundo caso. Uma farmácia na Avenida Cristóvão Colombo, no bairro Floresta, foi alvo de dois homens que teriam tentado assaltar o estabelecimento. A dupla foi morta a tiros. Conforme o delegado Alexandre Vieira, um cliente pegou a arma de um dos assaltantes e abriu fogo.
Felipe Cabreira, 29 anos, e Rafael Assunção Dorneles, 33 anos, foram mortos a tiros. Segundo o delegado, os dois tinham antecedente por roubo. A gerente da farmácia será ouvida novamente nesta semana para confirmar alguns detalhes.
— Ele (o cliente) confessou o crime. O inquérito deve ser remetido com esse entendimento da legítima defesa. Não vejo como responsabilizá-lo, já que os depoimentos indicam para isso — afirma Vieira.
O suposto autor dos disparos se apresentou voluntariamente à Polícia Civil, conforme o delegado. Funcionários e o suspeito foram ouvidos e, para o Vieira, deram relatos coincidentes. A câmera de segurança da farmácia não estaria funcionando. Para o delegado, o autor teria agido em legítima defesa.
Em outro caso, ocorrido no bairro Bela Vista, a polícia ainda tenta identificar o autor dos disparos. Em 19 de setembro, na Rua Barão do Ubá, Thiago Alves Ângelo, 31 anos, foi encontrado morto por moradores dentro de um veículo roubado. Segundo a delegada Roberta Bertoldo, Ângelo tinha antecedentes por roubo de veículo e tráfico de drogas.
Para a polícia, o homem roubou um veículo com um comparsa e teria tentado levar outro automóvel, quando a vítima atirou na dupla. Os disparos atingiram as costas e a cabeça de Ângelo. Conforme a delegada, o atirador ainda não foi identificado, mas há avanços na investigação. Ela prefere não dar detalhes para não atrapalhar a apuração.
Morto dentro da PUCRS
O caso mais recente ocorreu em 27 de setembro, no Campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), no bairro Partenon. Rafael Giovane Silveira da Silva, 26 anos, foi encontrado morto em um vão entre um corrimão e o prédio 50 da universidade, com as mãos juntas e para trás do corpo. Os disparos atingiram o homem em um dos braços, no tórax e no pescoço, próximo da cabeça.
A Polícia Civil afirma que ele seria suspeito de cometer crimes na universidade. Um dia antes de ser morto, teria sido abordado por seguranças e levado para uma delegacia sob suspeita de furtar bicicletas. Uma testemunha teria visto um homem sendo abordado e imobilizado por ao menos duas pessoas. O delegado Rodrigo Reis, da 1ª DHPP, pediu a lista de seguranças que estavam no local no momento dos disparos e deve ouvi-los nos próximos dias.