Após enumerar cinco mortes de suspeitos de assaltos em pouco mais de um mês em Porto Alegre, GaúchaZH ouviu especialistas sobre os riscos de reagir à ação de criminosos.
Para Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, sociólogo, professor da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse tipo de reação pode gerar resposta mais violenta por parte de quem pretende cometer um crime. Para o especialista, há uma ideologia disseminada de que a criminalidade cresce porque o cidadão não reage.
— É um discurso absolutamente equivocado. Ele apenas acirra a violência. Pessoas que podem ter intenção de praticar crimes vão atuar de forma mais violenta. É extremamente preocupante. Pode estar por trás disso o discurso da insegurança, do medo do crime, e o estímulo ao cidadão para que reaja, inclusive pelo debate eleitoral — argumenta.
O sociólogo entende que o período é curto para indicar uma tendência, mas alerta para o que entende como uma interpretação equivocada de legítima defesa. Para Azevedo, um furto ou roubo não autoriza a vítima a revidar de forma letal.
— A legítima defesa é autorizada em situações muito específicas, onde não há outra alternativa, em defesa da vida. A ideia de que bandido bom é bandido morto é que autoriza o cidadão a agir de forma letal. O risco de um desfecho fatal para a própria vítima também aumenta e para as pessoas que estão no entorno — afirma.
Coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Fernando Henrique Cardoso, José Vicente da Silva Filho também entende que o período é curto para análise. Mas alerta que o assaltante, em geral, está em vantagem em relação à vítima, o que torna a reação arriscada.
— Não falo para não reagir nunca. Às vezes, a pessoa está numa situação de vida ou morte. Mas o assaltante pega a pessoa de surpresa e não tem esse freio na hora de atirar. Não se importa em atingir outra pessoa. Enquanto a vítima, vai pensar antes de atirar — analisa.
No Rio Grande do Sul, de janeiro a agosto de 2018, os latrocínios (roubo com morte) ocorreram em 0,13% dos assaltos. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, foram 49,4 mil assaltos e em 66 a vítima foi assassinada.
— O latrocínio é extremamente raro. Não justifica ter uma arma. A chance de a pessoa ser baleada quando tem arma é maior do que quando não tem. A arma de fogo é um bom instrumento para atacar e muito fraco para se defender — afirma o coronel.