Cidade turística e normalmente pacata, Gramado, na Serra, tornou-se alvo de facção criminosa com sede no Vale do Sinos. Desde outubro de 2017, o grupo, que vinha chefiando o tráfico de drogas local, foi responsável por quatro homicídios no município, segundo a Polícia Civil, que desencadeou nesta terça-feira (31) a Operação Thanatus — a ofensiva ocorreu em meio à série de reportagens O Poder das Facções.
A poucos metros de uma das moradias onde policiais cumpriram mandados no começo da manhã, no bairro Várzea Grande, há duas semanas um homem foi arrancado de dentro de casa durante a madrugada. Quatro criminosos armados com pistolas, uma delas adaptada para disparar rajadas como uma submetralhadora, desferiram, pelo menos, 26 disparos. Era o sexto assassinato do ano na cidade em apenas sete meses. Em 2017, o município teve dois homicídios.
A violência empregada pela facção foi um dos aspectos que chamou a atenção dos investigadores, que iniciaram há cerca de oito meses uma investigação em Gramado. Os policiais conseguiram detectar que o município se tornou atrativo para o narcotráfico, por conta do poder aquisitivo e, de certa forma, por ser um local turístico.
— Temos um mercado consumidor de drogas na cidade, mas também, devido ao aspecto turístico, Gramado atrai público vasto, que acaba também consumindo — explica o delegado Gustavo Barcellos, que coordenou a investigação.
Com o ingresso do grupo criminoso, os traficantes que atuavam no município passaram a ser cooptados para a organização. Dos seis homicídios ocorridos em 2018, quatro teriam sido praticados por integrantes da facção. As vítimas desse tipo de crime, segundo o delegado regional Heliomar Franco, eram vendedores ou usuários. Os crimes teriam sido motivados por dívidas ou desavenças.
— Gramado é uma cidade pacata. Os índices de violência de homicídios eram irrisórios. Nos últimos 15 anos, tínhamos média de dois no ano. A presença dessa facção veio acompanhada dessas execuções, que em geral ocorrem entre eles. O traficante ou está preso ou prestes a morrer — afirma o policial.
Durante a operação desta terça-feira, 16 pessoas foram presas, sendo que duas já tinham sido flagradas com drogas ao longo da investigação, em um total de 18 prisões. Desses, nove mandados de prisão foram cumpridos contra detentos do Presídio Estadual de Canela, da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e de outras duas casas prisionais ainda não divulgadas. As ações nos presídios tiveram apoio da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
Ordens partiam da prisão
Durante a investigação a Polícia Civil apurou que o líder do braço da facção na Serra vinha coordenando o tráfico e ordenando execuções de dentro da Pasc. Um mandado de busca e outro de prisão foi cumprido na casa prisional nesta terça.
— Conseguimos comprovar, por meio de mensagens obtidas, que esse preso tinha vinculação com fatos ocorridos do lado de fora da cadeia. Esse é um dos severos problemas da nossa segurança: a falta de isolamento desses líderes de facções — afirma o delegado Franco.
Além do líder, a operação também teve como alvo gerentes do tráfico local, distribuidores e os vendedores, conhecidos como varejistas.
— Com essa operação conseguimos atingir toda a hierarquia desse grupo criminoso aqui em Gramado — argumenta o delegado Barcellos.
A polícia espera, com isso, conseguir frear o crescimento dos homicídios vinculados ao tráfico de drogas no município.