A Justiça aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP) contra três pessoas acusadas pelo homicídio da modelo Nicolle Brito Castilho da Silva, desaparecida da própria casa na noite de 2 de junho de 2017, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Com isso, dois homens e uma mulher passam a ser réus por homicídio triplamente qualificado e destruição de cadáver. O corpo da vítima jamais foi encontrado.
Além de aceitar a denúncia, a Justiça ordenou a prisão de dois suspeitos. Um deles, suspeito de executar o crime, já cumpre pena por roubo de veículo e com isso terá mais uma prisão em aberto. O outro, acusado de ser o mandante do crime e autor de toda a trama que resultou na morte da modelo, é considerado foragido. Na segunda-feira (9), a equipe do delegado Leonel Baldasso, da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, tentou localizar o réu no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre, mas o endereço informado era de um mercado. O pedido de prisão contra a mulher denunciada foi o único negado pela Justiça.
A Vara Criminal de Cachoeirinha também colocou sigilo sobre o processo, por haver testemunhas que poderiam ser ameaçadas pelos criminosos. O nome dos réus também não foram informados sob essa mesma alegação.
Na denúncia, o MP afirma que um apenado do Presídio Central de Porto Alegre determinou a morte de Nicolle por vingança, convencido de que ela havia delatado a rivais o endereço onde estava um comparsa de sua facção, que acabou assassinado com a companheira dias antes do sumiço da modelo. A namorada deste detento teria conseguido o endereço de Nicolle e "instigado" o criminoso a ordenar o crime.
"Ciente da ordem, o terceiro denunciado (executor) e outros indivíduos, mediante dissimulação, atraíram a vítima do interior de casa, usando pessoa conhecida (ainda não identificada) e, na sequência, raptaram-na, levando-a ao local onde passaram a torturá-la com agressões físicas, causando-lhe intenso sofrimento até sua morte", revela trecho da denúncia.
A promotoria avança e afirma que "após torturá-la os criminosos cortaram o corpo da vítima em pedaços e o incendiaram, destruindo o cadáver, cujos vestígios não foram até o momento encontrados". A denúncia foi entregue ao Judiciário no dia 29 de junho, mas só teve detalhes revelados após ser aceita.
O inquérito da Polícia Civil foi finalizado no dia 1º de junho, após quase um ano de investigação, quebra de sigilos telefônicos, de redes sociais, cumprimento de 15 mandados judiciais e depoimentos de 26 testemunhas. Um áudio obtido na investigação indica que Nicolle foi vítima de um crime brutal.
— Ela já era, ela foi cortada, foi botada dentro dos pneus e foi "tacado" fogo. Depois foi "tacada" dentro do Guaíba — diz um presidiário indiciado.
Relembre o caso
- No dia 2 de junho de 2017, Nicolle Brito Castilho da Silva, então com 20 anos, desapareceu da própria casa, enquanto seu pai, Sidnei Castilho da Silva, 47 anos, buscava um lanche nas proximidades.
- Entre o fim de julho e início de agosto do mesmo ano, registros de atividades no Facebook da jovem levaram a polícia a crer que ela pudesse ainda estar viva.
- Em 23 de julho, o corpo carbonizado de uma mulher foi encontrado no bairro Cascata, em Porto Alegre. Exames de DNA mostraram incompatibilidade com o perfil genético do pai da jovem.
- Em agosto, a polícia não descartava a possibilidade do desaparecimento da modelo estar ligada a um caso de sequestro e estupro, descartado depois com as investigações.
- Durante o primeiro semestre de investigações, a delegacia analisou escutas telefônicas que colocavam um presidiário de 20 anos e a namorada dele de 24 no cenário do crime. A ex-estagiária de um fórum é demitida, após ser conduzida coercitivamente para prestar depoimento.
- Polícia pede prorrogação no inquérito em dezembro de 2017.
- Em 1º de maio de 2018, um homem investigado pela polícia no Caso Nicolle é executado em Gravataí.
- Em 1º de junho de 2018, a Polícia Civil finaliza a investigação do crime indiciando três pessoas pelo homicídio e outras duas por crimes relacionados.
- Em 29 de junho de 2018, o Ministério Público denúncia três pessoas suspeitas do crime.