Escutas reveladas pela Polícia Civil reforçam a suspeita de participação de uma ex-estagiária do Fórum de uma cidade da Região Metropolitana e de seu namorado, atualmente preso, no desaparecimento da modelo Nicolle Brito Castilho da Silva. A jovem de 20 anos sumiu em 2 de junho em Cachoeirinha.
A ex-estagiária, de 24 anos, teve o sigilo telefônico quebrado após a investigação encontrar uma citação do nome de Nicolle em redes sociais. O namorado dela, um presidiário de 20 anos, e outras pessoas também tiveram o sigilo quebrado.
Nos áudios obtidos com autorização da Justiça há conversas da mulher investigada com uma amiga, que no período fazia estágio no Fórum de outra cidade, entre 1º e 2 de junho, dias da morte de Ricardo Sobrinho, 26 anos, e Paola dos Santos, 21, executados em casa no bairro Rincão da Madalena, em Gravataí, e do desaparecimento de Nicolle. Em uma das conversas, a namorada do detento se diz assustada, pois saberia quem matou o casal – o criminoso teria se relacionado com outra amiga.
Nas conversas, a jovem demonstra preocupação com a possibilidade de um envolvimento da modelo com o crime ocorrido em Gravataí:
– Bah, guria, tô apavorada com o que tu disse, que pode ser coisa da Nicolle. Fico apavorada, sabe... Porque imagina se essa guria trama alguma coisa contra mim.
Escutas indicam que a motivação do crime que vitimou a modelo — para o delegado Leonel Baldasso a jovem está morta — seria uma intriga gerada por Nicolle entre facções rivais, culminando no assassinato do casal Paola e Ricardo dois dias antes do desaparecimento da jovem. Nicolle e Paola eram amigas, assim como Ricardo era próximo do presidiário investigado pelo sumiço da modelo.
Suposto assédio seria origem
Conforme o delegado, Nicolle entregou o endereço de Ricardo a uma facção rival após supostamente ter sido vítima de assédio — o homem teria tentado beijá-la. Em outro áudio, parecendo estar chorando, Nicolle relata que se sente insegura e pede a um homem, a quem chama de "amor", para fazer curso de tiro. O áudio remete à data em que Paola foi executada com o namorado, em Gravataí.
Em outra conversa, assim como nas redes sociais, Nicolle lamenta a morte da amiga e fala sobre a insegurança.
— Não me sinto mais segura em lugar nenhum. Parece que alguma coisa pode acontecer com a pessoa. Tudo bem, quando tu te envolve com esses caras, tu sabe que o risco, mas coitada da mina —disse Nicolle.
Nas escutas, a ex-estagiária manifesta o desejo de assustar Nicolle batendo nela ou dando facadas no braço da jovem para não ser presa por algo mais grave. Em insistentes tentativas de conseguir o endereço de Nicolle, a ex-estagiária se refere a uma mobilização de homens do sistema prisional após a morte do casal em Gravataí:
— Te falei guria, a cadeia toda está se mobilizando, vai dar a maior confusão, tu não tem noção. Os homens estão bem loucos na cadeia. Esses macho vão matar meia Porto Alegre. Mataram até a Paola, entendeu?
Vídeo mostraria execução de casal
Durante a conversa da jovem investigada, ela relata que os criminosos responsáveis pela morte do casal em Gravataí assumiram a autoria do crime e gravaram a ação.
– Mataram uma guria que não tinha nada a ver. A Paola não tinha nada a ver. Os caras que fizeram isso espalharam o vídeo dos dois sendo mortos. Então eles sabem quem foi. As pessoas que mataram já assumiram – relata a jovem em áudio.
A Delegacia de Homicídios de Gravataí informou que o inquérito sobre a morte de Ricardo Sobrinho e Paola dos Santos está sendo finalizado e será remetido ao Judiciário nas próximas semanas. Segundo a Polícia Civil, o casal executado mantinha vínculo com uma facção criminosa e tinha envolvimento com o tráfico de drogas.
Em relação ao inquérito do desaparecimento de Nicolle Brito Castilho da Silva, que completaria 21 anos em janeiro de 2018, a Polícia Civil de Cachoeirinha não tem uma data definida para encaminhá-lo à Justiça, pois está finalizando a apuração. Pelo menos uma pessoa será indiciada por homicídio qualificado e ocultação de cadáver e outra por associação criminosa.