Segundo levantamento da Secretaria da Segurança Pública (SSP), 113 municípios do Rio Grande do Sul utilizam câmeras como forma de tentar controlar a criminalidade. Em Encantado, a 144 quilômetros de Porto Alegre e com pouco mais de 20 mil habitantes, foram instaladas 62 equipamentos, e a intenção é praticamente dobrar o número. Nas ruas, foi colocado aparelho que reconhece quando um carro roubado está circulando. Nesses casos, um alarme sonoro e visual é disparado nas telas das três centrais de monitoramento instaladas na Brigada Militar, na Polícia Civil e no Comando Rodoviário da BM.
O sistema utiliza tecnologia canadense, trazida para o país há cinco anos por empresa de Santa Catarina. A imagem captada é armazenada em nuvem de dados, que permite acesso fácil ao material. E não é preciso se desfazer de equipamentos antigos já que o sistema "conversa" com diferentes tecnologias, garante o diretor-comercial da empresa, Clóvis Margreiter.
Uma comissão decidiu pela escolha dos pontos para a instalação das câmeras no município. Conforme o presidente da Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACI-E), Marcos Ivanor Tonin, a definição levou em conta "pontos mais críticos" e entradas e saídas da cidade. Também foram instaladas equipamentos próximos de empresas mais visadas por criminosos e em locais onde ocorreram tentativas de homicídios.
O projeto para a instalação das 127 câmeras na cidade deve custar cerca de R$ 1,1 milhão. Até o momento, foram desembolsados pouco mais de R$ 500 mil, destinados à primeira fase do projeto. Para juntar o dinheiro necessário, entidades municipais foram às ruas e bateram de porta em porta. Com fundo judiciário conseguiram mais de R$ 100 mil, o banco Sicredi doou R$ 30 mil, um clube recreativo da cidade destinou mais R$ 100 mil e a associação comercial outros R$ 50 mil.
Até um jantar foi organizado e conseguiu obter R$ 162 mil. Agora, o prefeito Adroaldo Conzatti e empresários da região esperam a liberação de R$ 580 mil que virão de três emendas parlamentares.
— O dinheiro já está com a SSP, é dinheiro do governo federal — salienta o prefeito.
Alvo de criminosos
Mas a instalação das câmeras também atraiu a atenção de criminosos. Em 10 de maio, um aparelho instalado na entrada no bairro Navegantes acabou sendo incendiado por um homem, segundo o comandante do pelotão da BM, tenente Nilson Friedrich.
— Ele pegou um bambu e na ponta colocou pequeno tecido com combustível e ficou segurando.
Segundo o oficial, o crime teria sido encomendado por um detento da Penitenciária de Venâncio Aires, a cerca de 60 quilômetros de Encantado, que comandava o venda de drogas na região. Conforme o tenente, o aparelho passou a ser considerado por criminosos como ameaça para o comércio de entorpecentes.
O delegado Sílvio Kist Huppes informa que o caso está sendo investigado, mas por enquanto ninguém foi preso. Um casal foi encaminhado pela Brigada Militar à Polícia Civil, mas foram liberadas. Os investigadores já pediram à Justiça autorização para fazer a análise de dois celulares apreendidos, o que ainda não foi concedido.
Friedrich observa que os criminosos tiveram êxito na ação porque a câmera fica a 3,5 metros do chão. Mas na mesma região há outro equipamento que fica a 12 metros de altura e com proteção balística, explica o delegado.
O diretor-comercial da empresa responsável pela instalação, Clóvis Margreiter, garante que o equipamento não foi danificado porque há proteção.
Reconhecimento facial em Lajeado
No Vale do Taquari, um município aposta na instalação de câmeras inteligentes para tentar reduzir crimes. Em Lajeado, o equipamento com reconhecimento facial está em testes na rodoviária. A câmera consegue capturar a imagem e comparar com um banco de fotos, montado a partir de registros das polícias e de detentos. No entorno do Presídio Estadual de Lajeado, também foram instaladas no fim do ano passado sete câmeras capazes de detectar arremessos e evitar fugas. Um alerta é emitido para a central de videomonitoramento.
Segundo o secretário de segurança do município, Paulo Locatelli, um dos motivos que levaram ao investimento é a redução do efetivo das polícias.
— A partir do momento em que aumenta a tecnologia a gente consegue melhorar a sensação da segurança e inibir os infratores, além de dar resposta mais técnica à polícia judiciária.
O secretário argumenta que as câmeras fornecem, por meio de imagens, maiores evidências para a Polícia Civil e para o Ministério Público no momento de comprovar a autoria de crimes. Um projeto, por meio de parceria com a Brigada Militar e o governo estadual, prevê a construção de um centro de comando regional, que receberia o espelhamento de câmeras de 36 cidades do Vale do Taquari.
— No momento que tiver uma ocorrência municipal, no momento em que espelhar, vira caso regional e o reforço sai de Lajeado.
União de municípios na Serra
Na Serra, 14 municípios integram consórcio regional e investiram R$ 260 mil na aquisição de câmeras para serem instaladas nas cidades. Cada município recebeu três equipamentos, que têm capacidade para ler placas e, quando interligados ao sistema, poderão identificar veículos roubados e furtados. As imagens serão espelhadas para Bento Gonçalves, que tem central de videomonitoramento.
— Ela fica batendo foto. Pega a placa e com esse sistema já aparece se é clonado, se é roubado — explica Rudimar Caberlon, diretor-executivo do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento da Serra Gaúcha (Cisga).
Em Bento Gonçalves, 33 câmeras integram o videomonitoramento e cinco novos equipamentos estão sendo instalados nas rodovias que cercam o município. O software utilizado no centro integrado, segundo o secretário de Segurança do município, José Paulo Marinho, permite, por exemplo, identificar o suspeito de um crime a partir da descrição da roupa que ele está utilizando. O investimento foi de R$ 230 mil. Por meio emendas parlamentares, o município espera conseguir mais 14 câmeras.
— No momento que ela localiza alguém com esse tipo de roupa, trava a imagem. À noite também é possível marcar um perímetro com sensor de movimento, onde, se tiver movimentação, dispara um alarme para o operador.
No Noroeste, sistema comunitário
Há 10 meses, uma cidade de pouco mais de 20 ruas e menos de 3 mil habitantes colocou em funcionamento um sistema de videomonitoramento comunitário. Por meio de celulares, 20 pessoas conseguem acompanhar as oito câmeras que foram instaladas em Taquaruçu do Sul, no Noroeste. Entre os que podem monitorar as imagens estão policiais e poucos moradores.
— O acompanhamento não é aberto para todo mundo porque tu já viu, né? — pondera o prefeito Valmir Menegatti.
A ideia é ampliar a rede para 15 câmeras e, com isso, completar o cercamento eletrônico da cidade. Os equipamentos custam entre R$ 600 e R$ 1 mil e ainda há manutenção mensal que varia entre R$ 50 a R$ 60. O chefe do Executivo observa que, como a compra não ultrapassou R$ 8 mil, não foi preciso abrir licitação.
Menegatti garante que as câmeras impactaram na redução de assaltos. Além disso, o sistema trouxe economia mensal de R$ 10 mil à prefeitura. O dinheiro era destinado pagamento de guardas, que ajudavam no policiamento da cidade.
— Estamos extinguindo a função de guardas. Antes, tínhamos oito guardas e hoje temos dois ou três — conclui.