Em 4 de setembro do ano passado, o empresário Jair da Silva, 47 anos, compartilhava em suas redes sociais uma reportagem informando a localização de dois corpos esquartejados, perto de sua propriedade em Lomba Grande, localidade de Novo Hamburgo. Quatro meses depois, em 8 de janeiro, teve seu nome anunciado como um dos empresários que teriam pago R$ 25 mil por um ritual satânico, em que dois irmãos teriam sido esquartejados, em troca de prosperidade nos negócios.
Para os delegados que investigam o caso, as postagens soam como deboche. O material acabou anexado ao inquérito.
Silva é um conhecido morador de Lomba Grande. Tentou ingressar na vida política duas vezes, como vereador. A primeira ocorreu em 2004, pelo PT. Na época, recebeu 355 votos e acabou como suplente, mas nunca assumiu a cadeira. Oito anos depois, tentou de novo, desta vez pelo PMDB. Teve apenas 100 votos. Para a disputa malsucedida, desembolsou pouco mais de R$ 2,4 mil e recebeu de apoiadores cerca de R$ 400, segundo a prestação de contas presente no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Na curta vida política, era conhecido como Jair dos Porcos devido à criação de animais no sítio que tinha no bairro, considerado sua base eleitoral.
— O Jair era bem conhecido em Lomba Grande: anos atrás, pegava restos de frutas em um mercado em Novo Hamburgo, criava porcos e vendia. Sempre foi honesto e educado. Nunca aparentou ser uma pessoa ruim — conta um morador da região.
Na propriedade, também havia um depósito de carros. Foi perto dali que os restos mortais das crianças foram encontrados, dentro de caixas de papelão e sacolas plásticas.
Natural de Caiçara, no Noroeste, Silva tem cinco filhos. Dois deles investigados por participação no ritual: Andrei Jorge da Silva, preso, e Anderson da Silva, foragido.
Em sua conta nas redes sociais, aparece com os netos. No perfil, chega a negociar um terreno no bairro Lomba Grande. A venda de imóveis ocorria junto com seu sócio, Paulo Ademir Norbert da Silva, que está foragido. Segundo apurou GaúchaZH, ambos não têm registro para atuar como corretores de imóveis e possuem antecedentes criminais por estelionato.
Um homem que comprou dois terrenos dos sócios está assustado. Ele fechou o negócio após ver publicação em uma comunidade de uma rede social e ir até o local. Tinha a recomendação de um amigo, que já tinha negociado com os dois. Pagou R$ 40 mil por unidade, da qual prefere não revelar o endereço. A negociação ocorreu em outubro do ano passado — um mês após terem sido encontradas partes dos corpos das crianças.
— Para mim, não teve nada de errado. Ele, inclusive, falava sobre a palavra de Deus. Mas, depois que o crime veio à tona, ficamos assustados — conta o comprador.
Outro morador comprou uma Kombi de Silva. Para ele, a negociação foi honesta.
Sócio acumula antecedentes por estelionato
Sócio de Silva, Paulo Ademir Norbert da Silva tem extensa ficha criminal. O primeiro registro é de 1999, quando foi acusado de ameaça. Naquele ano, também foi investigado por dois casos de estelionato, em Novo Hamburgo e Farroupilha, na Serra. Foram apenas os primeiros de 17 registros até 2017.
A maioria dos casos de estelionato ocorreu em Novo Hamburgo, mas também há registros em Campo Bom, de onde é natural. Apesar das inúmeras passagens, nunca foi preso. Já Jair tem três antecedentes por estelionato, todos em 2017. Na ficha, ainda constam dois crimes ambientais — em 2011 e 2015 —, posse ilegal de arma, receptação e adulteração de sinal identificador e violação de domicílio.
Procurado, o advogado André Leão, um dos defensores de Paulo Ademir Norbert da Silva, disse que está se inteirando do caso e que não irá se manifestar no momento. Já o defensor de Jair da Silva teria deixado o caso e outro advogado estaria sendo constituído.