O corretor de imóveis Victor Batista Ferraz, 31 anos, foi indiciado por homicídio qualificado na investigação sobre o assassinato do melhor amigo dele, Jonathan Rafael Maria, o "Gigante", de 31 anos, ocorrido no dia 29 de dezembro de 2017, na zona sul de Porto Alegre. Conforme a Polícia Civil, o homem, que está preso, esquartejou o amigo por não ter dinheiro para pagar dívida de R$ 60 mil e ainda incendiou o corpo na BR-290, em Eldorado do Sul.
As qualificadoras contra Ferraz no inquérito são de motivo torpe, traição, emboscada e ocultação de cadáver. Além disso, ele também foi indiciado por dirigir com direito suspenso e ameaçar a esposa da vítima. Segundo a polícia, se ele for condenado por todos os crimes pode pegar pena de mais de 30 anos.
A investigação ouviu 30 pessoas, entre familiares do preso e da vítima, vizinhos do local do crime, testemunhas de onde o corpo foi deixado e funcionários do posto de combustíveis onde a gasolina usada para incendiar o corpo foi comprada. Também foi reunido como prova análises da perícia no carro do suspeito, na casa onde houve o crime e ainda imagens de câmeras de segurança, que mostram a vítima entrando na residência .
A delegada Elisa Souza acredita também que o crime tenha sido premeditado. O corretor de imóveis teria montado uma emboscada para a vítima na casa do tio. Ele prometeu que lá estaria o dinheiro para saldar a dívida.
— Os indícios de premeditação são inúmeros. Primeiro, o fato de que ele sabia que o proprietário da residência estaria fora de casa e ele tinha a chave e a senha do alarme. Além disso, tudo indica que a arma utilizada foi a do tio, que não era usada há muito tempo e não tinha munição. Então ele teve que adquirir a munição, montar a arma, que era longa, municiá-la e então aguardar a vítima ingressar na residência — detalha a delegada.
Elisa garante que o homem cometeu sozinho o crime. Inicialmente, chegou a ser levantada a hipótese da participação de uma segunda pessoa, devido ao porte físico da vítima, que tinha dois metros e 140 quilos. No entanto, a hipótese é de que "Gigante" foi pego de surpresa.
A reportagem tenta contado com o advogado Jader Marques, que defende Ferraz. Nos depoimentos, o preso permaneceu em silêncio.
Quebra-cabeça montado pela polícia
O caso foi desvendado pouco a pouco pela delegada e a equipe da 6ª Delegacia de Homicídios. No dia 29 de dezembro de 2017, a esposa da vítima registrou o desaparecimento após ele encontrar o amigo. A própria companheira já desconfiava que o corretor tinha cometido o crime, já que no último contato que o homem fez ele informou que estava em uma casa com Ferraz.
Antes de ser morto, na tarde de 29 de dezembro, ele mandou para a companheira a localização de onde estava, na Rua General Rondon, no bairro Tristeza, em Porto Alegre, por um aplicativo de mensagens. Ele se dizia "espiado" com a residência, que pertence a um tio de Victor que havia viajado para o Litoral Norte durante as festas de fim de ano. Depois, ainda dentro da casa, pouco antes das 15h, mandou uma foto da sala dizendo que já estava reunido com o amigo. A esposa tentou, 10 minutos depois, contato com Jonathan, que já não respondeu em nenhum de seus dois celulares.
Preocupada, ainda na noite daquele dia, a esposa registrou o desaparecimento dele na Polícia Civil. Por conta própria, ela ainda procurou Victor, que afirmou ter pago o dinheiro ao amigo, que teria deixado a residência acompanhado de uma mulher. O suspeito ainda teria convidado a esposa do amigo para entrar, mas ela, com medo, preferiu ficar do lado de fora da residência.
Após isso, no dia 1º, o tio do suspeito retornou da praia e encontrou a casa alagada, com manchas de sangue, cheiro forte e um pedaço de dedo humano. A situação foi reportada aos policiais. A Polícia Civil também ouviu dois homens que estavam com tratores na BR-290 e viram o suspeito deixando sacos nas margens da rodovia. Um deles ainda teve contato com o foragido, que teria pedido ajuda para desatolar um Volkswagen Up usado no crime.
Os agentes encontraram o carro da vítima, que também estava desaparecido e era um elemento que confundia os policiais. A Hyundai Tucson havia sido deixada por Victor em uma oficina mecânica da Rua Coronel Massot. O corretor comentou para os funcionários do estabelecimento que o alarme estava com problema e que pegaria o veículo em seguida, mas não retornou.
Na sexta-feira (5), a Polícia Civil encontrou o Up usado para transportar o corpo da vítima em uma garagem em Santa Cruz do Sul. A investigação afirma que o corretor suspeito fugiu para a cidade, onde se hospedou em um hotel, antes de se apresentar aos policiais.