Balconista de boate e vendedor de anúncios classificados. Essas são algumas das atividades de Sílvio Fernandes Rodrigues, 44 anos, antes de virar "bruxo" e ser preso sob suspeita de comandar um ritual com sacrifício de duas crianças em Novo Hamburgo.
Natural de Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, criado sem pai — que morreu quando ele tinha um ano de vida —, Silvio se mudou com a mãe e uma irmã para Porto Alegre ainda adolescente. Morava nas imediações da Avenida Juca Batista, na zona sul da Capital. Ali conheceu uma jovem que vinha do Interior para visitar familiares. Com pouco mais de 20 anos, casou-se e foi viver com ela em Pelotas, onde tiveram dois filhos.
Na cidade, foi atendente da copa em uma boate, depois garçom de bar e se arriscou a lançar um jornal semanal, que logo fracassou.
Separado, voltou para Porto Alegre e passou a vender anúncios de classificados, batendo de porta em porta de estabelecimentos comerciais. No início dos anos 2000, casou-se novamente e foi morar com a companheira no bairro São Geraldo. Perdeu o emprego, mas ganhou um novo ofício. Aprendeu com a mulher a fazer trabalhos espirituais.
Segundo conhecidos dele ouvidos por GaúchaZH, Sílvio teria se especializado em pactos de amor —reatar relacionamentos ou encontrar o homem ou a mulher amada —, além de ajudar a conseguir emprego e prosperidade no trabalho.
Conforme vizinhos, a casa era visitada por pessoas de todas as classes sociais. Nem sempre dava certo, mas o trabalho rendia até R$ 10 mil. O negócio prosperou e ele passou a ser chamado de Mestre Sílvio.
Separado da segunda mulher, foi morar com outra no Passo do Hilário, em Gravataí, e, há cerca de quatro anos, alugou um sítio em Morungava, na zona rural. Pagaria R$ 1,5 mil mensais. O local abrigava animais como cabritos, ovelhas e cavalos e serve para realizar os rituais. O "mestre" divulgava seus trabalhos na internet pelo site Templo de Lúcifer - Local de Alta Magia, atualmente, fora do ar.
Um amigo diz suspeitar que Sílvio embolsou os R$ 25 mil — pagos pelos dois clientes que teriam encomendado o ritual com esquartejamento de crianças.
— Ele gastou parte do dinheiro instalando uma piscina em casa, mas duvido que tenha feito o que a polícia está dizendo. A parte dele era só ladainha, orações e invocações para o pedido se realizar. Quando tinha sacrifícios com sangue de animais, era outra pessoa que fazia, e jamais com seres humanos — garantiu o amigo, que pediu para ter o nome preservado.
Sílvio teve outros relacionamentos amorosos com mulheres. Uma delas obteve na Justiça, no final de 2017, decretação de medida protetiva para que ele não se aproximasse nem mantivesse contato com ela, supostamente, vítima de ameaça.
A parte dele era só ladainha, orações e invocações para o pedido se realizar. Quando tinha sacrifícios com sangue de animais, era outra pessoa que fazia e jamais com seres humanos.
AMIGO DE SÍLVIO QUE NÃO QUIS SER IDENTIFICADO
Filho diz que pai é vítima
de perseguição religiosa
Procurado por ZH, um dos filhos de Sílvio negou que o pai tenha cometido crimes e recebido os
R$ 25 mil.
— A piscina foi instalada pela mulher do meu pai, com dinheiro de vendas de roupas. Não tem fundamento essa acusação contra ele. É vítima de uma perseguição religiosa —assegurou.
O rapaz reclamou de informações divulgadas que não seriam verdadeiras. Lembrou que a máscara de pastor alemão apreendida pela polícia (cuja investigação aponta que seria usada para assustar crianças) foi comprada por ele via AliExpress (site de vendas da China) para ir a uma festa rave. Ainda segundo o filho, o acessório chegou no Brasil em 20 de setembro, duas semanas depois de terem sido encontradas partes dos corpos das crianças.