Sob a condição de anonimato, o dono de um bingo em Porto Alegre contou a GaúchaZH detalhes da dinâmica de extorsão por facções. Começa com mensagens de celular, depois, ligações e até visitas aos estabelecimentos. Situação que teria ocorrido com ele no final do primeiro semestre deste ano.
O contraventor diz que, por ter maior estrutura de segurança, e para evitar confrontos e a presença da polícia, decidiu pagar a quantia exigida pela facção que tem base na Zona Leste. Segundo ele e outro bingueiro ouvido pela reportagem, as organizações criminosas têm cobrado, em média, R$ 3 mil semanais de cada sala de exploração de jogos de azar.
— É o valor que sou obrigado a pagar, mas ressalto que, se houvesse a legalização desta atividade, isso não iria ocorrer mais. Esses traficantes sabem que estamos na iminência da possível legalização e estão cobrando cada vez mais de nós — diz o contraventor.
A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens que escancara a pressão das facções:
Traficante – Meus R$ 3 mil desta sexta?
Bingueiro – Foi ruim a arrecadação, dá um tempo.
Traficante – Não precisa mais, já sabe.
Um advogado, que há anos representa contraventores e pediu para não ter o nome divulgado, informou à polícia que um de seus clientes chegou a ser grampeado por traficantes. Segundo ele, a tática envolve detetives particulares pagos pelas facções:
— O objetivo deles é buscar informações dos possíveis alvos, principalmente em relação ao número de casas de exploração de jogos, movimentação financeira e a rotina da vítima e da família dela.
A polícia confirma o recebimento da informação, mas de forma extraoficial. Ninguém quis registrar ocorrência sobre a suposta espionagem.