Morto após uma discussão fútil na zona sul de Porto Alegre, Alexandre Farias de Vargas, 49 anos, recém havia comprado um carro. A intenção do eletricista era usá-lo para viajar com a família, um sonho antigo que vinha sendo adiado há décadas por conta da carga horária, que lhe consumia os finais de semana. Há quatro meses, trocou os cincos anos de trabalho na empresa antiga pelas folgas garantidas aos sábados e domingos no emprego novo.
— Ele sempre dizia que queria comprar um carro e viajar com a mulher e os filhos. Agora que tinha tudo, morreu — lamenta a amiga e comadre Eliane Vargas de Jesus, 45 anos.
Vargas e o colega Alex Sandro Siqueira de Oliveira, 38 anos, ambos funcionários de uma terceirizada da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), estavam ligando a energia elétrica em uma residência na Rua Ítalo Bruto, no bairro Espírito Santo, na zona sul da Capital. Perto das 16h, Álvaro José Borba Silveira, 50 anos, sentiu-se incomodado com a caminhonete estacionada na rua e bloqueando parcialmente a saída do carro dele. Vargas e o morador discutiram, e o eletricista acabou baleado no peito.
Casado e pai de dois rapazes de 15 e 27 anos, o trabalhador era natural e morador de São Leopoldo, no Vale do Sinos, cidade onde aconteceu o sepultamento, às 16h30min desta quinta-feira (26), no Cemitério Ecumênico Cristo Rei.
Além dos familiares e amigos, colegas de trabalho foram até o enterro com caminhões da empresa terceirizada com faixas preta em sinal de luto. Mesmo tendo um carro na garagem, Vargas, preocupado com a família, se deslocava a Porto Alegre de motocicleta diariamente para economizar o dinheiro da gasolina.
— Ele era trabalhador. O Xande não era de briga. Pelo contrário, era pacificador. Era quem pedia calma quando os ânimos se acirravam. Um rapaz feliz, brincalhão — conta a amiga.
Testemunha do crime, o colega Oliveira disse que a discussão teria se iniciado quando a mulher do suspeito percebeu a caminhonete estacionada parcialmente em frente a sua casa. Vargas, no outro lado da rua, teria sinalizado que assim que Oliveira descesse do cesto aéreo, o veículo seria retirado.
— A caminhonete não anda com a escada erguida, por isso o Alex pediu que ela esperasse. Quando estava chegando no chão, ouvi o tiro. Fui direto prestar socorro, mas ele já caiu morto.
Emocionado, Oliveira disse considerar Vargas um membro da sua família:
— Não perdi um colega, perdi um irmão.