Um pequeno cartaz afixado ao lado da porta de entrada de um dos prédios do Instituto de Física da UFRGS, no Campus do Vale, no bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre, sintetizava, na manhã desta segunda-feira, o sentimento da direção e do corpo docente do curso: "Luto. Estado omisso".
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A mensagem foi uma das formas encontradas para manifestar o pesar pela morte de Masahiro Hatori, 29 anos, aluno do doutorado, vítima de latrocínio na sexta-feira, e ao mesmo tempo reivindicar do Estado ações em prol da segurança pública. Masahiro, ou simplesmente Masa, como era conhecido na universidade, teria retornado às aulas na pós-graduação justamente nesta segunda-feira. Porém, foi morto três dias antes, por volta das 15h30min na Rua Joaquim Silveira, bairro São Sebastião, na zona norte da Capital.
Ele caminhava ao lado da noiva e de uma prima dela, quando foi abordado por um assaltante. O doutorando teria tentado tirar a mochila que carregava nas costas, mas, antes que conseguisse, foi atingido por um tiro na cabeça. O caso está sendo investigado pela 12ª Delegacia de Polícia.
Masa ingressou no Instituto de Física em 2006, na graduação. Quatro anos depois, formou-se em Física. Em 2012, quando já participava do Programa de Pós-Graduação, cursando o mestrado, ele uniu estudos, lazer e um antigo sonho de conhecer o país em que seu pai nasceu: o Japão. Na cidade de Kyoto, participou da Conferência Internacional de Colisões Atômicas em Sólidos e do Simpósio Internacional de rápidos Íons pesados.
"Quando fiquei sabendo, conversei com meu professor co-orientador do mestrado, Pedro Luis Grande, sobre como eu poderia participar dos eventos e ao mesmo tempo conseguir ajuda financeira", declarou Masa a uma publicação especializada, na época. Na preparação para a viagem, o estudante cursou japonês durante um ano e meio. O mestrado foi concluído em 2013 e, no ano seguinte, Masa ingressou no doutorado, seguindo no estudo de nanopartículas de InAs embebidas em silício cristalino (estudo sobre materiais e energia). Na sexta-feira, ainda estava no período de férias da universidade, mas, mesmo assim, seguia com suas pesquisas.
– Tratava-se de uma vida em construção profissional e pessoal, com sonhos e objetivos bem definidos, abreviada por um ponto final sem explicação alguma através das leis racionais da Física. A Direção do Instituto gostaria de manifestar seus sinceros sentimentos aos familiares, à noiva, amigos e colegas do Masahiro – manifestou-se a diretora do Instituto de Física da UFRGS, Naira Maria Balzaretti.
Na noite de domingo, Ana Paula Lamberti Bertol, amiga de Hatori, usou o Facebook para fazer uma homenagem ao colega com o qual dividiu boa parte da vida acadêmica. No post, ela cita momentos vividos com o estudante de doutorado e a dificuldade de entender a fatalidade que fez o amigo se tornar a sexta vítima de latrocínio na Capital neste ano:
"O Masa era o tipo de cara que era impossível não gostar. Ele era o tipo de pessoa que te ajudava contra a tua vontade", escreve em um trecho da postagem.