Alberto Maia*
Recentemente, a Food and Drug Administration (FDA), órgão americano equivalente à nossa Anvisa, aprovou o medicamento donanemabe, que mostrou resultados positivos ao evitar a evolução do declínio cognitivo e funcional de pacientes com doença de Alzheimer. A notícia é motivo de comemoração, a ciência tem avançado cada vez mais nas descobertas para as doenças neurodegenerativas.
Por outro lado, cabe lembrar que drogas como essa ainda têm um custo elevado e, quando desembarcarem no Brasil, terão seu uso limitado a uma parcela mínima da população. Para se ter ideia, o valor sugerido pela farmacêutica para o tratamento de 18 meses supera os US$ 48 mil (mais de R$ 260 mil).
A prática regular de atividades físicas ajuda a reduzir a agressividade, a depressão e as mudanças de humor, muitas vezes características do quadro.
ALBERTO MAIA
Neurologista
É nesse cenário, portanto, que outras medidas mais acessíveis (e nem sempre farmacológicas) ganham espaço. A prática regular de atividades físicas é uma delas. Existem estudos robustos que comprovam que fazer exercícios impacta, e muito, na prevenção das demências.
Há poucos anos, um grupo de pesquisadores calculou o número de passos diários necessários para prevenir esse tipo de enfermidade. Chegaram à conclusão de que era necessário cumprir menos do que os 10 mil por dia, já amplamente recomendados para evitar diversos problemas de saúde. Outro trabalho, que analisou dados de mais de 160 mil indivíduos, evidenciou que movimentar o corpo diminuiu em 28% o risco de demência e em (pasmem) 45% de doença de Alzheimer.
A boa notícia é que os benefícios de se exercitar não se limitam exclusivamente à prevenção. Para quem já foi diagnosticado com algum tipo de demência, realizar exercícios com frequência também traz vantagens, sobretudo na qualidade de vida. Para além dos medicamentos, fazer atividades físicas também é recomendado como tratamento nesses casos. Isso porque a prática regular ajuda a reduzir a agressividade, a depressão e as mudanças de humor, muitas vezes características do quadro. Os resultados positivos refletem diretamente no paciente e, ainda, em um ator muito importante nesse contexto: o cuidador.
Embora nossa cultura seja baseada na remediação, trabalhar a prevenção é o caminho menos sofrido e mais acessível para diminuir os números estimados de casos de demência no país. Lembre-se: o processo que dá início à doença de Alzheimer começa no nosso cérebro cerca de 25 anos antes dos primeiros sintomas, que costumam aparecer somente na velhice. Cuidar do agora, com atividade física regular, preferencialmente combinando as modalidades aeróbicas e musculação, significa zelar por um futuro mais saudável. Nunca é tarde para começar. Basta dar o primeiro passo. E isso, não há dúvidas, está ao nosso alcance.
*Neurologista do Hospital Moinhos de Vento