Época de banhos no mar, na piscina ou no rio, o verão se aproxima. Para curtir e se refrescar com a família e amigos sem contratempos, existem alguns cuidados importantes a serem adotados de modo a garantir a saúde e a segurança. São medidas que, se seguidas corretamente, podem evitar frustrações nos momentos de lazer e até mesmo tragédias.
Entre os principais cuidados estão aqueles relacionados ao sol, já que queimaduras são comuns no verão, alertam especialistas. Deve-se atentar para o uso de protetor solar (fator 50 no rosto e ao menos 30 no corpo) e de camisetas de proteção, além dos horários, evitando exposição das 11h às 15h (considerando também as mudanças do horário de verão), quando há maior incidência solar.
Em outros horários, também é necessário sempre utilizar protetor e não esquecer de reaplicá-lo adequadamente, de duas em duas horas, após cada banho ou em caso de excesso de suor. O ideal é que o filtro seja aplicado 30 minutos antes da exposição, para que seque e atinja seu efeito pleno, recomenda Vanessa Cunha, dermatologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).
— O melanoma é o câncer mais agressivo do corpo humano. Está associado a esses torrões, queimaduras solares agudas — explica.
Já o câncer de pele não melanoma (carcinoma) está mais associado a profissões com exposição contínua ao sol. A médica frisa que o fato de estar bronzeado não permite que se deixe de utilizar filtro solar — o que pode aumentar o risco de carcinomas. Além disso, mesmo pessoas com pele mais escura são suscetíveis ao câncer de pele.
Casos de afogamentos também são frequentes e alguns cuidados são imprescindíveis. Em 2021, foram 222 mortes por essa causa no RS, de acordo com o DataSUS. O tenente-coronel Isandre Antunes, chefe da Divisão de Operações e Defesa Civil, que planeja a Operação Verão, salienta a importância de procurar um lugar para se banhar no qual haja guarda-vidas.
Só se deve entrar na água no local que estiver sinalizado por ele para banho — os de maior risco exibirão uma bandeira vermelha, indicando que não se deve entrar, pois nem os guarda-vidas conseguirão garantir a segurança do banhista. O profissional também atua alertando em relação a comportamentos adequados ou inadequados.
Não subestime o local
O comportamento moderado também é um componente essencial nos cuidados na hora do banho, segundo Antunes: não se deve aventurar-se, superestimar habilidades ou subestimar o local — tudo isso aumenta o potencial de risco e a probabilidade de uma emergência.
Quanto maior a concentração de pessoas, mais acontecem ações imprudentes. Os veranistas acabam seguindo um comportamento de manada, acreditando que, porque outros estão fazendo, também podem. Assim, na hora do lazer, pode haver maior exposição ao risco e, por vezes, um relaxamento nos cuidados, resultando em maior situação de vulnerabilidade.
O risco de afogamento pode ser traduzido em uma fórmula, de acordo com o chefe da Divisão de Operações e Defesa Civil: risco = perigo (água) X exposição (alguém) X vulnerabilidade (falta ou diminuição de competência aquática, pessoas alcoolizadas, crianças, comorbidades, entre outros). Quanto maior o número de pessoas, o tempo exposto ou a vulnerabilidade, maior o risco.
Médico especialista em Clínica Médica do Serviço de Medicina Hospitalar do Hospital Mãe de Deus, Marcio Spagnol acrescenta que o risco está associado também à desidratação (com consequente tontura ou desmaio, devido à ingestão de bebidas alcoólicas ou à exposição inadequada ao sol). Ele alerta ainda que pessoas com doenças preexistentes, como cardiopatias, devem ter a condição sob controle para estar nesses ambientes.
Por esses motivos, uma dica é evitar alimentos e álcool antes de entrar na água — o álcool foi componente na maior parte dos salvamentos e ocorrências de adultos no RS desde 2019, de acordo com o tenente-coronel.
Mar, rio e lago
Em mares e rios, o perigo é dinâmico, já que a água se movimenta e se altera com grande velocidade, conforme Antunes. Não há controle de profundidade, e há oscilação, correntes e presença de objetos movidos pela correnteza, como galhos, pedras, entre outros, que podem atingir o banhista e, em alguns casos, fazê-lo perder a consciência, resultando em uma emergência de afogamento. Por isso, os cuidados devem incluir a observação dos locais, da profundidade e do relevo.
— Com a presença do guarda-vidas, ele alerta sobre tudo isso, vai inspecionar o local, definir parâmetros de banho para as pessoas terem lazer. Se não tenho a presença dele, não consigo identificar a maior parte desses riscos — afirma o tenente-coronel Isandre Antunes.
Ele esclarece ainda que boias e flutuadores utilizados por crianças na piscina não podem ser usados em nenhum outro lugar, como mares e rios, pois dão uma falsa sensação de segurança e não foram desenvolvidos para uso nesses ambientes.
Nesta temporada, a Operação Verão contará com mais de 50 postos de guarda-vidas em balneários públicos. Entretanto, quando não houver a presença de um profissional, o importante é a moderação, reitera Antunes:
— Respeitar o limite, a profundidade, entender que não preciso ultrapassar a profundidade da linha da cintura para me refrescar, não preciso entrar de cabeça, ter outras brincadeiras exageradas, com álcool, sem conhecer o local, ou mesmo achando que conheço, porque muda.
A criança tem um comportamento sem análise de risco, isso é esperado. O pai não pode acreditar que deixou ela segura e foi só desligar o fogão, fazer uma coisinha. O adulto tem de estar ali.
TENENTE-CORONEL ISANDRE ANTUNES
Chefe da Divisão de Operações e Defesa Civil
A supervisão também é essencial. Entretanto, grande parte dos afogamentos em locais mais remotos acaba ceifando múltiplas vítimas quando alguém se afoga e um amigo, familiar ou outra pessoa tenta resgatá-lo. Por esse motivo, o tenente-coronel frisa que não se deve entrar na água para tentar auxiliar alguém que está se afogando, pois a probabilidade de também se afogar é muito grande – de cada 10 mortes, três são de pessoas que tentam auxiliar alguma outra entrando na água, informa.
Então, o que fazer? O primeiro passo é acionar o Corpo de Bombeiros. Em seguida, tentar entregar algo flutuante para a pessoa, de preferência com conexão com a margem, como arremessar uma corda ou vara para a pessoa agarrar e, se possível, trazê-la até a beira – sem necessidade de entrar na água. Assim, pode-se tentar manter uma sustentação até que o socorro qualificado chegue.
Piscina também pode oferecer riscos
Na piscina, os riscos são um pouco diferentes, mas tão severos quanto no mar e em rios, mesmo tratando-se de um ambiente estático, com controle do fundo e visibilidade e com bordas.
O tenente-coronel dá dicas de como se portar nesse local de modo a evitar emergências e acidentes:
- Jamais entre na piscina sozinho, pois pode ocorrer um mal súbito, com perda da consciência
- Não entre de cabeça, pois pode resultar em uma lesão e/ou perda de consciência
- Observe o entorno: o estado de conservação da piscina, se os azulejos estão íntegros, se há algo que possa machucar o banhista e diminuir sua competência aquática, gerando uma emergência
- Coloque grades na piscina de casa, para evitar que pessoas que não devem entrar sem supervisão consigam acessá-la, como crianças
- Promova a dinâmica guarda-guarda: guarde os brinquedos (como bolas coloridas o boias) depois de utilizar a piscina, para evitar atrair a criança
- Boias ou espaguetes flutuadores podem ser utilizados para a criança se sentir mais segura na água, mas não substituem a presença dos pais ou responsáveis no local, além de apresentar outros riscos, como o de se soltar ou esvaziar
- Pais e responsáveis devem permanecer à distância de um braço em relação à criança, estando presente e cercando-a – e nunca em uma supervisão de longe ou por câmera
- Em casas alugadas com piscina, é preciso colocá-la na rotina de segurança, pois a criança vai querer explorá-la, podendo resultar em acidentes
- Caso receba visitas, alerte sobre os riscos e oriente o comportamento para evitar problemas
— A distração que faz a emergência acontecer. A criança tem um comportamento sem análise de risco, isso é esperado. O pai não pode acreditar que deixou ela segura e foi só desligar o fogão, fazer uma coisinha. O adulto tem de estar ali. Na ausência do guarda-vidas, é o adulto que é o guarda-vidas — frisa Antunes.
Atualmente, a maior parte das piscinas já conta com ralo antissucção, sendo obrigatório nas públicas. O objetivo é evitar que alguém fique preso embaixo d’água pelo ralo, por exemplo, pelos cabelos — sobretudo mulheres e crianças. Para quem é proprietário de uma residência com piscina, recomenda-se a troca por um ralo antissucção, bem como um botão antipânico para travar a circulação.
As piscinas públicas devem ter guarda-vidas e observar a questão da profundidade. Contudo, pais e responsáveis não podem transferir a responsabilidade pela criança e devem estar presentes, acompanhando as atividades dos filhos em diferentes piscinas e brinquedos — momentos em que podem ocorrer emergências.
Cuidados com pele e cabelo
A piscina e o mar ressecam a pele e os cabelos, segundo Vanessa Cunha, dermatologista do Hospital São Lucas da PUCRS. Por esse motivo, é importante também adotar cuidados com a hidratação: utilizar hidratante após tomar banho de piscina ou de mar; e máscaras capilares que protejam tanto da radiação ultravioleta quanto da água, evitando a quebra do fio e o ressecamento.
Em alguns casos, o cabelo pode até mesmo ficar verde, caso haja muita exposição à piscina. No entanto, isso era mais comum há alguns anos. De acordo com Vanessa, porém, não há uma forma de se proteger. À medida que o cabelo vai sendo lavado, o tom esverdeado vai saindo, como em uma tintura.
Mitos e verdades
Nadar de barriga cheia
Conhecimento de senso comum, a proibição de entrar na água após uma refeição é um mito, conforme Marcio Spagnol, médico especialista em Clínica Médica do Hospital Mãe de Deus. A lógica, na verdade, é a mesma de evitar comer e realizar uma grande atividade física. Spagnol ressalta que isso se aplica a grandes quantidades de comida. Portanto, somente comer e entrar na água não gera problema, e sim, fazer grandes atividades – não havendo relação direta entre água e comida, muito menos com alimentos específicos, como manga.
— Se a pessoa come muito e vai correr, jogar bola ou nadar, pode passar mal. A nossa circulação desvia para o trato digestivo. Quando se está fazendo atividade física, a tendência é que a circulação saia de lá e passe para estruturas musculares, fazendo com que o sistema digestivo não consiga fazer o processo digestório. Acaba, muitas vezes, resultando em náuseas, desconforto, vômito, sendo um problema para quem está nadando em um lugar mais ermo, no mar — explica.
Cloro faz mal?
O cloro não faz mal. Pelo contrário: é um ótimo produto para tratar e manter a água limpa de vírus, bactérias e outras impurezas e toxinas, conforme os médicos. Se a água for tratada adequadamente, com o pH correto e outros cuidados necessários, não haverá problemas de saúde. Eles garantem que o cloro também não queima os olhos nem causa danos respiratórios — apenas altas doses em contato direto podem ocasionar algum problema.
Em função dessas propriedades, o xixi – que acaba sendo uma preocupação em piscinas públicas – também é inibido pelo cloro. Ainda que seja matéria orgânica (e um meio de cultura para germes) e libere substâncias e algumas bactérias, de modo geral, o cloro tende a proteger do xixi, desde que não haja grandes quantidades.
Risco de micoses e afins
A água adequadamente tratada – com cloro na piscina, por exemplo – é um fator de proteção para infecções, incluindo micoses. Um dos principais problemas está, na verdade, na umidade, já que fungos preferem ambientes quentes e úmidos, de acordo com os especialistas. Assim, as micoses se tornam mais comuns no verão.
Mais do que outras pessoas estarem contaminadas, o ato de permanecer com roupa ou pés molhados por um grande período é propício para que qualquer fungo no ambiente (seja trazido por outra pessoa, seja algum que já estava no local) se prolifere e alguém contraia uma infecção. Por isso, é importante trocar de roupa e manter os dedos dos pés secos. Conforme Spagnol, permanecer com a roupa molhada por até uma hora não deve acarretar problemas, mas, mais do que isso, pode facilitar uma infecção fúngica.
Por esses motivos, em relação a piscinas públicas e clubes, o principal problema está nos banheiros de uso coletivo. Em alguns casos, alguém pode ter micose e infectar o espaço, transmitindo o fungo para a próxima pessoa a utilizá-lo. Por isso, é recomendado sempre utilizar chinelos para tomar banho nesses locais e evitar pisar no chão. Manter cuidados básicos de higiene também é uma medida importante.
Confira ainda outros mitos e verdades, de acordo com os especialistas:
Mitos:
- O melhor nadador não morre – ele pode acabar superestimando habilidades e ignorando riscos
- A boia substitui a competência aquática – pelo contrário, engana o banhista
- Criança não se perde – quem a perde é o adulto
Verdades:
- Água-viva pode gerar lesões mesmo na areia
- É perigoso nadar durante uma tempestade – principalmente no caso de uma tempestade elétrica, não se deve ficar na água em rios, praias ou piscinas