A tireoide é uma glândula endócrina, com um formato similar ao de uma borboleta, localizada na base frontal do pescoço. É essa parte do corpo que produz os hormônios T3 e T4, responsáveis por regular a taxa metabólica corporal. De maneira geral, isso significa que ela regula a velocidade em que vão acontecer os processos bioquímicos no organismo. Os hormônios da tireoide estimulam o corpo a trabalhar e os receptores dessas substâncias químicas estão em praticamente todo o corpo, desde o cérebro, coração até os sistemas reprodutores e tecido ósseo.
As doenças dessa glândula podem sinalizar problemas tanto de função quanto de estrutura. Popularmente conhecidos, o hipertireoidismo e hipotireoidismo estão ligados ao primeiro caso. Já as alterações de estrutura mais comuns da tireoide são o bócio, aumento de volume da glândula, e os nódulos de tireoide. Somados, estes distúrbios podem exigir tratamento médico em pouco menos de 5% da população, enquanto o número de pessoas que convivem com formas mais leves destas doenças pode ser superior a 10% mundialmente.
No caso do hipotireoidismo, a doença mais comum deste órgão, que vai se tornando mais frequente com o avanço da idade, o principal grupo de risco são os idosos. De acordo com o endocrinologista do Serviço de Endocrinologia do Hospital Moinhos de Vento Tiago Schuch, as disfunções leves de tireoide podem afetar mais de 15% da população com mais de 60 anos. Mas podem acometer, ainda, pessoas com histórico familiar de distúrbios tireoidianos, ou com histórico pessoal de alguma doença autoimune.
Além disso, tanto o hipo quanto o hipertireoidismo são mais recorrentes em mulheres. A medicina ainda não tem respostas do porquê ocorre essa diferença entre gêneros. No entanto, a suspeita é de que haja uma correlação com a variação nos hormônios sexuais como um possível fator desencadeante para doenças autoimunes.
Causas
Em relação ao hipo e hipertireoidismo as causas mais comuns são disfunções do sistema imunológico e doenças autoimunes. Especificamente, a causa mais frequente de hipotireoidismo é uma doença autoimune chamada Tireoidite de Hashimoto, enquanto que a Doença de Graves é o fator que mais desencadeia o hipertireoidismo. Mas ainda existem outros motivos para as disfunções da tireoide, embora menos comuns.
O hipotireoidismo, por exemplo, pode ser causado por cirurgias na tireoide, remoção da glândula, disfunções genéticas e radioterapia. Além disso, mais recentemente foi descoberto que alguns medicamentos novos utilizados no tratamento de câncer podem causar a deficiência de produção dos hormônios da tireoide.
Diferença entre o hipotireoidismo e hipertireoidismo
Além da distinção clara de que no hipotireoidismo há uma produção insuficiente de hormônios da tireoide e no hipertireoidismo existe uma produção ou liberação maior do que o ideal, estas duas disfunções têm diferenças nos seus sintomas e na maneira que agem no corpo.
De acordo Schuch, o hipotireoidismo causa uma lentificação de diversos processos no corpo humano e os sintomas mais comuns são bem diversos entre si. Cansaço, sonolência, dificuldade de concentração, problemas de memória, desconforto muscular, sensação de frio excessivo, unhas quebradiças, queda de cabelo e constipação são alguns que aparecem na lista.
No hipertireoidismo, por outro lado, o distúrbio se manifesta através de uma aceleração do organismo. Os sintomas mais frequentes são agitação, insônia, sensação de calor excessivo, tremores e perda de peso repentina.
Diagnóstico e tratamento
Os distúrbios da tireoide são considerados de fácil e rápido diagnóstico. Ele é feito basicamente com exames laboratoriais e eventualmente são utilizados exames de imagens apenas para descobrir a causa do distúrbio. A principal ferramenta para detectar alguma anormalidade é um exame de sangue chamado TSH, que inclusive pode ser feito sem a necessidade de jejum.
— Esse exame vai conseguir detectar alterações muito sutis na função da tireoide. Se o exame do TSH estiver fora do normal, aí se prossegue com a coleta dos exames de T4 no caso de hipotireoididmo e de T4 e T3 no caso de hipertireoidismo. Fora esses testes, dependendo da condição clínica do paciente, também podem ser solicitados exames dos anticorpos — detalha o médico.
Para o hipotireoidismo, é prescrita a reposição de levotiroxina, hormônio sintético semelhante ao T4 produzido pela tireoide. Já contra o hipertireoidismo há mais opções de tratamento, com medicamentos bloqueadores da tireoide, iodo radioativo ou até cirurgia. A escolha do processo terapêutico, porém, depende de vários fatores e deve ser pensada para cada paciente.
Prevenção
O funcionamento adequado da tireoide depende de ingestão adequada de alguns nutrientes, especialmente do iodo. De acordo com o endocrinologista do Hospital Moinhos de Vento, no Brasil não existe uma deficiência nutricional desse micronutriente na população, portanto não há a necessidade de qualquer tipo de suplementação de pessoas saudáveis. Muito pelo contrário, o consumo excessivo pode gerar resultados opostos ao esperado. Além do mais, nenhuma mudança no estilo de vida irá ajudar na prevenção.
— Não existe nenhuma medida que tenha demonstrado poder de evitar o surgimento de disfunções da tireoide. Nem alteração na dieta, nem atividades físicas, por exemplo — completa o endocrinologista.
Porém, Schuch destaca que a exposição ao estresse agudo ou crônico pode contribuir para o desenvolvimento de hipo e hipertireoidismo, mas salienta que também não há medidas práticas a serem adotadas.
— A gente não tem uma ferramenta formal para medir o grau de estresse e justamente por isso não existe um remédio específico que valha para a população prevenir isso como fonte desencadeadora de distúrbios da tireoide.
Mas o mais importante a se ter em mente, é saber que, assim como qualquer outro problema de saúde, não existe receita mágica que vá lhe livrar de sintomas ou trazer a cura para os distúrbios de tireóide.
— Vemos profissionais sugerindo dietas da tireoide ou suplementos que aumentariam ou melhorariam o funcionamento da tireoide, mas na verdade isso não tem respaldo na literatura médica. Na verdade, não existem dietas ou suplementos que vão evitar ou curar a doenças da tireoide de maneira consistente — finaliza o médico.