Anualmente, se celebra na segunda quinta-feira de março o Dia Mundial do Rim. A data existe como uma tentativa de aumentar o conhecimento das pessoas sobre a importância da saúde dos rins. Todo ano uma nova campanha é desenvolvida, e em 2023 o slogan é “Saúde dos rins e exame de creatinina para todos”. A ideia dessa mensagem é educar e despertar atenção sobre a qualidade do funcionamento do órgão, já que muitas doenças renais são assintomáticas nos estágios iniciais.
De acordo com a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Andrea C. Bauer, o rastreamento da doença renal através de exames laboratoriais é fundamental para detectar algum tipo de anormalidade no funcionamento dos rins. Como a campanha deste ano sugere, é possível fazer este rastreamento através do exame de creatinina, disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A creatinina é uma substância da degradação dos músculos e precisa ser eliminada pelo rim. Portanto, ela funciona como um marcador da atividade do órgão. Se os níveis de creatinina forem considerados altos é sinal de que algo não anda bem.
— Pacientes que têm alguma doença renal crônica estão sob um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e de morrer mais precocemente por essas doenças. Por isso esse alerta é tão importante — explica a nefrologista.
O que é e para que serve o rim
Os rins são órgãos localizados abaixo das costelas, na parte posterior do abdômen, um do lado direito e o outro do lado esquerdo. Eles têm um formato semelhante a um grão de feijão, medindo entre 9 cm e 13 cm e pesando entre 120g e 180g.
Apesar de passarem despercebidas no dia a dia, os rins tem várias funções que auxiliam no funcionamento de vários outros órgãos. É deles a responsabilidade de filtrar e equilibrar a quantidade de água e sal no corpo, controlando a pressão arterial, eliminar toxinas e produzir hormônios, como a eritropoetina que estimula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea e o calcitriol, a forma ativa da vitamina D que atua no intestino para aumentar a absorção de cálcio e nos ossos para manter o osso saudável, entre outros.
Segundo Andrea, eles funcionam basicamente como um grande filtro do corpo humano. Quando o sangue passa pelos rins, as toxinas são eliminadas, enquanto proteínas e outros elementos químicos necessários ao bom funcionamento do corpo são devolvidos para o sangue.
Principais problemas ligados ao rim
As doenças renais costumam ser silenciosas e só manifestam sintomas em estágios avançados do quadro clínico. Muito comuns entre os brasileiros, a diabetes mellitus e a hipertensão podem ser consideradas as grandes vilãs dos rins. Apesar de não serem doenças renais, as duas são as causas prevalentes de doenças crônicas nos rins. Pacientes diagnosticados com elas têm grandes chances de sofrerem um desgaste renal ao longo dos anos. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de pacientes com idades entre 20 e 79 anos.
Outra problema bastante conhecido e que desperta curiosidade são os cálculos renais. Popularmente conhecidos como pedras nos rins, os cálculos são o acúmulo de cristais de fosfato ou oxalato de cálcio, amônia, magnésio ou ácido úrico no rim, na bexiga ou nos ureteres — canais que ligam os dois órgãos.
Segundo Andrea, a maior prevenção contra o cálculo renal é a hidratação, já que ao ingerir água contribuímos com o transporte de nutrientes e a eliminação de toxinas.
— Pacientes que têm tendência a formar cálculos renais precisam ter um bom volume de urina por dia. Isso para estar sempre “lavando e limpando” o órgão para que a urina não fique concentrada e os micro cristais não se unam formando os cálculos — detalha a nefrologista.
Prevenção e sinal de alerta
A saúde dos rins passa basicamente por hábitos de vida saudável. Nesse sentido, além de manter práticas benéficas para a saúde, o rastreamento de possíveis doenças ligadas aos rins é fundamental. Conforme a professora, o ideal é que o paciente questione o seu médico nas consultas de rotina sobre o órgão e solicite medidas preventivas.
Os grupos de risco maior risco para desenvolver doenças renais, e, portanto, os mais indicados a realizarem o exame de creatinina são as pessoas hipertensas, diabéticas, com doenças cardiovasculares, com obesidade, idosos e pessoas com história familiar de doença renal. De acordo com Andrea, é indicado que o exame seja feito anualmente.
— O que a gente orienta é uma dieta equilibrada, com um baixo teor de sódio, exercícios físicos regulares e manter o controle do peso porque obesidade é um fator de risco para a doença renal. Além disso, evitar o tabagismo e o uso indiscriminado de anti-inflamatórios e medicamentos sem prescrição médica pois vários remédios são tóxicos para os rins e manter sempre uma boa hidratação — detalha a nefrologista
Em casos mais avançados de doença renal o corpo pode emitir alguns sinais de alerta quanto ao mal funcionamento dos rins. Os pacientes podem sentir cansaço, fraqueza e desânimo causados pela anemia, e também sentir náuseas, vômitos e falta de apetite devido ao acúmulo de toxinas.
Tratamento
Em casos avançados de comprometimento dos rins, o paciente precisa passar por um tratamento chamado de terapia de substituição renal. Existem duas maneiras para fazer isso, a diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) ou o transplante. Nos quadros menos severos, o tratamento se baseia em controlar a doença causadora dos problemas renais.
Conforme Andrea, a diálise não cura o rim, apenas substitui parcialmente a sua função. É indicado que o paciente comece o tratamento quando a capacidade de filtração do rim está menor do que 10% do normal e existam sintomas clínicos. A diálise fará parte da rotina do paciente para sempre ou até que ele seja elegível para um transplante.
No caso do transplante, ele é realizado quando o rim já não funciona mais ou se o paciente estiver em programa de diálise, o que representa a grande maioria dos casos. Além disso, é necessário atender uma série de outros critérios para determinar a viabilidade do procedimento.
É possível viver com apenas um rim?
A resposta é sim. A situação é muito frequente em casos de pessoas que doam um dos rins e passam o resto da vida apenas com um. Cada rim é formado por cerca de um milhão de células, chamadas de néfrons. Isso possibilita uma reserva renal, fazendo com que o serviço do rim retirado seja incorporado pelo órgão restante.
— Mas para poder doar em vida, o doador precisa passar por vários exames e consultas para termos certeza que ela não tem nenhum risco maior de ter alguma doença renal depois. No futuro, o doador também precisa ser acompanhado e ser orientado quanto aos cuidados com a saúde — explica.
Nestes casos, mantendo hábitos de vida saudável e acompanhamento médico regular, é possível ter uma vida plena com apenas um rim.
Produção: Rochane Carvalho