Roberto Tofani Sant'Anna (*) e Carlos Antonio Mascia Gottschall (**)
A morte súbita é aquela inesperada, que ocorre até uma hora após o início dos sintomas, podendo ser instantânea. Estima-se que faça 250 mil a 300 mil vítimas por ano no Brasil, um número maior que a soma das mortes por câncer de mama, doenças pulmonares e acidentes. O risco aumenta com a idade e é mais elevado em homens.
A morte súbita é causada por uma parada cardíaca, quando, devido a uma arritmia grave, o coração repentinamente interrompe o bombeamento de sangue para o cérebro, pulmões e demais órgãos. A vítima sofre um colapso, para de respirar e seu pulso não pode ser encontrado.
Quanto antes a situação for reconhecida e tratada, maior é a chance de sobrevivência. Infelizmente, porém, menos de 10% das pessoas sobrevivem a uma parada cardíaca. Portanto, é fundamental prevenir suas causas potenciais.
Causas e mecanismos
Em 80% dos casos, a parada cardíaca está relacionada à doença coronariana, em que uma placa de colesterol se forma nas artérias do coração, um processo chamado de aterosclerose. A placa pode comprometer o fluxo de sangue quando há maior demanda (exercício e stress emocional) ou quando se forma um trombo obstrutivo, como durante um infarto. A diminuição do fluxo sanguíneo pode desencadear uma arritmia.
Em pessoas com menos de 40 anos, prevalecem causas genéticas, como miocardiopatia hipertrófica e síndrome do QT longo. São doenças caracterizadas por um defeito no músculo cardíaco e/ou na conexão elétrica entre as células do coração.
Grupos de risco
Pacientes com as seguintes condições tem maior chance de sofrer uma parada cardíaca:
- Doença coronariana
- Arritmias cardíacas
- Doenças do músculo cardíaco (miocardiopatias)
- Insuficiência cardíaca
Sinais de alerta
Sintomas de dor no peito, falta de ar, palpitações (sensação do coração bater irregular ou acelerado) e desmaios são sinais de doença cardíaca e devem ser avaliados por um cardiologista. Em ao redor de 10% das vezes, contudo, a morte súbita é a primeira manifestação da doença, tornando a prevenção e os exames de rotina fundamentais.
Como diminuir o risco?
1) Combate aos fatores de riscos para aterosclerose: hipertensão, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo, tabagismo. Alimentação saudável, exercício e acompanhamento periódico são a base da prevenção.
2) Procurar atendimento se houver sintomas.
3) Quando a doença é avançada, podem ser indicadas medicações específicas, procedimento de ablação por cateter para eliminar os focos de arritmias e/ou implante de cardiofesfibrilador para detectar e reverter arritmias fatais de forma automática.
Como agir diante de uma parada cardíaca?
Se executadas de forma rápida e correta, as manobras de reanimação aumentam a chance de recuperação e diminuem o risco de sequelas. Veja o passo a passo do que fazer:
Segurança: verifique se o ambiente é seguro antes de iniciar manobras de reanimação.
Responsividade: coloque uma mão em cada ombro da vítima e pergunte três vezes: "você está me ouvindo?".
Ajuda: se a vítima não responder, solicite auxílio e entre em contato com o SAMU (192). Um desfibrilador automático deve ser buscado se estiver disponível.
Respiração: por até 10 segundos, verifique se a vítima está respirando adequadamente.
Massagem cardíaca: ajoelhe-se ao lado da vítima e coloque os braços estendidos, com os dedos entrelaçados, no centro do tórax dela.
Usando o peso do corpo, faça compressões rápidas e fortes (a profundidade deve ser de pelo menos 5cm), em uma frequência 100 a 120 vezes por minuto.
Mantenha a reanimação até a chegada de ajuda profissional ou a recuperação da vítima.
(*) Cardiologista do Instituto de Cardiologia, especialista em arritmias cardíacas pela Universidade de Montreal
(**) Cardiologista do Instituto de Cardiologia, livre docente pela UFRGS, membro titular da Academia Nacional de Medicina e da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Parceria com a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março de 2022, com a reportagem “Câncer: do diagnóstico ao tratamento”. Uma vez por mês, o caderno Vida vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pelo otorrinolaringologista Luiz Lavinsky. De diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia etc), esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.