Compreendida quase como um sinônimo da terceira idade e muito mais frequente em mulheres, a osteoporose não se limita nem a essa faixa etária, nem ao sexo feminino. Apesar de ser bastante caracterizada pelo envelhecimento natural dos ossos, e por isso tão mais comum em idosos, a doença pode surgir mesmo antes da idade adulta. E preveni-la é tarefa a ser feita desde os primeiros anos de vida.
A formação óssea inadequada pode levar, ainda na adolescência, a um esqueleto mais frágil, suscetível a fraturas mesmo com quedas ou lesões de que não se espera um trauma tão grande. Isso porque o pico da massa óssea, que representa o máximo que o osso consegue atingir em termos de qualidade óssea, acontece até os 30 anos, variando conforme o gênero, a etnia e outros fatores genéticos. E todo o histórico alimentar, físico e hereditário tem um papel na construção dessa qualidade.
– Para adquirir o melhor pico de massa óssea, é preciso tomar medidas desde a infância. Significa cuidado na ingestão de alimentos, incluindo diariamente aqueles com boa quantidade de cálcio, especialmente o leite. E evitar maus hábitos, como o tabagismo e o alcoolismo – explica Marise Lazaretti, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).
Também contribuem para ossos mais fortes, funcionando como forma de prevenção da osteoporose, o consumo de proteína e a absorção de vitamina D.
– Por isso é importante que as crianças brinquem ao ar livre, porque assim estarão fazendo uma atividade física e também mantendo a exposição ao sol, que é importante para se ter níveis adequados de vitamina D – complementa Marise.
Por ser tão associada à terceira idade, a osteoporose, doença silenciosa que geralmente só se faz perceber no momento em que um osso é quebrado com facilidade, acaba menosprezada por jovens e adultos. E a melhor maneira de ter ossos saudáveis é começar a prevenção justamente ainda na infância e na adolescência, quando o esqueleto está se estabelecendo, construindo massa óssea. Até os 30 anos, aproximadamente, passa a haver um equilíbrio entre construção e reconstrução dos ossos, e a partir dos 40 anos a estrutura óssea começa a enfraquecer.
Ainda que a fragilização dos ossos com o passar dos anos seja inevitável, é possível minimizar os danos desse processo. E a prevenção é relativamente simples: basta consumir alimentos com cálcio e vitamina D em quantidade adequada. O ideal é uma média de 1000 mg de cálcio, o que representa, mais ou menos, quatro copos de leite. Parece bastante – e muita gente realmente não chega a ingerir essa quantidade – mas há cálcio também em outros laticínios, como queijo e iogurte e, em menor quantidade, também em peixes, vegetais verde-escuros e amêndoas, por exemplo.
– Em geral, de duas a três porções de leite ou derivados ao dia é suficiente, pois as outras fontes não lácteas também trazem cálcio – diz Marise.
Para chamar atenção para a osteoporose em todas as idades, a Abrasso realiza, todo mês de outubro, a campanha “Seja firme e forte contra a osteoporose”. Em 20 de outubro, celebra-se o Dia Mundial de Combate à Osteoporose e, para marcar a data, são realizadas diversas atividades pelo país para conscientizar pessoas de todas as idades sobre a doença.
Sinais de alerta são os mesmos em todas as idades
Dificilmente se ouve falar em tratamento de osteoporose para jovens, e não por acaso: a doença é muito mais comum na terceira idade. Mas os mais novos não estão livres do problema. Casos de osteoporose na família, aliados a alimentação desregrada e sedentarismo, por exemplo, podem contribuir para que mesmo crianças e adolescentes fiquem predispostas.
Diferentemente do que acontece nas pessoas idosas, em que a doença surge quase como um avanço natural da formação óssea – e por isso deve ser prevenida e combatida desde cedo –, nos jovens, a osteoporose, mais rara, geralmente é secundária: na maioria dos casos, está associada a alguma outra patologia.
– Em geral, o acometimento em jovens está associado a alguma doença que já existia antes da osteoporose, como deficiência hormonal, uso de substâncias como anticonvulsivantes e corticoides, ou alguma doença renal – descreve a reumatologista Cecília Varella, do Serviço de Reumatologia do Hospital Moinhos de Vento.
Males que afetam o intestino, como doença celíaca e fibrose cística, também têm impacto, porque dificultam a absorção apropriada dos nutrientes ingeridos. Além desses fatores de risco, pacientes que passam por cirurgia bariátrica, quando o estômago é reduzido com o intuito de que se perca peso, também passam a absorver menos vitaminas e minerais que antes, o que reduz a quantidade de cálcio que chega ao organismo e contribui para a osteoporose.
E como perceber que um jovem pode ter a doença? Em qualquer idade, a doença não dá sinais claros de sua presença até que aconteça alguma fratura – isso é o mesmo para crianças e para idosos. No caso dos mais novos, é preciso ficar especialmente atento a quedas comuns do dia a dia que levam, inesperadamente, a uma fratura.
– Percebe-se a fragilidade quando uma fratura acontece após uma queda ou batida de pouco impacto. Quando, por exemplo, o jovem está caminhando na rua, tropeça, cai e quebra um braço, uma perna – descreve Nicole Pamplona Bueno de Andrade, médica do Serviço de Reumatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A descoberta dessa fragilidade óssea, além de acarretar em um tratamento para a osteoporose, contribui para um diagnóstico do problema que pode ter levado à doença.
– Como a osteoporose em jovens é bem pouco frequente, muito menos do que na pós-menopausa, nas mulheres, ou depois dos 65 anos, nos homens, devemos investigar e tratar as doenças que estão por trás da osteoporose – completa Nicole.
A presidente da Abrasso, Marise Lazaretti, sugere que, mesmo com a baixa incidência da doença em jovens, todos devem estar alerta para o problema desde cedo: saber que isso pode surgir mesmo antes da terceira idade deve ser entendido como um sinal para que se busque uma melhor qualidade óssea. Assim, no futuro, se terá menos chance de desenvolver a osteoporose.
– A afirmação de que a “osteoporose senil é uma doença pediátrica” ilustra a importância de alcançar o pico máximo de massa óssea na juventude, atenuando, assim, os efeitos do envelhecimento. Prevenir a perda óssea é preferível ao tratamento – explica Cecília, reumatologista do Hospital Moinhos de Vento.
O que causa a osteoporose
A causa da doença é a diminuição da absorção de minerais e de cálcio, que provoca a fragilização dos ossos e aumenta o risco de fraturas. Nos homens, a partir dos 65 anos, o envelhecimento se acentua e eles podem ficar mais propensos à doença. Nas mulheres, depois dos 50 anos, é um período crítico, pois, além do envelhecimento, essa fase está associada à pós-menopausa, quando naturalmente a mulher já tem perda de osso. Em uma dieta pobre em cálcio, esse desfalque é mais acentuado, portanto a osteoporose chega com mais velocidade. Ocorre também que muitos casos de osteoporose são genéticos, decorrem de uma herança familiar de baixa massa óssea, e isso é um fator não modificável.
Fonte: Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso)