Um dos alimentos mais controversos da atualidade, o leite divide opiniões de profissionais de saúde que se digladiam entre críticas e elogios ao tratar dos efeitos da bebida no corpo humano. Considerado um alimento de alta densidade nutricional – com mais nutrientes do que calorias – e importante na alimentação por causa da quantidade de cálcio, é apontado também como de difícil digestão pelo organismo e cada vez mais associado a problemas de saúde. É como se o alimento fosse, ao mesmo tempo, bom e ruim. Veja o que dizem os especialistas.
Por que pode fazer mal
Para quem é contra o consumo de leite, a multiplicação dos casos de intolerância à lactose e alergia à proteína do leite de vaca já é motivo suficiente para redução ou abolição total da bebida do cardápio. Para entender o aumento de problemas causados pelo leite, é preciso olhar para a produção do alimento e para o estilo de vida das pessoas.
De acordo com o nutricionista e farmacêutico bioquímico Gabriel Carvalho, o uso de antibióticos por humanos destrói a flora intestinal, o que aumenta o risco de intolerância a lactose e a alergia a proteína do leite de vaca. Quem tem o intestino preso, come poucas frutas e verduras, e abusa de açúcares também está propenso a ter esse tipo de sensibilidade.
O perfil da alimentação faz toda diferença para determinar se o indivíduo terá ou não alguma intolerância ao leite. Dietas pouco nutritivas e repletas de alergênicos – gordura hidrogenada, agrotóxicos, farinha branca e açúcar – tornam o organismo mais vulnerável.
A nutricionista funcional Melissa Suarez lembra que a gestante que tem esse perfil de alimentação pode gerar no bebê a tendência a ter intolerância ao leite.
Outra ponderação repetida por especialistas é que o ser humano é o único mamífero que consome leite de outras espécies na vida adulta.
– O organismo humano não está adaptado para tomar leite de outros animais. O leite de vaca é feito para o bezerro – afirma Carvalho.
Outro ponto negativo é que o leite tem muito mais proteína do que o corpo humano consegue digerir, o que, segundo Melissa, sobrecarrega os rins e compromete a absorção de cálcio, a principal vantagem da bebida.
– Os benefícios são para crianças e adolescentes (meninos até 18 e meninas até 15 anos). O leite é uma grande fonte de cálcio e o consumo nessa faixa etária está associado a maior ganho de massa óssea. Mas acabam aí os benefícios já documentados do leite e que funcionam para todo mundo. O resto é só problema – enfatiza Carvalho.
O nutricionista afirma que a hipersensibilidade a substâncias do leite podem ser uma das causas de doenças como sinusite, ansiedade e até depressão:
– O leite, normalmente, é um vilão para as pessoas com queixas de saúde. Para ampla maioria dos pacientes, o leite não é todo problema, mas é um deles. A maioria das pessoas que chegam no consultório não tem ideia que tem intolerância à lactose.
A causa não é o consumo, mas como o corpo reage ao leite. Assim, defende Carvalho, se o paciente arrumar todo o resto da alimentação, talvez, no futuro, possa voltar a tomar leite, mas em uma quantidade menor.
Sintomas da intolerância a lactose
Podem variar dependendo do nível de intolerância e o estado inflamatório de cada pessoa. — Estufamento
— Desconforto
— Diarreia
— Dor de cabeça
— Mal-estar
— Dor de estômago
Sintomas da alergia a proteína do leite
— Cólica
— Urticária
— Vômito
— Baixo ganho de peso
— Sangue nas fezes
— É mais comum em crianças
Por que pode fazer bem
Composto mais benéfico do leite e também muito celebrado por seus defensores, o cálcio é encontrado de forma concentrada na bebida. Cada copo de leite tem 240 miligramas do mineral. Em geral, adultos precisam consumir 1 mil miligramas de cálcio por dia para a manutenção da massa óssea. Ou seja, quatro copos de leite. A médica nutróloga Jaqueline Coelho lembra que, para obter a mesma quantidade de cálcio oferecida por um copo de leite por fonte vegetal, é preciso consumir, por exemplo, de quatro a cinco xícaras de couve por dia. Índice que ainda é menos de um terço da necessidade diária.
A nutricionista Marcia Gowdak, diretora do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), afirma que, em geral, a população consome 400 miligramas de cálcio por dia, o que está bem abaixo do ideal.
– Além da perda da massa muscular, que vem com a idade, tem o problema da osteoporose e da osteopenia (fase que antecede a osteoporose) – afirma.
– A gente tem uma geração de pacientes com osteoporose devido à falta de cálcio. O discurso de que não pode usar leite é muito forte – considera Daniel Souto Silveira.
Os defensores do leite também argumentam que a absorção do cálcio por outros alimentos não é a mesma. Marcia Gowdak diz que o índice de absorção proporcionado pela bebida é de 30%, enquanto que o do brócolis e da couve, por exemplo, é de 5%. No caso dos vegetais, é a fibra que diminui muito a capacidade de absorção de cálcio.
– O leite já vem com o pacote completo. Para se obter cálcio, leite é insubstituível – afirma Marcia.
Até agora, quem melhor desempenha o papel de substituto é o leite de soja. Segundo Marcia, há uma série de opções no mercado com a mesma quantidade de cálcio do que o leite de vaca – e que proporcionam a mesma absorção do nutriente pelo organismo. A nutricionista Melissa Diniz considera que é possível fazer equilíbrio de cálcio com sementes oleaginosas (castanha-do- pará, macadâmia, nozes e gergelim), grãos integrais e verdes folhosos (couve, rúcula e espinafre).
– O recomendado é comer três porções de vegetais por dia e variar de cinco a sete folhas por vez. Se tomar um suco verde de manhã, já elimina uma das vezes. E no almoço e jantar consome as outras duas – exemplifica.
Melissa recomenda que a opção para aumentar a absorção do cálcio, neste caso, deve ser feita com a combinação de gordura monoinsaturada e insaturada (azeite de oliva, castanha e gergelim), magnésio (presente nas folhas verdes) e um nível baixo de proteína (encontrado em legumes, frutas e sementes).
– É possível otimizar a absorção de cálcio com uma dieta baseada em frutas, vegetais e sementes. Também dá para simular laticínios vegetais, como leite e queijo de sementes. Com isso, a gente consegue com que nossa memória afetiva com a bebida esteja contemplada – argumenta Melissa.
Resumindo...
Prós
— Tem alta concentração de cálcio, dificilmente encontrada na mesma proporção em outros alimentos
— Tem alta densidade nutricional: mais nutrientes do que calorias
— A gordura do leite aumenta o colesterol bom
— É benéfico para hipertensos
— Produz saciedade
— A versão semidesnatada é recomendada para quem quer perder peso
— A versão integral ajuda na absorção da vitamina D
Contras
— Dois dos principais componentes do leite – lactose e proteína – geram cada vez mais problemas na população
— É de difícil digestão
— Não é mais “cru” como no passado e perdeu probióticos que ajudam na sua digestão
— Produção em larga escala estimula uso de hormônios nas vacas e conservantes no processo de pasteurização
— A versão sem lactose não resolve para quem tem hipersensibilidade ao leite. Tem os mesmos hormônios e aditivos da versão convencional
— Consumo de antibióticos destrói a flora intestinal e aumenta a probabilidade de intolerância à lactose
— Tem muito mais proteína do que o corpo consegue digerir, o que sobrecarrega os rins
A diferença entre leite integral, semi e desnatado
Integral
Tem no mínimo 3% de gordura. Em um copo de leite de 300ml, terá 9g de gordura. Tem gordura saturada, que aumenta o bom e o mau colesterol. Ideal para quem precisa ganhar peso. Ajuda na absorção da vitamina D.
Semi
É o preferido dos profissionais pois mantém a saciedade e não tem o mesmo índice de gordura do integral. Ideal para quem tem hipertensão, colesterol alto e quer controlar o peso.
Desnatado
Tem menos de 0,5% de gordura. Por ser desnatado, o nível de cálcio não está comprometido.