A polícia do Laos, no sudeste asiático, investiga um suposto envenenamento por metanol no caso dos seis jovens que morreram na cidade de Vang Vieng, nas últimas semanas. Os turistas, todos hospedados no Nana Backpackers Hostel, tomaram bebidas alcoólicas que ganharam gratuitamente na cidade.
O metanol é um tipo de álcool usado como solvente em processos industriais. Mesmo em pequenas quantidades, a substância é tóxica ao ser humano, podendo causar dores abdominais, cegueira permanente, coma e até a morte.
Milhares de casos de intoxicação por metanol são registrados todo ano, conforme levantamento da instituição Médicos sem Fronteiras. A taxa de mortalidade é de 20% a 40%, dependendo da quantidade ingerida, do tempo de resposta e do tratamento administrado.
— As principais causas de intoxicação por metanol são exposição no ambiente ocupacional, como no caso de trabalhadores que manipulam a substância, uso de bebidas alcoólicas adulteradas ou exposições intencionais — explica Bruno Pereira dos Santos, toxicologista doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O que acontece no envenenamento por metanol
No caso do Laos, a principal suspeita das autoridades é de que os jovens tenham consumido bebidas adulteradas. O metanol é uma versão mais barata e perigosa do etanol, o álcool resultante da fermentação de frutas e cereais, como no vinho e na cerveja.
O álcool etílico é o único tolerado pelo corpo humano, desde que não seja em quantidades excessivas. Também é o mesmo usado em alguns combustíveis e produtos de limpeza – porém, nesses casos, o etanol é misturado a outras substâncias impróprias para o consumo.
Produtores clandestinos adicionam metanol para deixar as bebidas mais fortes e aumentar o rendimento a baixo custo. Um dos perigos é que os dois tipos de álcool apresentam gostos parecidos, e os sintomas de envenenamento podem demorar de 12 horas a 24 horas para se manifestarem. Ou seja, é difícil saber, no ato, que a contaminação está acontecendo.
O que começa como uma aparente embriaguez comum, com sonolência ou náusea, pode piorar. Santos alerta que o maior risco está no momento em que o corpo começa a metabolizar a bebida:
— No organismo, o metanol será convertido em outra substância, o ácido fórmico. Esta conversão leva a efeitos mais graves, como acidose metabólica. Há uma descompensação no que chamamos de equilíbrio ácido-base no organismo, podendo ser caracterizada por um sangue com pH mais ácido. Se tal situação não é revertida, o quadro torna-se incompatível com a vida.
Entre as consequências da ingestão de metanol estão danos no trato gastrointestinal, cegueira, convulsões e falência renal. Sem o tratamento rápido e adequado, pode levar à morte.
Como evitar e tratar o envenenamento por metanol
Em um infográfico, a ONG Médicos Sem Fronteiras alerta sobre as principais orientações médicas sobre o tema. Os cuidados começam na hora de escolher o que tomar.
Bebidas vendidas de forma legal, em estabelecimentos licenciados, dificilmente estarão adulteradas – e tendem a ser mais caras. Também é importante atentar para rótulos e garrafas. Aquelas com lacre quebrado ou erros na impressão têm mais risco de terem sido modificadas.
Segundo a BBC, envenenamento por metanol é um problema recorrente em países em torno do rio Mekong, na Ásia, como Tailândia, Camboja, Laos e Vietnã. Para o veículo britânico, muitas vezes a causa está associada a produtores que buscam explorar a oportunidade de vender bebidas mais baratas em regiões com pouca ou nenhuma fiscalização sanitária.
Em caso de intoxicação, é fundamental procurar ajuda profissional quanto antes. O tratamento é feito com ingestão controlada de etanol, que funciona como um antídoto contra o metanol. O processo precisa ser feito em ambiente hospitalar.
— A administração de etanol diminui a conversão de metanol em ácido fórmico, que é o principal causador dos efeitos tóxicos — esclarece o doutorando.
*Produção: Caroline Guarnieri